Política FPT

Enfim uma disputa na paulista?

A Federação Paulista de Tênis é a mais rica das federações nacionais e, depois de 12 anos, novamente apresentará uma disputa de poder


A ÚLTIMA ELEIÇÃO COM DOIS candidatos para a Federação Paulista de Tênis ocorreu há exatos 12 anos. Em 2000, José Arana e Raul Cilento disputaram o cargo mais alto da principal federação de tênis do Brasil - que, na época, dizia-se ser mais rica do que a CBT. Cilento, que já estava no poder desde 1994, venceu e ficou até 2004. No ano seguinte, seu vicepresidente, Paulo Campos - que acabou eleito por aclamação - assumiu a posição, reelegeu-se novamente sem concorrência e agora tenta um terceiro mandato.

A eleição para o próximo quadriênio, a começar em 2013, está marcada para dia 5 de julho, uma quinta-feira, com primeira chamada às 19h na sede da Federação (caso os 91 clubes filiados com direito a voto estejam representados), e segunda chamada às 20h30 (se não houver a presença de todos, decide-se o eleito por maioria simples dentro dos presentes). Neste ano, contudo, Campos terá um concorrente. O ex-superintendente da Federação, Luiz Fernando Balieiro, desligou-se do cargo e apresentou uma chapa para a disputa.

NÃO VALE NADA?

É de se estranhar que poucos (ou ninguém, no caso) tenham se disposto a pleitear o cargo nos últimos anos. Mesmo considerando que dirigentes de entidades esportivas não são remunerados, a Federação Paulista deveria atrair o interesse, já que é a mais representativa do País e conta com um orçamento estimado em mais de R$ 2 milhões anuais (os números não são divulgados publicamente).

No entanto, desde 2000, apenas um (José Arana) tentou cessar o continuísmo que se vê na Federação - que vem, na verdade, desde 1990, com Nelson Nastás (o ex-presidente afastado da CBT), que deixou o cargo em 1994, sendo substituído por Cilento, que depois o passou a Campos.

Falar sobre eleição na Federação é sempre um assunto complicado de discutir e mesmo representantes dos clubes preferem não se pronunciar sobre apoio a um ou outro candidato, ainda mais diante da possibilidade de a votação ser aberta (se é aberta ou fechada, decide-se na hora do pleito, já que não há regra no estatuto). Ou seja, sempre há o medo de retaliações (infundadas).

Este primeiro "pleito concorrido" em 12 anos tem por trás o descontentamento dos tenistas e clubes (estima-se que em 2003 havia mais de 7 mil tenistas filiados ativos e cerca de 170 clubes representados, com 60 mil inscrições/ ano de torneios, números que caíram nos últimos anos e continuam caindo) com a atuação (ou seria falta de atuação?) da Federação. Diante dessa situação, o que os dois candidatos têm a dizer?

Luiz Fernando Balieiro

Como você vê a atuação da Federação nos últimos anos? O tênis paulista evoluiu nos âmbitos do tênis amador e profissional?
Vejo que a FPT regrediu nos últimos anos, hoje os números são preocupantes. Atualmente temos cerca de 3.500 filiados ativos (que participam de torneios), contra 6.500 em 2005, aproximadamente 20 mil inscrições/ano, contra 35 mil em 2005 e, por fim, temos 91 clubes filiados contra cerca de 150. Aliado a tudo isso, estamos distantes dos clubes e academias filiadas e mais distante ainda dos técnicos e professores.

Quais (devem ser) as prioridades da Federação?
Em primeiro lugar ter "transparência", publicar balanços trimestrais divulgando a situação financeira da entidade e profissionalizar a gestão remunerando seus dirigentes. Não cabe mais em uma entidade séria admitir que um dirigente que trabalha cerca de 10 horas por dia, cinco dias por semana, e que no ¬finais de semana ainda visita torneios etc, não tenha a devida remuneração (que está prevista por lei). Além disso, o incentivo ao tênis amador, o fomento à implantação de políticas de incentivo para difundir o tênis nas escolas, para criar uma base de praticantes, a capacitação de técnicos e professores de tênis, a reciclagem dos árbitros que atuam nos diversos torneios. Com isso atendemos os clubes, que são a base da entidade.

