Ainda somos os mesmos!

O US Open 2008 serviu para Serena Williams e Roger Federer anunciarem ao mundo que ainda estão na briga

Arnaldo Grizzo em 2 de Outubro de 2008 às 08:51

Serena Williams

A Revista TÊNIS esteve em Nova York para acompanhar de perto o US Open 2008 e ficou de olho nos fatos e curiosidades que ocorreram durante o evento. Além das vitórias de Serena Williams, que lhe alçou ao topo do ranking, e de Roger Federer, que lhe deixou a um Major do recorde de Pete Sampras, nossas anotações contarão um pouco sobre outros momentos marcantes e inusitados do último Grand Slam do ano.

5 anos, número um de novo
Ninguém duvida da capacidade de Serena Williams. Apesar de "rechonchudinha", a mulher já venceu os quatro Grand Slams na carreira e possui uma força descomunal. E, no US Open, ela e a irmã, Venus, sempre são favoritas. Em 2008, Serena voltou a mostrar o tênis devastador da época em que era número um. Arrasou as adversárias sem piedade. Só sua irmã e Jankovic lhe deram algum trabalho. Por fim, foi recompensada com o terceiro título em Nova York e o topo do ranking, posição que ela não atingia desde 2003. Estes cinco anos de intervalo entre sua retomada da liderança é o maior na história do esporte. Aos 26 anos, ela considera isso um recomeço: "Sinto como se tivesse uma nova carreira, como se fosse jovem e me sinto energizada para jogar a cada semana. Sinto como se houvesse muitas coisas que ainda posso fazer na carreira e nunca senti que tivesse jogado meu melhor tênis." E, se - o que muitos consideram - sobrepeso não atrapalhou, a norte-americana comemorou comendo um cachorro-quente na Times Square. Cuidado com os condimentos, Serena...

Roger Federer

You're still the one
Desacreditado. Foi assim que Roger Federer chegou ao US Open após perder o número um para Rafael Nadal. Desde os primeiros dias os jornalistas buscavam argumentos para comprovar a decadência do suíço. No entanto, quem o acompanhou treinando em Nova York percebeu que ele estava "mordido" e sabia que esta era sua última chance de "salvar" a temporada. No decorrer das partidas, sua confiança parecia voltar e sua mística também ressurgia. Mesmo sem o uniforme preto do ano passado, o tema de Darth Vader (vilão do filme Guerra nas Estrelas) tornou a ecoar no Arthur Ashe Stadium após seus jogos. O DJ foi além e tocou "You're still the one". Enquanto isso, Federer mostrava uma nova faceta em quadra, comemorando efusivamente pontos e especialmente as vitórias. "Emocionalmente estava mais vivo do que nunca", garantiu o suíço, que completou: "Em alguns momentos, senti como se fosse invencível de novo." Após despachar Murray na final, o suíço admitiu: "Perder hoje, tendo três finais e uma semi de Grand Slam, teria sido frustrante. Estar tão perto, mas tão longe, você sente como se tivesse perdido o ano todo, pois semifinais e finais não me ajudam muito mais na carreira. Tudo agora se resume às vitórias, por isso é tão grande. Isso é pesado, realmente, e estou muito, muito feliz com essa conquista. Posso seguir o restante da temporada mais relaxado e aguardar ansioso o próximo ano". Federer se tornou o primeiro na história a possuir cinco títulos consecutivos em Wimbledon e no US Open. Com 13 Grand Slams em simples, ele volta a sonhar em bater o recorde de Pete Sampras (com 14) na próxima temporada.

Jelena Jankovic

Só sorrisos
Em quadra e fora dela, Jelena Jankovic vive exibindo seu lindo sorriso, que virou sua marca registrada, assim como seu estilo de jogo defensivo e de extrema correria. Quem não ri são as adversárias, que perdem a paciência de ver tantas bolas voltando para o seu lado da quadra. Os constantes sorrisos da sérvia levaram à questão: "Não são forçados?" Ela retrucou: "É importante ser você mesma e se divertir lá fora. Nossa vida não é fácil, viajar pelo mundo, ficar longe de seu país, da sua família, das pessoas que você ama, seus amigos, é duro. Temos muita pressão, damos duro, mas também somos seres humanos. Pelo menos, tento me divertir, rir". Mas ela ri tanto porque está perto do número um? "Já estava rindo quando era 1000, mas talvez esteja rindo um pouco mais agora que sou número 1 ou 2". E o bom humor de Jankovic continuou mesmo após perder a final. Despachada, perguntou quanto era o prêmio para a vice-campeã. Na coletiva, vendo alguns jornalistas chegarem atrasados, questionou: "Já me sinto péssima por perder, querem me deixar pior tendo que esperar por vocês?" No fim, sempre brincando, concluiu: "Vou colocar meu salto alto e fazer compras para esquecer a derrota".

