Parceria benéfica

Como o jogo de duplas pode ajudar em seu desempenho no simples

Confira o que a modalidade pode agregar na sua performance


Ron C. Angle/TPL

Durante anos, tenho mantido um segredo tenístico. Um segredo que cria problemas para mim diante dos meus amigos, sem mencionar algumas lendas do tênis. Isso me manteve longe das quadras vagas das segundas semanas dos Grand Slams e fez com que eu recusasse diversos convites de bons tenistas amadores para jogar. Nunca admiti isso, mas recentemente deixei isso às claras; o primeiro passo para superar um problema é admitir que você tem um problema.

Então, aqui está o meu segredo nebuloso: Eu odeio jogar dupla! Você pode pensar que isso é um exagero, que na verdade quero dizer que não odeio as duplas, mas que prefiro as simples. Gostaria que fosse esse o caso, porém, a verdade é que não suporto as duplas. Sim, joguei duplas inúmeras vezes, inclusive durante alguns longos anos em que participei de um grupo aos sábados. Contudo, mesmo naquela época, quando era sincero comigo mesmo, tive de admitir que nunca desfrutei daquilo.

Minhas razões para isso são de duas categorias. A primeira é a tradição social que sempre acompanha as duplas: tratando o aquecimento e as trocas de lado como se fossem coquetéis de amigos, com piadas depois de alguns erros não forçados, as risadas. Se eu quisesse esse tipo de coisa num sábado de manhã, eu iria para um brunch, não para a quadra.

Dois melhor que um? 
No entanto, mesmo sem essas perturbações chatas, as duplas simplesmente vão contra a essência de todas as coisas que eu amo ao jogar simples, nominalmente o fato de o jogador está lá por si só - como na vida, caso você queira entrar na filosofia da coisa - e é colocado à prova como pouco esportes podem lhe colocar como indivíduo. Um competidor de simples é dependente do seu QI tenístico, sua malícia e tenacidade - e nada mais, nem ninguém. Aprecio isso como espectador e acho isso viciante como um competidor.

Todavia, adicione um jogador a mais de cada lado da rede e todos esses fatores vão desaparecer. Quase pior do que perder essa tensão existencial, sempre achei a presença de um parceiro um fardo terrível, impedindo-me de jogar meu próprio jogo, de estar na quadra à vontade é assumindo os riscos que quiser. Não quero ter que hesitar antes de arriscar, ou me desculpar por um erro. Pior ainda são as vezes em que você joga ao lado de um autoproclamado "ditador das duplas", como um procurador de justiça que passa os primeiros 20 minutos de um jogo mandando que eu "vá para a rede!" em todo o ponto, como se eu fosse um lacaio.

Como espectador, fora os raros pontos rápidos disputados na rede, não gosto sequer de ver os melhores duplistas do mundo competindo - nem mesmo os irmãos Bryan, que são nada menos que a parceria mais vitoriosa da história. Com exceção do essencial jogo de duplas da Copa Davis, não me lembro da última vez que assisti a uma disputa dessa modalidade. Com frequência, aproveito esse momento para pagar as contas, passear com o cachorro enquanto espero as partidas de simples começarem.

Uma chance para as duplas
Ainda assim, há aquelas pessoas - muito mais sofisticadas e realizadas do que eu - que exaltam as virtudes das duplas. Em seus comentários na tevê, John McEnroe sempre lamenta que cada vez mais os tenistas top de simples não se aventuram nas duplas. Em uma entrevista recente, Martina Navratilova, a lenda, disse-me que as duplas melhoram tudo, desde a coordenação mão-olho até jogar com ângulos diferentes e o modo de pensar em quadra. "Você precisa pensar rápido, pois as situações mudam rapidamente dependendo do que seu parceiro faz ou do que seus oponentes fazem", ela me falou. "E aprende a jogar os pontos importantes. A janela de oportunidade é muito menor numa quadra de dupla".

SEJA COMO OS BRYAN
Bob e Mike Bryan são os melhores duplistas do mundo.
Paul Annacone revela as três razões para isso

1 - ELES SABEM OS SEUS PAPÉIS
"As melhores parcerias consistem de tenistas cujas habilidades se equilibram um com o outro e cujos jogadores conhecem seus respectivos papéis na dupla. Bob e Mike Bryan são bons exemplos disso. Mike é um pouco mais estável e sólido, enquanto Bob, que tem um ótimo saque de canhoto e um forehand mais forte, é o mais explosivo dos dois. Essas diferenças não são enormes, mas permitem aos irmãos ajudarem um ao outro durante os pontos. Outra coisa a considerar na hora de formar uma dupla é a personalidade - tenistas intempestivos sempre trabalham bem ao lado de tipos mais calmos", diz Annacone.

