Disciplina

Saiba conciliar a escola com a prática do tênis

É possível realizar ambas as atividades de modo produtivo


 



Não é incomum vermos atletas de todas as modalidades dizendo que não terminaram o ensino fundamental por este ser incompatível com a rotina do esporte. Antigamente, era de causar estranheza que atletas tivessem ensino superior completo. Estas duas palavras, educação e esporte, não eram vistas juntas. Uma independia da outra. Mas os tempos mudaram e a educação, mais do que nunca, é um quesito fundamental na vida de qualquer pessoa.

No tênis, o assunto é complexo e gera muita polêmica. Torneios de tênis são extensos e cansativos, mas valem a pena. A cada vitória, os pontinhos conquistados deixam o corpo e a mente em êxtase, e é difícil voltar à rotina depois de viver tudo isso. Se por um lado o calendário tenístico é denso, não podemos dizer outra coisa do escolar. Matéria nova a cada aula, exercícios que valem nota, provas, estudos, controle das faltas, atividades extracurriculares... as atividades parecem não ter fim. Em 24 horas, chega a ser impossível dar conta de tantos compromissos. Mas como diz um provérbio árabe, "quem quer fazer algo encontra um meio". É possível, sim, unir as duas coisas, e muitos jovens tenistas estão aí para mostrar que para tudo dá-se um jeito.


Como conciliar?

O alagoano Tiago Fernandes, campeão juvenil do Australian Open 2010, é um grande exemplo de maturidade nesse aspecto. Em 2008, aos 15 anos, quando deixou Maceió para ir treinar no Instituto Larri Passos, em Balneário Camboriú, sabia que seria difícil levar o tênis e os estudos juntos, mas, com um pouco de ajuda da escola e bastante força de vontade, conseguiu se formar. "Foi um pouco cansativo, mas, para mim e para a minha família, era uma prioridade terminar pelo menos o ensino médio numa escola com o ensino bom. Lá eles sempre me ajudaram bastante em relação às faltas e datas de prova, mas eu tinha que manter uma rotina de estudo razoável. Era sempre de acordo com meus torneios, tudo bem flexível. No entanto, sempre que eu não estava jogando torneios frequentava as aulas das 7h30 às 12h".




Outro tenista juvenil de destaque, Thiago Augusto Pinheiro, também teve rotina semelhante à do colega de Alagoas. No primeiro ano do ensino médio, quando treinava e estudava em São Paulo, tinha bastante apoio da escola, fazia trabalhos e provas em datas diferentes, que possibilitassem suas viagens, e conseguia fazer as duas coisas concomitantemente. Mas, na metade do segundo ano, Thiago voltou para a cidade de origem, São José dos Campos, e foi estudar em uma escola pública. Lá, segundo Pinheiro, foi mais simples levar os estudos, uma vez que a escola não cobrava muito dos alunos. De qualquer maneira, em uma escola particular ou pública, o maior problema do paulista era pegar o ritmo de aula. "A maior dificuldade foi que, sempre que eu começava a pegar o ritmo dos estudos, frequentar as aulas durante algumas semanas seguidas, tinha que viajar. E quando voltava, simplesmente não sabia o que o professor estava falando. Matéria completamente diferente, assuntos que eu nunca tinha ouvido falar etc". Para conseguir estar em dia com os estudos, a solução encontrada pelo jovem foi, enquanto não estava jogando, pegar a matéria que tinha sido dada com os amigos e estudar por conta própria.


Sem corpo mole

Mesmo com todo o apoio que as instituições dão aos alunos, é importante lembrar que o compromisso primeiro é com a educação. Então, por mais que algumas exceções sejam feitas, principalmente no que diz respeito às datas de provas, o aluno também precisa cumprir com suas obrigações. Irmã Priscilla, diretora do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, onde estudou Flávia Araújo, explica que, por mais que a jovem pudesse fazer provas substitutivas para recuperar as que havia perdido, as regras eram as mesmas para todos os alunos. "Não abríamos muita exceção para a Flávia. Ela podia fazer provas aos sábados, porque algumas vezes estava viajando, mas, assim como os demais alunos, precisava cumprir os 75% de presença. Nós não abonávamos as faltas. Resolvemos ajudá-la porque sabemos que nem todos dão conta de treinar e estudar ao mesmo tempo, e ela se mostrou muito interessada. Ela se destacava e corria atrás do prejuízo. Isso a fez conseguir".