Andy Murray

Garoto Prozac
Há algum tempo, Andy Murray se tornou a esperança britânica. Os ingleses, criadores do tênis, depositam neste escocês as chances de voltar a ter um grande campeão. E o menino parece que vai cumprir com as expectativas. Depois de vencer o Masters Series de Cincinnati, ele chegou cheio de moral ao US Open. A cada vitória em Nova York, o entusiasmo crescia. Mas, estranhamente, a imprensa britânica não parecia muito motivada para ouvir o que Murray tinha a dizer nas coletivas. Toda vez que anunciavam o nome do escocês na sala de entrevistas, os jornalistas levantavam calmamente e alguns soltavam no ar: "The Prozac guy (O garoto Prozac)", em referência ao famoso antidepressivo. E não era para menos, toda a energia, gana, eletricidade, que o britânico demonstra para jogar, some quando fala com a mídia. Suas coletivas são monótonas e sonolentas, o oposto de seu jogo, extremamente variado e completo. Vai entender...


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Semelhanças e diferenças
Em 2000, Marat Safin venceu o US Open e foi número um do mundo. Agora, quem está próxima de alcançar suas façanhas é a irmã mais nova, Dinara Safina. A moça vinha bem na temporada e estava entre as favoritas para vencer em Nova York. Uma ventania sem fim e os nervos fizeram com que ela perdesse a semifinal para Serena. Perguntada se ela ainda era a irmã de Safin ou ele passava a ser seu irmão, pois a russa vem em melhor fase, Safina respondeu: "Ainda sou mais a irmã dele do que ele é meu irmão. Para mudar isso, tenho que ter melhores resultados, pois ele tem dois Grand Slams e foi número um. Ainda posso aprender muitas coisas com ele". E Safin, questionado sobre as chances da irmã, foi extremamente sincero: "Acho que se fizer tudo ao contrário do que tenho feito através dos anos, ela será número um por muito tempo. É simples assim".

"The harder they come, the harder they fall, one and all"
A forma de Rafael Nadal está mesmo impressionante nesta temporada. Muitos pensavam que ele chegaria cansado de Pequim, que novamente seus joelhos não agüentariam a seqüência de jogos nas quadras duras e que não se daria bem no US Open. No entanto, mesmo cansado, o rapaz foi à semifinal (perdeu para Murray), o que praticamente o assegurou no topo do ranking até o fim da temporada. Perguntado se em 2009 poderia jogar menos para manter a saúde, Nadal retrucou: "Vocês acham que é possível estar entre os top jogando menos?" Mas, mesmo na ponta, o espanhol sabe que precisa melhorar uma coisa: seu inglês. A imprensa norte-americana ainda sofre em suas coletivas. "Meu inglês ainda é... Bem, é quase perfeito, mas posso melhorar", brincou.

Sem graça
Em 2007 o grande astro do US Open foi Novak Djokovic, que encantou a platéia com suas imitações. Todavia, neste ano, comportado, o sérvio não caiu nas graças do povo. Para piorar, após eliminar Roddick nas quartas, questionou as declarações do norte-americano - que, jocosamente, havia dito que Djokovic insinuava lesões durante as partidas e vivia dizendo que estava com algum problema como "gripe aviária, SARS, Antraz - e tomou uma enorme vaia. "Talvez eles não gostem mais de mim", declarou.

André Sá e Marcelo Melo Novak Djokovic


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Duplas brasileiras
Para variar, a melhor coisa do Brasil no US Open foram as duplas. Desta vez, André Sá e Marcelo Melo tiveram a companhia de outro mineiro, Bruno Soares, que novamente formou parceria com o sérvio Dusan Vemic. Melo e Sá jogaram muito nas duas primeiras rodadas, mas fizeram uma partida terrível contra Sergio Roitman e Tommy Robredo e perderam nas oitavas. Na outra chave, Soares e Vemic tinham tudo para repetir a semifinal que fizeram em Roland Garros, porém, nas quartas, jogaram extremamente mal contra a surpreendente dupla argentina de Maximo Gonzalez e Juan Monaco. Uma pena, no entanto, graças aos mineiros, o Brasil continua tendo jogadores na segunda semana de um Grand Slam