2 - ELES TRABALHAM JUNTOS
"Boas parcerias entendem que grande parte do sucesso das duplas é a boa vontade de escolher golpes que ajudarão seu parceiro em seus pontos fortes. Para aqueles acostumados com as simples, isso pode ser um desafio. Você também precisa olhar para os lados da quadra onde você e seu parceiro devolvem o saque. Já que seis dos oito pontos que podem definir um game - 40/0, 0/40, 40/30, 30/40 e vantagem a favor e contra - são jogados no lado da vantagem, o tenista mais sólido, e não necessariamente o com melhor backhand (caso ambos sejam destros), deve devolver daquela posição. Você vai colocar mais devoluções na quadra no longo prazo, o que vai se traduzir em mais quebras de saque".

3 - ELES SE COMUNICAM
"Os Bryan conversam antes e depois de cada ponto para combinar a jogada. A informações básicas que você deve comunicar ao seu parceiro é onde você pretende sacar e sua devolução, e o que você quer que ele faça depois disso. Pode-se dizer: 'Vou sacar no meio e você vai cruzar', ou 'Bata a devolução na pessoa da rede e eu vou na direção do centro da quadra'. Os Bryan também comunicam bem seu entusiasmo. Ele trazem grande energia para a quadra e ajudam um ao outro a ficar positivo. Você raramente verá um deles fazer uma careta quando o outro comete um erro. Também não vai ver nenhum deles se mostrar desgostoso com a forma como o outro está jogando"

 

No começo deste ano, decidi confrontar minha aversão às duplas de cabeça em pé para dar ao meu jogo uma chance de tratá-lo mais seriamente do que nunca. Combinei uma clínica particular para mim e meus amigos com Anne Hobbs, no Roosevelt Island Racquet Club, em Nova York. Hobbs foi número um da Inglaterra e três vezes nalista de duplas em Grand Slams e atualmente dá aulas da modalidade para grupos.

Fotos: Ron C. Angle/TPL

Passamos a primeira hora das duas programadas fazendo vários drills: voleando na cruzada na direção de cones que Hobbs posicionou dentro da linha de base; disputando pontos elaborados para botar pressão no jogador do fundo da quadra; e assim por diante. Enquanto fazíamos isso, Hobbs explicava as razões de cada exercício, esmiuçando o jogo de uma maneira que nunca tinha visto antes. Por exemplo, discutindo o papel específico que é assumido por cada tenista durante o jogo quando estão sacando, recebendo, quando funcionam como parceiro do sacador, ou como parceiro do recebedor.

Hobbs - que diz ter aprendido ao analisar os melhores jogadores da sua época (John McEnroe, Billie Jean King, Martina Navratilova, Pam Shriver e Wendy Turnbull) - ensinou-nos que, nas duplas, você deve estar preocupado com o tenista que está na cruzada, e em "pôr pressão no adversário por meio da consistência e jogo de alta percentagem de acertos". Mesmo os maiores tenistas jogavam os pontos importantes dessa forma. "Tenistas amadores precisam jogar com alto percentual de acertos para criar a confiança por meio da consistência e permitir aos oponentes errar algumas bolas", disse Hobbs. "Nos pontos importantes, é essencial acreditar na fórmula de jogar na cruzada, e/ ou com alto percentual de acertos".

Entenda a lógica das duplas
Esses dois tópicos foram reveladores para mim. Nunca reservei um tempo para aprender a estratégia de duplas além dos seus elementos mais essenciais: ficar responsável pelo seu lado da quadra, tentar dominar a rede e me comunicar com o parceiro - o que, para mim, não ia além dos gritos clássicos: "Minha!" e "Sua!". Quando meus companheiros de aula e eu começamos a jogar um jogo de verdade, percebi que minha maneira de lidar com as duplas era comicamente simplista. Sempre pensei no jogo de duplas da mesma maneira que nas simples, com a diferença que havia duas pessoas de cada lado. Com a área de atuação na quadra diminuída pela presença do outro, eu fazia coisas desaconselháveis taticamente, como bater golpes de fundo na paralela, tentando acertar o mínimo espaço entre o tenista que está na rede e a linha do corredor de duplas.

