Em Cincinnati

Jovem brasileiro jogou contra Murray e Nadal

Veja a história do juvenil que, aos 15 anos de idade, treinou com os melhores do mundo


Mateus Alves é o número um do Brasil na categoria 16 anos

Ele devolveu bolas rápidas de Andy Murray. Rebateu spins de Rafael Nadal. Aqueceu Jo-Wilfried Tsonga, Gilles Simon e David Ferrer. E conviveu com os melhores do mundo em um dos mais disputados torneios da ATP. Aos 15 anos de idade, o brasileiro Mateus Alves realizou o sonho de qualquer tenista: enfrentar seus ídolos. Durante uma semana, o jovem atleta de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, conviveu com os profissionais do circuito mundial no Master 1000 de Cincinnati, nos Estados Unidos, e sentiu na raquete a potência dos golpes dos grandes nomes da competição. Além dos estrangeiros, o número 1 do país na categoria 16 anos também entrou em quadra para jogar contra Thiago Monteiro e Bruno Soares. “Ver de perto, convier e, principalmente, jogar contra caras que cresci assistindo pela TV é uma experiência realmente incrível”, resume Mateus. “Precisei de alguns minutos para acreditar que estava na quadra central de Cincinnati trocando golpes com o campeão olímpico, número dois do mundo, para um público de mais de 300 pessoas”.

A experiência de Mateus faz parte de um projeto mais ambicioso de Bruno Soares em parceria com a Confederação Brasileira de Tênis. O top 10 de duplas do mundo decidiu usar seus relacionamentos para retribuir o que o esporte lhe proporcionou em quase 30 anos de carreira. Segundo ele, esse tipo de experiência pode fazer a diferença na trajetória de um futuro ídolo do tênis. “Não é só bater bola, mas também ver de perto os profissionais, observar como se comportam, como trabalham, junto com o treinador, assimilando tudo o que podem”, avalia Soares. “A ideia é que daqui a alguns anos possamos testemunhar um ou outro garoto vinculado a esse projeto jogando em alto nível. Será gratificante saber que contribuí para isso. Começamos com o Mateus, mas queremos ampliar e garimpar mais talentos, com bom nível e bons resultados, para iniciar a transição para o profissional antes de o garoto terminar a carreira juvenil”.

Se Bruno Soares viabilizou o projeto, a iniciativa partiu de seu amigo e hoje técnico de Mateus, o tenista Thiago Alves. Ele já foi o número 88 do mundo e jogou todos os Grand Slams. Chegou a enfrentar Roger Federer em 2008 no US Open. Ou seja, conhece tanto os bastidores de um grande torneio como a rotina de um profissional. E sabe que, quanto antes o jovem tem contato com essa realidade, melhor ele se prepara para fazer parte dela um dia. “É um parâmetro para o garoto”, explica o técnico, que montou em Rio Preto seu centro de treinamento, o Thiago Alves Tennis Team/HTC/Smel. “O Mateus terá condições de participar de torneios profissionais já com 17 anos. Estamos direcionando a carreira dele. Essa ação tem muita importância no sentido mental. Ele consegue vivenciar hoje o que projeta para daqui cinco, seis, sete anos em sua vida. Já fica sabendo aonde tem que chegar”.

Futuro top 10?

É impossível dizer se o grandalhão Mateus alcançará seu objetivo de ser um top 10. Para Bruno Soares, ele caminha para ser um grande jogador, mas a jornada é longa e árdua. “É um garoto alto, com bom físico, pega forte do fundo da quadra, tem jogo moderno, bons golpes, direita pesada, joga perto da linha e tem um saque muito bom. O potencial para jogar em alto nível existe, mas, até lá, a jornada é longa, quase uma maratona. Vai precisar de dedicação diária e se cercar de bons profissionais”, pondera o duplista brasileiro. O treinador Thiago Alves concorda: “É um talento com enorme potencial físico, técnico e mental. Tem excelente altura, mais de um metro e noventa, cabeça boa, tranquilo, lida bem com pressão, apresenta boa técnica e grandes golpes, que podem levá-lo ao alto nível se, claro, fizer um bom trabalho”.

Além de Thiago Alves, com quem já trabalha há pouco mais de um ano, Mateus conta com uma equipe multidisciplinar para assessorá-lo, que inclui desde preparador físico, osteopata e instrutor de pilates até psicólogo especializado em coaching e empresário – aliás, o mesmo de Bruno Soares. Sua evolução nesse período se refletiu nas quadras. Neste ano, ganhou um ITF de 18 anos na Tunísia e foi o único brasileiro na Gira Europeia de 16 anos.

Apesar da euforia em torno dos resultados e da experiência em Cincinnati, os treinamentos com os ídolos mostraram o abismo que existe entre as duas categorias e as dificuldades de um juvenil prosperar na fase adulta de sua carreira. “A velocidade da bola é outra. E o Mateus sentiu a dificuldade, algo que já vinha cobrando dele, a movimentação de perna. Por ser forte e alto, acaba se acomodando ao jogar com os garotos da idade dele, mas, nos Estados Unidos, ele viu que precisa se movimentar muito mais”, diz Thiago Alves.

O ritmo em Cincinnati foi puxado. Na semana do torneio, Mateus foi para a quadra todos os dias. Treinou com Murray e Nadal, aqueceu Tsonga, Simon e Ferrer, totalizou três horas de quadra com Tiago Monteiro em dois dias diferentes e enfrentou o paredão de rede formado pela dupla Soares e Jamie Murray. Ainda bateu bola com mulheres, como a búlgara Tsvetana Pironkova, a italiana Roberta Vinci e a americana Lauren Davis, e completou cada treinamento com seu técnico Thiago Alves. Também sentou à mesa com os jogadores durante as refeições, frequentou o player lounge, dividiu quarto com Bruno Soares, assistiu a inúmeras partidas e viu de dentro a grandiosidade de um Master 1000, com estrutura muito maior do que a dos torneios juvenis. Enfim, uma experiência única para um garoto de 15 anos que um dia espera estar lá como competidor. “Daqui para frente as coisas podem melhorar muito mais. No futuro, espero chegar ao top 10”, diz Mateus.

Confira abaixo algumas fotos desses encontros:

"Foi o primeiro bate-bola com um estrangeiro. Estava ansioso. Sentia questão da velocidade da bola, principalmente na esquerda. A bola vinha reta, escorregando bastante"

"Joga bem no piso duro, a bola dele vem baixa e escorrega muito na quadra, dificultando meu jogo, porque sou alto. Tive a chance de trabalhar para ficar com a base mais baixa, o centro de gravidade mais baixo, e melhorar a movimentação, para estar sempre na altura da bola, e não deixar a bola dele machucar nem a minha subir. É o número dois do mundo, tem uma bola pesada e você tem de estar sempre adiantado"

"Excelente treino. Aqueci o Tsonga durante quase meia hora antes da partida dele. Errei pouco. A bola dele é pesada, mas vem com efeito, não foi tão difícil de responder"

"Treino mais puxado para a dupla, eles na rede e eu no fundo. Mais intenso. A bola voltava rápido, tirando a reação. Precisava estar bem apoiado para jogar bem, consegui, foi um treino legal"

"Ele tem uma bola um pouco mais alta do que a do Murray, um topspin que quica mais. Mas senti a intensidade do jogo, mesmo sendo mais uma troca de bola de meio"

Giuliano Agmont

Publicado em 27 de Setembro de 2016 às 12:55


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