Instrução mental

O dilema do erro bobo

Erros em bolas “fáceis” podem minar a sua confiança e determinar o resultado de uma partida


O que podemos chamar de “erro bobo”? Por que chamá-lo assim? Será que é bobo mesmo? Bobo para quem? Em quadra, o erro bobo é considerado um erro não forçado, ou seja, uma bola fácil que o adversário jogou e que se errou ao tentar devolvê-la.

Para falar em erro bobo, devemos pensar em níveis de tênis para depois classificar uma bola como erro bobo ou não. Para um principiante, o erro bobo é aquele em que praticamente não existe dificuldade como, por exemplo, uma bola parada, sem movimentação de pernas, só com o movimento do golpe e, ao executar, a bola é jogada na rede ou para fora.

Já para um jogador de nível intermediário, o erro bobo seria uma direita no meio da quadra que vai direto na rede ou no alambrado. E, para um jogador profissional, seria uma direita no fundo da quadra, após um rali, que termina na rede ou sai alguns centímetros na linha de base.

Quão bobo é o erro?

Além disso, a percepção do erro para quem joga é muito diferente da percepção do erro de quem assiste à partida. Só o jogador sabe o esforço que faz. Só o jogador conhece a dificuldade de determinado golpe ou jogada. Portanto, é um parâmetro subjetivo.

Talvez pudéssemos utilizar uma escala, tal qual a Escala de Borg (uma tabela criada pelo fisiologista sueco Gunnar Borg para a classificação da percepção subjetiva do esforço), que quantificasse o nível do esforço/ dificuldade e assim qualificar a bola como fácil, de dificuldade média, difícil e muito difícil. Julgar é sempre complicado. Só quem realmente joga conhece a dificuldade da bola que enfrentou e da bola que devolveu para o adversário.

Erro bobo determinante

Mas o fato é que o diferencial numa partida está na quantidade de erros não forçados. Ganha geralmente quem comete menos erros não forçados, quem erra menos “bolas bobas”. E isso é pertinente a todos os níveis, desde o iniciante até o profissional. Muitos tenistas se preocupam com as bolas vencedoras, os “winners”, as jogadas que definem os pontos. É claro que a satisfação de matar um ponto, ou seja, de não dar ao adversário a capacidade de resposta é ótima; porém, na prática, isso acontece em 10% do jogo ou muito menos dependendo do nível dos tenistas. Na final masculina do Australian Open 2016, por exemplo, menos de 32% dos pontos foram vencidos com winners. Em compensação, mais de 47% foram frutos de erros não forçados.

Possíveis soluções

O que podemos fazer para não cometer erros bobos?

1 - Treinar - Manter uma frequência nos treinos, repetindo os golpes com as variações que acontecem nos jogos.

2 - Focar - Manter a concentração e a atenção em cada bola, em cada jogada e em cada ponto. Não pensar à frente.

3 - Controlar - Manter o controle da mente. Baixar o nível da ansiedade e procurar o equilíbrio.

4 - Pensar positivo - Não ter medo de errar. Manter o pensamento positivo no sentido de se sentir capaz e acreditar que pode vencer.

Em um esporte tão complexo como o tênis, seria interessante falar de forma mais cuidadosa sobre bola fácil, ou “erro bobo”. Talvez falar de “bola boba” entre aspas, por que, às vezes, de boba ela não tem nada. Como diz o ditado “falar é fácil, fazer é que é difícil”. Sendo assim, convidamos quem fala muito a fazer, a praticar e a jogar tênis para, de verdade, sentir e qualificar a variedade de bolas e jogadas inerentes ao jogo.

Roberta Menezes

Publicado em 28 de Abril de 2017 às 12:55


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