Quando tentei essa jogada durante a aula - errando lateralmente, é claro -, Hobbs parou a partida e explicou que não posso ter essa sensação nas duplas ("Excesso de empenho", foi como ela chamou). Meus amigos e eu concordamos. Nunca tinha percebido que tinha esse sentimento até que ela o analisou para mim, mas era verdade.

Enquanto continuamos jogando, rapidamente comecei a me sentir confortável com o quadro que Hobbs desenhou - acreditar nas decisões com alto percentual de acerto e volear e golpear na direção de regiões determinadas em cenários específicos. Aliviado da minha vontade de bate um winner rapidamente, percebi que minha tolerância aos golpes - o número de batidas na bola antes de tentar nalizar o ponto - poderia crescer se eu jogasse mais duplas.

Ron C. Angle/TPL

Depois dessas aulas, meus problemas com a modalidade regrediram. Não sabia que poderia aprender a amar as duplas, mas senti que dominar esse jogo poderia ser um meta interessante. Muito da minha insegurança com as duplas vinha da minha falta de entendimento: jogar bem duplas não tinha tanto a ver com jogar o meu jogo como se estivesse jogando-o corretamente. Também percebi que minha aversão às duplas refletia uma falha inerente do modo como via as simples: um atrativo para táticas de alto risco que podem satisfazer com uma descarga de adrenalina, porém mais frequentemente lhe deixa bravo quando ela não funciona.

Decidi que deixaria espaço na agenda para as duplas. Pela primeira vez, vou respeitar as duplas da forma correta.

 

CINCO DICAS PARA SE TORNAR UM JOGADOR DE DUPLAS MELHOR
"Nas simples, você vai para onde o oponente não está. Nas duplas, a meta é vencer seu adversário no erro", diz Anne Hobbs. A dica é: ao invés de evitar o oponente, tente sobrepujá-lo. Entretanto, um adendo: "isso não quer dizer que se você perceber um espaço não deva jogar nele"

ENTRE EM SINCRONIA
De acordo com Hobbs, "em geral, uma parceria que está alinhada é mais forte do que quando um está na rede e outro no fundo". Consequentemente, se você perceber que seus adversários estão em linha - mesmo que seja quando um deles voltou para buscar um lob -, é hora de sua dupla também se alinhar. Pela mesma razão, se vocês estão ambos atrás e seu parceiro decide ir para a rede, "você precisa ir junto, mesmo que você não se sinta confortável com essa decisão ou ache que foi um movimento errado".

JOGUE VOCÊ MESMO OS LOBS
Quando os adversários jogam um lob, Hobbs observa que muitos tenistas "tendem a correr para o lado e dizer: 'Sua!'". É melhor dominar esses lobs que caem no seu lado da quadra, dispensando seu parceiro desse trabalho o quanto antes.

APROVEITE O MOMENTO
Uma vez que você reconhece que os quatro tenistas estão perto da linha de saque, sua equipe deve assumir os passos para vencer o ponto. De acordo com Hobbs, esses passos são: ir para a frente, mirar no pé de um oponente (e manter o jogo nessa direção), mirar no T e defender o meio da quadra, o que vai lhe ajudar a ir para a frente. Ir para a frente é imprescindível, independentemente de você estar com problemas ou não.

INTERCEPTE COM SABEDORIA
Hobbs aconselha a interceptar apenas se você pode executar um golpe melhor do que o seu parceiro, e mirando o T. Enquanto isso, caso o adversário da rede estiver lhe interceptando e errando, não se preocupe. Mas, se ele estiver tendo sucesso, ao invés de bater na direção dele ou na paralela (as respostas mais populares), tente jogar um lob para que ele fique esperto.

SEMPRE PENSE ADIANTE
Faça a escolha do golpe e escolha para onde você vai depois de bater na bola. Você precisa ser um tenista experiente para conhecer os golpes de alto percentual de acerto em cada bola, mas essa é uma habilidade que merece ser desenvolvida. "A execução do golpe é muito melhor quando você está comprometido com o que vai fazer depois da batida", diz Hobbs.

 

 

Andrew Friedman

Publicado em 24 de Dezembro de 2015 às 13:00


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