Brasil x Argentina
A entressafra do tênis brasileiro e a boa fase do argentino se reflete também no número de jornalistas no US Open. Enquanto os "periodistas hermanos" são vários, os "tupiniquins" são poucos. E, para a alegria dos nossos vizinhos e nosso desânimo, ocorreram confrontos Brasil x Argentina e sempre com vantagem deles. No primeiro, David Nalbandian atropelou Marcos Daniel. Depois, Thomaz Bellucci deu trabalho, mas caiu diante de Juan Martin del Potro. Até nas duplas eles nos venceram, com Sergio Roitman, Juan Monaco e Maximo Gonzalez. Por fim, até nos juvenis! José Pereira perdeu para Guido Pella na estréia. Tomara que um dia possamos dar o troco.

Lágrimas
O entusiasmo da imprensa argentina no US Open era tremendo e a razão: Juan Martin del Potro. O jovem vinha invicto há 19 jogos e ganhou mais quatro para alcançar as quartas. A cada vitória, o menino quase era sufocado pelos jornalistas de seu país, que formavam um círculo ao seu redor. No entanto, contra Andy Murray, o cansaço bateu e ele não suportou a regularidade do britânico. Na última coletiva, quando seus compatriotas novamente o cercaram, del Potro não resistiu. Emocionado, desabou em lágrimas: "Não posso mais!". Ele foi retirado da sala e a entrevista só foi retomada mais tarde.

"143! 147! 150!"
Os norte-americanos apóiam muito seus tenistas. Um dos mais celebrados é, sem dúvida, Andy Roddick, que mais uma vez parou nas quartas em Flushing Meadows. E atualmente seus fãs encontraram uma maneira curiosa de incentivá-lo. Quando ele se prepara para sacar, começam os gritos: "143, Roddick!" Em seguida: "147, Kid". Ou: "150!" O que é isso? Simples. Sabedores da tremenda potência do saque do garoto, os torcedores pedem para que ele atinja estes números (em milhas por hora) com seu serviço.

Farsa?
A partida entre Venus e Serena pelas quartas-de-final do torneio foi considerada, por muitos jornalistas norte-americanos, como o melhor jogo feminino do ano. No entanto, especialistas de outros países ficaram com uma pulga atrás da orelha quanto a isso. Que foi emocionante, foi. Ninguém nega. Mas, para alguns, o embate talvez não tenha sido tão real. Motivo: as irmãs sabiam que somente Serena tinha chances de se tornar número um ao fim da competição. E o que deixou todos mais encucados foi os diversos set points perdidos por Venus, a maioria em erros pouco convencionais, digamos. Será?

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A volta do saque-e-voleio?
Para os que não acreditam mais que no tênis atual não é possível mais ter sucesso sacando e voleando, Mardy Fish e Giles Muller deram prova de que há sim espaço para esta esquecida arte. Fish desbancou Mathieu, Blake, Monfils e tirou um set de Nadal nas quartas. Muller parou Haas, Almagro e Davydenko antes de dar trabalho para Federer também nas quartas. Alguém mais se arrisca?

Mardy Fish

Desalojado
Giles Muller, de Luxemburgo, saiu do quali e parou nas quartas. Uma campanha surpreendente até para ele mesmo. Sem imaginar que poderia chegar à segunda semana do torneio, não fez reserva no hotel para tanto tempo. Exatamente no dia da partida contra Federer, precisou se mudar. "Recebi uma ligação hoje de manhã e o cara disse que tinha que sair do quarto. Perguntei se podia estender, mas eles não tinham mais quartos, então precisei fazer as malas. Ainda bem que havia vaga no hotel da frente...", contou.

Mulheres à beira de um ataque de nervos
A campeã do US Open 2007, Justine Henin deixou o tênis e, mais do que isso, após sua aposentadoria, a liderança do ranking virou uma batata-quente. Ana Ivanovic chegou à Nova York como cabeça-de-chave número um, mas, com a cabeça cheia de outros problemas - como lesões e atividades extra-quadra -, perdeu logo na segunda rodada. Nunca a principal favorita havia perdido tão cedo no US Open. Sua algoz foi a francesa Julie Coin, 25 anos, estudante de uma universidade nos Estados Unidos, qualifier, 188º do ranking, que nunca tinha disputado um Grand Slam na vida e há pouco tempo havia pensado em desistir do esporte. Sem a bela sérvia, aconteceu algo raro: as quatro semifinalistas podiam atingir o primeiro posto. Elena Dementieva, Jelena Jankovic, Dinara Safina e Serena Williams estavam na briga pelo número um após o torneio.

