Em Indian Wells, o "ator principal", Nadal, reinou absoluto. Já em Miami, foi a vez de os "coadjuvantes" Murray e Djokovic mostrarem que podem incomodá-lo
José Eduardo Aguiar em 27 de Abril de 2009 às 11:43
Fora das quadras, artistas, personalidades, músicos e modelos. Dentro delas, os melhores tenistas do planeta brigando por dois dos mais importantes títulos da temporada. Em março (e início de abril), este foi o cenário das cidades norte-americanas de Indian Wells e Miami, que receberam os tradicionais torneios da ATP e da WTA. Além de ver em ação os principais nomes do tênis mundial, este período também serve para analisar as reais condições das grandes estrelas, que terão ainda uma longa temporada pela frente.
Nadal mostrou seu talento... e seu limite
Os especialistas apontavam uma bela briga pelo posto de número um do mundo em 2009. O foco principal era a disputa entre Rafael Nadal e Roger Federer, mas havia quem apostasse que Novak Djokovic, Andy Murray, ou até mesmo Juan Martin del Potro pudessem incomodar a posição ocupada pelo espanhol no topo do ranking.
Porém, frustrando um pouco estas esperanças, Nadal iniciou o ano de forma arrasadora. Venceu o primeiro Grand Slam na Austrália e o primeiro Masters 1000, em Indian Wells, aumentando ainda mais a larga vantagem sobre os rivais.
No entanto, como afirmou a imprensa espanhola: "Nadal também é humano". E como qualquer um de nós, tem um limite. E este limite, físico e mental, chegou para o melhor do mundo em Miami. Ele se arrastou até as quartas, tomando sufoco do português Frederico Gil e do suíço Stanislas Wawrinka. Diante de Del Potro, contudo, sua sorte não foi a mesma.
Grand Slam na mira
Em grande fase desde o final do ano passado, o britânico Andy Murray vem confirmando o bom momento a cada torneio na temporada. A regularidade impressiona, e o jovem já acumula três títulos e uma final em 2009. Se a campanha em Indian Wells - com mais uma vitória sobre Federer, na semi - já bastava para comprovar sua constante evolução, o título em Miami coroou de vez o grande tênis exibido nos últimos meses. Seu estilo é repleto de variações táticas e contra-ataques extraordinários.
Aos 22 anos, este escocês, ainda tímido fora das quadras, já se comporta como um veterano dentro delas. Os mais críticos sempre vão questionar: "E o Grand Slam?" Mas, se continuar neste ritmo, o primeiro Major da promissora carreira não deve demorar.
Agressivo, determinado... Em momento distinto, ainda buscando seu melhor tênis neste ano, Novak Djokovic mostrou muita personalidade nas quatro semanas de torneios nos Estados Unidos - principalmente em Miami. Jogando sempre de forma agressiva, superou dois "traumas" antes de chegar à primeira grande final da temporada. Primeiro bateu o francês Jo-Wilfried Tsonga, que havia o vencido em quatro de cinco partidas. Depois passou por Federer, contra quem só vencera em apenas dois de sete jogos. Apesar da evidente melhora em relação ao começo do ano, terá a árdua tarefa de manter a terceira colocação no ranking, pois defende muitos pontos na temporada de saibro. |
O salvador da pátria
Em uma semana que entrará para a história como uma das mais dolorosas do esporte argentino, graças à humilhante derrota da seleção de futebol nacional por 6 a 1 para a Bolívia, o melhor tenista do país, Juan Martin del Potro, conseguiu amenizar um pouco a dor de seus compatriotas. Delpo alcançou "a maior vitória da carreira", segundo suas próprias palavras, em Miami. Embalado, fez o melhor jogo do torneio contra Nadal. Chegou a estar perdendo por 3 a 0 no terceiro set, mas virou e venceu o "imbatível" espanhol. De quebra, se vingou da derrota para o "Touro" nas quartas em Indian Wells. Na volta à Argentina, foi ovacionado por 40 mil pessoas durante partida de seu time de coração, o Boca Juniors, em plena La Bombonera.