Como incentivar a prática de tênis e atrair mais jogadores federados? Houve evolução ou diminuição no número de tenistas filiados nos últimos anos? Se houve diminuição, o que fazer para reverter o quadro?
Houve diminuição de tenistas filiados a FPT, mas não acredito que tenha diminuído o número de praticantes no estado. Para atrair novos tenistas temos que, em primeiro lugar, estreitar nossa relação com os técnicos dos clubes e saber os porquês de os seus jogadores não quererem mais jogar nossos torneios. Penso que a política de preços seja uma das maiores barreiras. A FPT se tornou ao longo dos anos uma entidade estritamente arrecadadora de recursos, não se importando com a qualidade dos seus eventos e nem em ter preços compatíveis com cada região do estado. Na minha gestão implantaremos bases regionais, com gestores para ajudar a mapear os problemas e, com isso, aumentar o número de filiados. E, por fim, rever a política de preços de anuidades que o filiado paga e baratear a inscrição em torneios. Os torneios devem ser auto-suficientes, para isso, com a ajuda dos organizadores, vamos definir e cobrar padrões de qualidade para que eles sejam atrativos para patrocinadores regionais. No cenário esportivo atual, é fundamental que os eventos esportivos sejam ótimos para o público, organizadores e patrocinadores. Diversificar receitas pode ser uma alternativa para baratear as inscrições.

O sistema de torneios federados e interclubes hoje é o ideal? O que falta melhorar? Os torneios cumprem os seus propósitos?
Sempre podemos melhorar a forma de disputa nos torneios, implantando, para algumas categorias, diferentes formas de disputa. Como na minha gestão descentralizaremos a o comando, poderemos, em conjunto com os técnicos, criar a forma ideal para nosso estado. O interclubes é um excelente torneio, só está com as taxas cobradas extremamente elevadas, inviabilizando assim que mais clubes possam participar. Temos que reavaliar o propósito dos torneios, hoje em dia tem muito torneio com objetivo meramente financeiro, que serve somente para preencher vazios na grade de horários de academias filiadas.

Criar centros de treinamento pode ser uma opção ou é algo de âmbito e preocupação só da CBT?
No momento deve ser preocupação da CBT, temos que recuperar a entidade, no sentido de devolver ao nosso tenista o "orgulho" de ser federado e jogar um torneio da FPT. Assim que esta etapa for concluída podemos pensar em um Centro de Treinamento, quem sabe em conjunto com a CBT. Apesar de não ser nossa função estatutária formar jogadores de alto rendimento, penso que São Paulo é muito importante para não dar atenção a esses tenistas.

Como a Federação pode ajudar os clubes de São Paulo a incentivar a prática?
Criando condições para que seus profissionais possam estar aptos a dar a melhor orientação aos seus associados, capacitando regularmente, sem custos, os técnicos dos clubes.

Há algum trabalho que possa ser feito para incentivar o tênis juvenil (de formação e pré-profissional) nos clubes?
Sim. Se você tem uma Federação com gestão "transparente", terá mais chances de conseguir parcerias com empresas da iniciativa privada para montar um programa para ajudar os clubes. Volto a dizer que tudo passa pela aproximação dos clubes com a FPT.

Como são (devem ser) as interações entre a Federação e a CBT? Em quais pontos uma pode ajudar a outra a se desenvolver?
Devem ter políticas alinhadas. A FPT é a maior entidade do tênis brasileiro e não tem como ficar distante da CBT. Os pontos são: cooperação técnica, alinhamento de calendário e metodologia de ensino, política conjunta de captação de novos parceiros, entre outras coisas.

Paulo Campos

Como você vê a atuação da Federação nos últimos anos? O tênis paulista evoluiu nos âmbitos do tênis amador e profissional?
A atuação da FPT é boa. Nos últimos anos, resgatamos a credibilidade dos clubes, árbitros, professores e tenistas. Na vertente econômica financeira, foi a custo de pulso forte e muito critério que conseguimos sanear as contas. No início da nossa gestão, a FPT se encontrava com patrimônio líquido negativo e bastante representativo (o equivalente à falência técnica). Hoje, a entidade se encontra estável e consolidada. O tênis paulista amador se manteve estável nos últimos quatro anos. Sempre tivemos um cuidado especial com os torneios e sua organização, a inclusão de bolas novas em todos os jogos... Julgamos a capacitação de árbitros e professores através de cursos promovidos por nós e pela CBT, ponto crucial e importante para o desenvolvimento do tênis paulista. Embora o tênis profissional não seja o nosso principal foco, realizamos anualmente uma série de Futures (média de cinco por ano), visando a ascendência dos tenistas que estão passando pela transição entre o juvenil e o profissional.

