Quais atitudes de pais e professores podem levar as crianças a abandonar o esporte?
Suzana Silva em 22 de Janeiro de 2013 às 06:00
Causa mais frequente de abandono do esporte ocorre por falta de experiências de sucesso
Pequenos atos podem determinar a continuidade ou não de nossos filhos no esporte, como afirma a tese de mestrado do professor e amigo Eduardo Figueiredo, na qual baseamos este artigo. Começamos mais um ano esportivo, e podemos refletir desde já sobre a maneira como conduzimos a educação através do esporte das crianças, e a orientação da carreira dos atletas infanto-juvenis, sob a ótica da construção de uma melhor percepção de competência pessoal.
As crianças têm diferentes motivações para iniciar e continuar na prática esportiva. De acordo com autores citados na tese, as crianças:
O maior número de crianças que participa de esportes organizados encontra-se entre 10 e 13 anos de idade. A má notícia é que essas crianças vão parando consistentemente de praticar seu esporte favorito até por volta dos 18 anos. A taxa de abandono atinge em média 35% a cada ano, ou seja, de três a quatro em 10 abandonarão o esporte no ano seguinte, a partir dos 13 anos de idade.
Essa evasão se dá por várias razões, entre elas: mudanças de interesses da criança, baixa proficiência na modalidade, pouco divertimento, pressão excessiva, não gostarem do treinador, pelo fato de o treino ser muito duro, por derrotas sucessivas, e pela supervalorização da vitória.
Mas, o que mais chama a atenção no estudo de Eduardo Figueiredo é o fato de que, entre 11 e 13 anos de idade, o abandono mais frequente ocorre por falta de experiências de sucesso. Fracassos afetam a percepção de competência pessoal, ou PCP, e “espantam” as crianças do esporte, como veremos a seguir.
A percepção da competência pessoal (PCP), que pode ser positiva ou negativa, significa como cada um de nós percebe nossa capacidade de realizar tarefas com maestria no meio em que vivemos. Se nos sentimos capazes, nossa motivação para atuar no meio aumenta; se nos sentimos incapazes, nossa motivação diminui.
Na tese, Figueiredo explica que a criança distingue sua competência em domínios distintos (escolar, afetivo, atlético, aparência física e autoconceito), e que já a partir dos quatro anos de idade as crianças começam a expressar suas percepções de competência pessoal. Quatro anos!
A criança faz uma avaliação de sua competência em determinado domínio, adotando um julgamento próprio que a leva a uma orientação motivacional (intrínseca ou extrínseca), e isso influencia sua escolha e permanência nas atividades.
A percepção de competência positiva as leva a se envolverem na atividade por prazer e diversão e a demonstrarem vontade de iniciar e permanecer no esporte, e aumentar as chances de conseguir um bom desempenho. Por isso é tão importante proporcionar experiências de sucesso à criança desde os estágios iniciais do aprendizado do tênis.
Ainda segundo o estudo, atletas com percepção de competência negativa percebem suas performances como sendo de menos sucesso. Desse modo, a falta de diversão decorrente da pouca habilidade esportiva contribui significativamente para o pouco envolvimento em programas esportivos.
As crianças com baixa percepção de competência focalizam objetivos de resultados e vivenciam experiências consideradas estressantes. É bastante comum que crianças com baixa PCP de suas capacidades e desempenho não participem ou abandonem precocemente a prática esportiva.
O autor acrescenta ainda que a avaliação que a criança faz do seu autoconceito (a sua autoestima) influencia na sua percepção de competência. No caso do tênis, quanto mais positiva a autoestima do atleta, maior o despertar de emoções positivas, maior a facilidade para a concentração, maior a influência sobre a meta proposta e maior o esforço despendido, podendo afetar a estratégia de jogo e, consequentemente, seu desempenho.
A percepção de competência pessoal está na base da motivação
O êxito é o sentimento do “eu consigo”, é o sentimento de realização que acompanha o domínio de novas habilidades. O fracasso, por sua vez, é o sentimento de “eu não consigo fazer”, é o sentimento de frustração que acompanha o fracasso no domínio de uma habilidade.
Assim, é importante auxiliar as crianças a desenvolver perspectivas apropriadas de êxito e fracasso em suas vidas diárias, especialmente nos estágios iniciais do aprendizado. Numa ordem de importância, a PCP está na base da motivação: a criança ou atleta se percebe competente, então se motiva para a tarefa, cresce sua autoconfiança, a autoestima e, gostando de si mesmo, é capaz de ser o melhor que puder naquela atividade, fixando metas e perseguindo-as com alegria e afinco.
No ambiente do aprendizado do tênis, os professores contam com ferramentas pedagógicas importantes para manter os alunos com PCP positiva, dentre elas: a utilização das bolas vermelha, laranja e verde e das quadras de tamanho reduzido, a designação de tarefas com desafio ótimo – ou seja, adequadas ao nível de habilidade de cada aluno – e o encorajamento constante.
Os pais também têm um papel fundamental no desenvolvimento da PCP positiva. Como uma criança ou jovem pode ser ou sentir-se competente caso haja sempre alguém que faz as tarefas para ela ou a desencoraja nas brincadeiras? Com crianças pequenas, todos já vivenciamos ou presenciamos comentários do tipo: “Não corre senão cai!”, “Cuidado! Não sobe aí, você vai cair!”, “Deixa que eu faço!”
Já com crianças que começam a competir, ações como carregar a raqueteira, influenciar ou criticar sorteios de chaves; forçar a vitória da criança por WO impedindo-a de vivenciar a oportunidade de competir; não respeitar as regras da competição; fazer as inscrições dos torneios e ver a chamada de jogos para elas, trocar o grip da raquete dela etc, também não contribuem para o fortalecimento da autonomia, autoestima e, consequentemente, da PCP. Evitar esses comportamentos pode significar a diferença entre seu filho continuar ou abandonar o esporte É para parar e pensar...