Interminável Roddick
A cada virada de ano, as previsões são cada vez menos animadoras para o dono do saque mais potente do planeta. Porém, com uma regularidade impressionante, o norte-americano sempre se mantém entre os melhores do mundo. Para quem achou que Roddick não tinha mais lenha para queimar, a parceria recém firmada com Larry Stefanki veio para provar exatamente o contrário. O ex-técnico de Fernando Gonzalez botou o garotão de 26 anos para correr, treinou devolução e aprimorou a sua esquerda - ainda o golpe mais vulnerável. Estava difícil de segurá-lo. Só parou em Nadal, em Indian Wells, e em Federer, em Miami. De consolo, o título em duplas na Califórnia, ao lado do amigo e compatriota Mardy Fish.
#Q#Que Federer é esse?
Em qualquer roteiro de cinema, para os coadjuvantes se destacarem, os atores principais têm de sair de cena. Apontados como os principais nomes na briga pela terceira posição no ranking, Murray e Djokovic já começam a sonhar mais alto. Se no final da última temporada a pergunta era se Federer teria condições de brigar pelo número um, agora a dúvida é se o suíço conseguirá se manter em segundo.
Se não bastasse o desempenho abaixo do esperado, uma atitude irreconhecível na partida contra Djokovic ressalta que Federer está com problemas. Considerado o tenista mais elegante do circuito, o suíço voltou aos tempos de juvenil, estraçalhando uma raquete após um erro. Depois, pediu desculpas. O que acontece com Federer? Ninguém sabe. Mas, uma coisa é certa: ele precisa de ajuda.
Não bastasse a estranha atitude, a declaração após a partida mostra o quão perdida está a cabeça daquele que dominou com tanta facilidade o tênis nos últimos anos. Conhecido como "Rei" das quadras rápidas, ele deu graças a Deus que a temporada de saibro está para começar. Será que alguém entendeu? Provavelmente não. Ou Federer está aprontando algo novo para surpreender os fãs, ou as derrotas, antes tão raras, estão começando a fazê-lo perder totalmente os sentidos.
Boicote, críticas e ainda número um
Mais uma vez as irmãs Willians não foram à Indian Wells. Em 2001, após desistência de Venus na semifinal, Serena foi vaiada durante a decisão. A família entendeu o ocorrido como uma ofensa moral e, desde então, as duas não disputam a competição. Já em Miami, fim da moleza. Venus e Serena estavam de volta e eram, como sempre, os nomes a serem batidos. As irmãs venceram seus jogos até se encontrarem nas semifinais.
Nos 19 confrontos anteriores, a mais velha liderava os números com uma vitória de vantagem. Porém, Serena mostrou porque é a número um e empatou o histórico. Na final, sentiu o cansaço e foi presa fácil, mas a primeira posição no ranking - mesmo após protestos contra a WTA - estava garantida.
Mais um nome para anotar Se teve o sonho da primeira grande conquista frustrado por Zvonareva em Indian Wells, na semana seguinte, Victoria Azarenka apresentou um tênis digno de uma top 10. Enfrentar a número um do mundo, jogando em casa, no torneio em que já foi seis vezes campeã, realmente não é uma tarefa das mais fáceis. Porém, com apenas 19 anos, a bielorrussa mostrou toda a sua saúde na decisão. Contra uma adversária cansada e contundida, Azarenka calou a torcida norte-americana. Jogando bem e com consistência desde o início do ano, a garota tem tudo para ter lugar cativo entre as top e, quem sabe, almejar algo mais. |
Ela voltou a sorrir! Sem dúvida, o rostinho de sérvia Ana Ivanovic faz falta às fases finais de qualquer grande torneio. Em má fase que parecia eterna desde o segundo semestre de 2008, a sérvia finalmente conseguiu jogar bem e realizar uma boa campanha. Defendendo os pontos do título de 2008, a ex-número um do mundo voltou a sorrir e chegou à final em Indian Wells. Não conseguiu segurar a embalada Zvonareva, mas abrilhantou de forma que só ela consegue a final do torneio norte-americano. Em Miami, perdeu logo no segundo jogo. Mas tudo bem! Ou alguém tem coragem de reclamar desta simpática garota de apenas 21 anos? |
Até que enfim! Ela já havia chegado à final da Masters Cup e à semifinal na Austrália, mas faltava um grande título para coroar a promissora carreira. Aos 24 anos, Vera Zvonareva teve de fazer duelos contra tenistas promissoras antes de chegar à final diante de Ivanovic. Venceu Caroline Wozniacki, nas quartas, e Victoria Azarenka, na semi. Na final, arrasou Ivanovic e faturou o maior troféu em seus oito anos como profissional. Em Miami, caiu logo cedo, mas a sensação de dever cumprido a levou de cabeça erguida de volta para casa. |