Japoneses
Já faz alguns anos que a número de jornalistas japoneses no US Open é grande, mesmo que raramente um tenista do país se destaque na chave principal. Neste ano, contudo, os nipônicos foram à desforra. O jovem Kei Nishikori, de apenas 18 anos, que já havia surpreendido o mundo em fevereiro ao vencer o ATP de Delray Beach, foi às oitavas em Nova York, após ganhar de David Ferrer, cabeça 4. Apesar de estar nos Estados Unidos desde os 14, a timidez, típica dos orientais, faz com que seu inglês ainda não seja dos melhores. Antes de responder cada pergunta, o garoto pensa por vários segundos e fala pouco. Mesmo em japonês, suas palavras são comedidas, mas, ainda assim, a imprensa de olhos puxados agradece, pois ganhou um top 100.

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Show business
O US Open é mesmo a Disneylândia do tênis. Tudo lá é festa. Tudo é grandioso. Não é para menos. Só no ano passado, o evento angariou US$ 200 milhões, integralmente revertidos para a USTA . E, se como diz o ditado, dinheiro faz dinheiro, eles não economizam. A festa de abertura deste ano teve o ator Forest Whitaker (vencedor do Oscar de melhor ator em 2007) como mestre de cerimônia, a banda Earth, Wind & Fire e os cantores do musical "Jersey Boys" da Broadway - que conta a história de Frankie Valli e o grupo Four Seasons. Em seguida, para celebrar os 40 anos da Era Aberta, ex-campeões foram chamados à quadra. O último a entrar, Roger Federer, foi aplaudido de pé, honraria que nem mesmo Chris Evert e John McEnroe tiveram. Mas, é bom lembrar que Agassi e Sampras não foram.

Boleira astro
A organização do US Open sempre está preocupada com temas como inclusão social e igualdade de direitos. Tanto que foi o primeiro Grand Slam a equiparar os prêmios de homens e mulheres, em 1973. E, em 2008, pela primeira vez uma pessoa amputada foi aceita como boleiro. Assim, Kelly Bruno, de 24 anos, virou estrela, tema de matéria até no New York Times. A garota estava tão requisitada pela mídia que chegou a recusar entrevistas.

15 segundos de fama
O que faz o US Open ser tão sui generis? Uma das coisas é o ambiente do Arthur Ashe Stadium, maior estádio de tênis do mundo, com capacidade para mais de 23 mil pessoas. Em nenhum outro torneio há música tocando nos intervalos entre os games e dois telões gigantescos que fazem a alegria do público. Tanto que, aparecer nas grandes telas se torna o objetivo principal de muitos dos que vão aos jogos.

God Bless America
Nova York é uma cidade do mundo, dizem. Mas, na verdade, talvez não haja lugar no mundo em que a concentração de bandeiras norte-americanas seja maior. Além disso, em todos os eventos é "obrigatório" cantar alguma música patriótica, mesmo que não seja o hino nacional. Quem já foi ao Brasil Open alguma vez, já deve ter se enfarado de ouvir os axés que se repetem na quadra central do Sauípe, não? No US Open, não é muito diferente. Lá, você se cansa de ouvir "God Bless America (Deus Abençoe a América)" ou qualquer outra música em louvor da "América". Todo ano, vários cantores mirins, de até 12 anos, são selecionados para soltar a voz no Arthur Ashe Stadium.

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Evento família
O norte-americano adora esportes "demorados". O beisebol e o futebol-americano são bons exemplos. Os jogos duram horas e as pessoas vão a estes eventos, geralmente, para passar o dia. No US Open, essa tradição não é diferente. O público costuma chegar cedo, passa pelas lanchonetes, compra diversas coisas e, só depois, vai achar um lugar para acompanhar os jogos. As partidas se sucedem, mas eles ficam lá sentados com seus cachorros-quentes, hambúrgueres e batatas-fritas. Ah, e cerveja também. Muita cerveja.

Presos
Por ter rodada diurna e noturna, no US Open ocorre um fenômeno ímpar. As pessoas ficam presas para fora do estádio. Enquanto a rodada não termina na quadra central, quem comprou bilhete para a noite não pode entrar. Com isso, uma multidão pode ficar horas esperando para tomar seu lugar.

Sold out
Se você pretende ir ao US Open um dia e comprar uma camiseta ou uma lembrança do torneio, fica aqui uma lição: "Faça isso tão logo chegue". Acredite, no fim da primeira semana você simplesmente não encontrará camisetas tamanho P ou M nas lojas. Talvez não encontre nem G, só GG. A febre consumista lá é avassaladora.

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