Balanço US Open

Modesto e, ao mesmo tempo, promissor

Brasil não passa da segunda rodada em NY, mas volta a colocar quatro representantes na chave de um Grand Slam com destaque para Feijão e Rogerinho


A participação brasileira em Flushing Meadows foi breve, mas ficou longe de ser passageira. Conseguimos colocar quatro jogadores na chave principal, um feito que não se repetia desde Roland Garros há dois anos. Mesmo que a precoce derrota do nosso número 1 tenha doído e deixado sequelas para os eventos por vir, foi de se destacar a participação de nossos "coadjuvantes", que, de certa forma, protagonizaram grandes momentos no US Open 2011.

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Número 1 do Brasil, Bellucci decepcionou e ficou na estreia do último Grand Slam da temporada

Primeiro, veio a chave qualificatória onde Feijão e Rogerinho se colocavam entre os favoritos (primeiro e quinto cabeças de chave, respectivamente) para ficar com a vaga para o quadro principal. Caso conseguissem, seria o primeiro Grand Slam de suas carreiras.

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Rogerinho teve sorte e entrou na chave como lucky loser em NY
Três rodadas depois, Feijão estava lá. Confirmou o favoritismo e, com 23 anos, sentia o gostinho de fazer parte dos 128 jogadores em um torneio de tal porte. Por sua vez, Rogerinho "ficava" pelo caminho ao perder para o ucraniano Sergei Bubka (filho da lenda do salto com vara de mesmo nome) na última do quali. Frustração? Apenas momentânea, talvez. O paulistano ficaria mais cinco dias em Nova York assinando a lista dos lucky losers (perdedores da última rodada do qualifying que poderiam entrar na chave caso houvesse desistências).

Quarta-feira era o prazo máximo para Rogerinho - caso nenhum atleta desistisse até as 11h (início das partidas) daquele dia, ele poderia voltar para casa. Porém, a sorte, quem diria, sorriu para o batalhador que sempre passou pelas dificuldades da vida de um tenista.

Sem patrocínio fixo, Rogerinho era recompensado com uma verdadeira "chance de ouro" - Soderling nem avisou de sua retirada à organização e, às 10h45m, Rogerinho era escalado para entrar no Grandstand, a terceira maior quadra de Flushing Meadows, para enfrentar o irlandês Louk Sorensen. Assim como o paulistano, o adversário havia passado pela fase prévia e apenas ocupava a 618ª posição do ranking. Sorte dupla? Não, tinha mais do que isso.

Rogerinho fazia bonito e vencia por 2 sets a 1 (com direito a pneu na primeira parcial) quando Sorensen desistiu no começo do quarto set alegando câimbras na mão. Que dia! Nascido virado para a lua? E quem disse que os campeões não precisam de sorte?!

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No US Open, Feijão passou pelo quali e estreou na chave de Grand Slams
E não é que o "quase" morto se tornou o único representante nacional na segunda rodada nos EUA? Feijão estreou diante do local Robby Ginepri que, mesmo estando fora do top300 já havia sido número 15 do mundo e fez semifinais ali em NY há seis temporadas. A ansiedade pela primeira partida em uma chave de Major foi maior do que o esperado e a experiência do americano falou mais alto nos momentos importantes e, mesmo levando um set, o paulista de Mogi das Cruzes dava adeus à competição, mas com a certeza de que havia marcado seu lugar nos quatro maiores eventos do mundo.

Por sua vez, Ricardo Mello não reclamou da falta de sorte que levou no sorteio da chave. Talvez a mesma sorte que favoreceu Rogerinho na semana, faltou para o campineiro uma sete dias antes quando caiu para enfrentar Gilles Simon. Diante do atual número 12 do mundo e um dos tenistas mais regulares do circuito, Mello teria que se superar para vencer o indigesto francês. O começo foi animador - um 6/3 com muita propriedade.

No entanto, Simon pareceu incomodar o brasileiro com as longas trocas de bola do fundo da quadra, os erros vieram e Mello já se via dois sets atrás (3/6 e 4/6). Quando se pensava que o jogo estava totalmente para o lado europeu, o tupiniquim mostrou o porquê de se sentir tão bem no US Open, local de sua melhor campanha em Grand Slams (terceira rodada em 2004), e levou o jogo para o set decisivo (6/4).

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Apesar da derrota para Simon, Mello jogou um tênis de primeira linha em NY
A quadra estava cheia e o duelo parecia um jogo de Copa Davis, um game para um lado, chances desperdiçadas do outro, várias trocas de bola, variações e... Simon foi mais preciso nos instantes decisivos e fechou o jogo com 6/4 na última parcial.

Mas Mello mostrou seu valor, muitas vezes, não reconhecido pelo fanático e injusto torcedor brasileiro - um jogador de 30 anos, experiente no circuito e vencedor de ATP, se trata do jogador que mais chegou perto de derrotar o cabeça 12 em Nova York. A essa altura do campeonato, Simon já passou por Garcia Lopez e Juan Martin Del Potro, campeão do torneio em 2009 e ex-top4.

Com mais uma semana pela frente e ainda o mineiro Bruno Soares nas duplas mistas (já que perdera ao lado de Marcelo Melo no masculino) e os juvenis na disputa, o US Open ajudou o tênis brasileiro a ter esperanças para o futuro. Por mais que a Davis esteja chegando e as chances serem pequenas diante dos russos num piso rápido e coberto, Mello parece ter carimbado sua vaga como segundo simplista no confronto por toda sua história em Nova York.

Mesmo com uma fraca campanha no piso duro dos EUA, Thomaz Bellucci será nosso principal jogador em Kazan e nossa esperança é que o pupilo de Larri Passos se recupere e nos surpreenda com uma boa atuação frente aos europeus, bicampeões do torneio entre nações. Feijão aparece como opção para a Davis, mas precisa claramente de mais experiência em duelos de cinco sets e da magnitude que é uma Copa Davis. A aparição nos torneios da Ásia no final do ano deve ser um caminho certo para o comandado por Ricardo Acioly.

Marcelo Ruschel/ POA Press
Brasil voltou a fazer bonito nos Majors e quer manter boa fase na Davis e no circuito
E a caminhada do "sortudo" Rogério Dutra da Silva, que usa o nome no diminutivo mas está longe de querer pouco? A segunda rodada no US Open (ao perder para o americano Alex Bogomolov Jr em sets diretos) foi um bom sinal ao jogador de São Paulo. Próximo do top100, Rogerinho tem poucas chances de compor o elenco da Davis daqui a duas semanas pelo estilo ainda mais propício às quadras lentas, porém tem as portas abertas para deixar sua marca na temporada.

Mais alguns bons resultados em Challengers no saibro sulamericano ou campanhas razoáveis nos ATPs em quadra dura o colocaram dentro dos 100 melhores. Para Mello, o caminho parece ser parecido e a confiança parece que voltou ao natural de Campinas. Quatro brasileiros, um desempenho modesto pelos resultados, mas que pode fazer do Brasil uma nova e emergente potência do tênis a curto prazo!

Matheus Martins Fontes

Publicado em 4 de Setembro de 2011 às 21:30


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