Quais (devem ser) as prioridades da Federação?
Nosso principal desafio é a regionalização do tênis no estado. Esse processo foi iniciado no final de 2010, implementado em 2011 e continua em desenvolvimento este ano, visando aumentar o número de praticantes, como já conseguimos no Vale do Paraíba, nas regiões de Ribeirão Preto, Sorocaba, entre outras. Em contrapartida, na capital, estamos estudando e discutindo melhorias no regulamento do Interclubes, um dos nossos principais eventos. Nos torneios abertos estamos avaliando modificações a serem introduzidas em 2013. A parceria com os professores de tênis também é uma das prioridades. Federação e professor têm que trabalhar com propósitos comuns.

Como incentivar a prática de tênis e atrair mais jogadores federados? Houve evolução ou diminuição no número de tenistas filiados nos últimos anos? Se houve diminuição, o que fazer para reverter o quadro?
A regionalização e as melhorias no regulamento do Interclubes e dos torneios abertos vão trazer novos tenistas à FPT. A aproximação da FPT com condomínios, ligas e todos os segmentos do tênis que ainda não estão ligados à entidade, em parceria com os professores de todo o estado, também poderão nos ajudar a aumentar esse número. Houve diminuição sim, não representativa, nos últimos anos. Podemos apontar alguns fatores como o "boom" imobiliário, que acarretou no fechamento de várias academias, principalmente na capital; clubes do interior com grandes dificuldades financeiras; a concorrência de outros esportes e atividades. Cabe destacar que, efetivamente, houve uma diminuição do número de clubes e tenistas filiados, contudo, tal situação não privou a administração de perseguir suas conquistas e obter resultados expressivos em diversas vertentes.

O sistema de torneios federados e interclubes hoje é o ideal? O que falta melhorar? Os torneios cumprem os seus propósitos?
O processo de organização dos torneios está em constante evolução, pois a FPT tem preocupação em ouvir todos os envolvidos, buscando sempre o desenvolvimento. O Interclubes, como disse, é um dos principais e mais importantes eventos do calendário da FPT, que movimenta um número significativo de tenistas e que merece a atenção devida. Os torneios cumprem seus propósitos, mas estamos buscando melhorias visando principalmente a satisfação do tenista, nosso maior cliente.

Criar centros de treinamento pode ser uma opção ou é algo de âmbito e preocupação só da CBT?
Consideramos que a criação de centros de treinamento seja uma atribuição da CBT, mas a FPT está à disposição para colaborar. O estado possuiu vários locais apropriados para os centros.

Como a Federação pode ajudar os clubes de São Paulo a incentivar a prática?
Criando condições para que os clubes promovam torneios que atraiam a atenção do tenista, envolvendo também os professores que incentivam a prática e preparam o tenista para a disputa.

Há algum trabalho que possa ser feito para incentivar o tênis juvenil (de formação e pré-profissional) nos clubes?
Não podemos interferir no processo interno dos clubes e academias. O papel da FPT é realizar torneios de qualidade como a Copa São Paulo, o Circuito Paulista, o Circuito Passaredo, enviar equipes completas para a Copa das Federações, com treinadores em todas as categorias, e a regulamentação dos torneios.

Como são (devem ser) as interações entre a Federação e a CBT? Em quais pontos uma pode ajudar a outra a se desenvolver?
Sempre tivemos uma conduta de extremo respeito à CBT. O tênis paulista é um celeiro de tenistas. Por isso, a FPT tem a obrigação de ceder seus melhores jogadores aos projetos da CBT, principalmente agora que a entidade iniciou vários projetos infanto-juvenis. O ideal é sempre trabalharmos juntos em prol do tênis brasileiro.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 22 de Junho de 2012 às 08:05


Notícias

Artigo publicado nesta revista

A redenção de Maria

Revista TÊNIS 105 · Julho/2012 · A redenção de Maria

Confira os bastidores dos títulos de Nadal e Sharapova em Roland Garros