Desde pequena Flávia joga tênis, antes mesmo de começar a disputar torneios, e isso a ajudou a acostumar-se com os horários. Mas, depois que entrou no ensino médio, deparou-se com um sistema totalmente diferente, com outras obrigações, matérias e horários diferentes. "No primeiro ano foi um choque, mas logo deu para recuperar. Eram alguns torneios no começo do ano, então quando eu voltava, dava para assimilar melhor. Já no segundo e terceiro ano, foi muito pesado porque o colégio se volta à preparação para os vestibulares, com diversos simulados, muitos trabalhos e atividades, o que ocupa um grande tempo, interfere nos horários de treinos e no calendário de torneios. Tive que me adaptar".

Para ela, o mais complicado era chegar de viagem e ter prova dias depois, então, precisava ter dedicação total. O colégio sempre se fez disponível para dar aulas de reforço durante a tarde e havia também a ajuda dos amigos, que retomavam com ela toda a matéria dada. Nos trabalhos, a mesma coisa. "Antes das viagens, os professores me adiantavam alguns materiais e trabalhos, então eu entregava antes. Durante as viagens, costumava levar os livros literários para adiantar, e sempre que uma atividade era designada com certa urgência, eu recebia e-mails de como realizá-la, e enviava", explica Flávia.

 




Motivação extra

Para Maria Fernanda Alves, o apoio dado pela escola não motiva o aluno apenas a estudar e continuar sua educação, mas também a prosseguir treinando. Tirando notas boas e sabendo que o esforço vale a pena, o tenista tira da cabeça problemas mais cotidianos e consegue focar-se no jogo.

Durante o período em que estudava, Nanda tentava não perder muitas aulas. "Nessa época de escola e de tenista juvenil meu o calendário de torneios não era tão extenso. Eu selecionava os torneios mais importantes e próximos da minha cidade para não faltar muitos dias de aula e poder conciliar as duas coisas". Hoje, ela dá sequência ao estudo e cursa administração em uma universidade de educação à distância. Atualmente, algumas tenistas como as irmãs Williams, Ana Ivanovic e Maria Sharapova investem em estudos à distância para ter uma formação mais completa.


Vivência

Tão importante quanto o estudo em si é a vivência que a escola proporciona aos jovens. O ambiente escolar e a integração com outros adolescentes e crianças são essenciais para que meninos e meninas cresçam saudáveis e tenham noção da realidade e sociedade em que estão inseridos.

"Hoje mesmo passo por situações que encontrei no colégio e sei lidar com isso, tanto com coisas mais voltadas para conteúdo acadêmico quanto a vivências, experiências do dia-a-dia. O colégio lhe oferece vários valores importantes para vida, e enquanto os assuntos e interesses mudam, os professores se relacionam muito mais com os alunos, se identificam mais nessa fase de colegial, o que eu considero muito importante por ser uma experiência que você levará para a vida", aponta Flávia Araújo.


O papel dos pais

No caso dos estudos, em especial, o papel dos pais é de suma importância. A hierarquia das coisas tem que estar muito clara na cabeça das crianças. Nada é mais importante do que ter uma educação boa e completa.

Os pais devem aconselhar seus filhos e estar sempre alertas, para ter certeza de que o estudo não está sendo prejudicado. É preciso ficar atento não só nas notas, mas no comportamento dos jovens dentro e fora da sala de aula e reparar se está havendo alguma sobrecarga emocional.

Nessa idade tudo é muito relativo e intenso, então é preciso que haja um adulto que elucide as questões para o filho. Aos 16 anos, Ídio Escobar desistiu de estudar por querer treinar em período integral. Agora, lamenta a decisão. "Não tive ninguém para me aconselhar e fui no embalo, decidi parar. Só hoje eu vejo que poderia ter corrido atrás, ter estudado, procurado alguma escola à distância".

Carolina Almeida

Publicado em 1 de Janeiro de 2016 às 18:34


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