A pequena lesão que pode acabar com toda uma temporada
Fábio Oliveira em 30 de Maio de 2022 às 00:00
“Ambos os casos (Del Potro e Dominic Thiem), nos mostram com clareza, porque a tendinopatia de punho deve ser levada muito à sério.”
-- Dr. Fábio Carlos Lucas de Oliveira
No cenário tenístico atual, é possível observar que cada vez mais cedo, ensina-se a importância do top-spin na construção de um jogo efetivo. No entanto, não se pode esquecer que golpes que geram uma grande quantidade de top spin, mas com uma baixa qualidade técnica, expõe o tenista a lesões no punho.
Existem vários tipos de lesões no punho. No entanto, grande parte destas lesões acometem o tendão, e por esse motivo são referidas como “tendinopatia do punho” (em inglês, wrist tendinopathy).
Apesar dos estudos científicos terem apresentado números relativamente tímidos para a ocorrência de lesões no punho ao nível profissional e elite (cerca de 7% no circuito WTA e, aproximadamente, 7% no ITF World Tour), a ocorrência dessa lesão é uma grande dor de cabeça para um tenista profissional.
Um dos casos mais emblemáticos desta lesão no circuito profissional de tênis, é o de Juan Martin Del Potro. Entre várias paradas e retomadas, o argentino ficou mais de 9 meses fora do circuito por conta de uma tendinopatia no punho (não confunda com o período afastado por lesões no joelho). Del Potro retornou ao circuito em grande forma, mas voltou a ter uma tendinopatia no punho, que o afastou por cerca de 2 anos.
Mais recentemente, Dominic Thiem se afastou de diversas competições devido à uma tendinopatia no punho (além de questões psicológicas alegadas pelo próprio jogador). O afastamento das competições ficou evidente quando Thiem abandonou seu jogo contra Adrian Mannarino, ainda no primeiro set, quando vencia por 5-2. Na sequência, precisou se afastar por 9 meses.
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Mas os prejuízos causados pela tendinopatia do punho não são exclusividades de Del Potro e Thiem. Vários tenistas profissionais, de ambos os sexos, têm se afastado das competições devido à esta lesão. Os casos de Delpo e Thiem chamam mais a atenção por se tratar de jogadores que figuravam no top10 do ranking mundial. Ambos os casos, nos mostram com clareza, porque a tendinopatia de punho deve ser levada muito à sério.
A tendinopatia do punho é uma lesão causada por “uso excessivo” do tendão extensor ulnar do carpo, localizado na região ulnar do punho. “Movimentos repetitivos” também contribuem para o surgimento dessa lesão, que ocorre frequentemente no lado não-dominante do jogador que usa backhand com 2 mãos. Mas isso não significa que jogadores que utilizam backhand com 1 mão, jamais desenvolverão essa lesão.
Independentemente do nível de jogo, em grande parte dos casos, essa lesão se apresenta inicialmente como um desconforto leve e que parece temporário. Os sinais e sintomas começam de forma quase insignificante, porém a intensidade vai aumentando. Geralmente, quando o tenista percebe a lesão, outras estruturas já estão afetadas e déficits mais sérios já podem ser claramente observados durante uma avaliação clínica.
A tendinopatia do punho está associada às altas cargas de tensão que são absorvidas pelos tendões do punho durante o impacto da bola na raquete. A repetição excessiva desse evento resulta em estiramento e micro rupturas desses tendões e, assim, o processo inflamatório se inicia. Os erros técnicos também podem contribuir para o surgimento dessa lesão, porém esse aspecto é mais observado nos tenistas amadores.
Os sintomas mais comuns da tendinopatia do punho são dor à palpação e à movimentação. Geralmente, ambos os movimentos de flexão e extensão de punho são dolorosos. O local da lesão (a inserção do tendão extensor ulnar do carpo) se apresenta mais quente devido à inflamação e algumas vezes, acompanhado de um pequeno inchaço. O tenista pode relatar dormência e formigamento caso o nervo radial esteja envolvido na lesão.
Já os principais déficits causados por essa tendinopatia são: redução da amplitude de movimento e limitação da função, principalmente no âmbito esportivo.
Os golpes do tênis mais comprometidos são o saque, forehand e o voleio, principalmente em forehand (quando o lado dominante está afetado).
No que se refere ao tratamento, a recuperação da tendinopatia do punho é lenta. A sua recuperação pode levar 6 semanas ou mais, dependendo da gravidade e o estágio da lesão aquando do seu diagnóstico. A continuidade das atividades e/ou movimentos lesivos para as estruturas do punho, têm um importante papel no tempo total de tratamento.
Tão logo uma tendinopatia do punho é diagnosticada, 2 medidas básicas devem ser tomadas o mais rápido possível para garantir uma boa recuperação. Essas medidas têm impacto direto no desenvolvimento do processo reabilitativo.
É altamente recomendável que o tenista busque o auxílio de um fisioterapeuta para que essas e outras medidas adequadas sejam implementadas o mais rápido possível.
O tratamento pode variar de acordo com o quadro clínico de cada paciente. Ainda assim, a literatura científica recomenda que o tratamento para a tendinopatia do punho seja totalmente baseado em exercícios, uma vez que essas são as melhores evidências para o tratamento desta lesão, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de força muscular do antebraço.
Seguindo esta lógica, o processo de recuperação é organizado em 3 fases interligadas por uma progressão gradual.
Fase 1: Normalização da função e estabilização
Fase 2: Retorno aos treinos
Fase 3: Retorno aos jogos
Na fase 1, o objetivo é a normalização da função. Para atingir esse objetivo, as atividades reabilitativas focar no desenvolvimento de força dos músculos que são responsáveis pela estabilização do punho, e na eliminação da dor durante os movimentos.
Na fase 2, o objetivo é implementar, gradualmente, as cargas impostas especificamente durante uma partida de tênis. Compartilho abaixo a estratégia que eu utilizo para o aumento gradual da carga de treino:
Por fim, na fase 3, o foco é um retorno seguro aos treinos, às partidas e às competições. Quando todas as etapas da fase 2 puderem ser realizadas consecutivamente, sem dor, incômodo e/ou desconforto, o tenista poderá voltar a fazer treinos simulando jogos. Caso o tenista seja capaz de realizar todas as etapas anteriores por 1 semana, sem quaisquer queixas, este poderá tentar fazer um jogo completo.
É muito importante que o jogador e seu treinador estejam atentos ao “timing” e à técnica dos golpes. O bom timing facilita a realização de uma técnica correta, fluida, e com o mínimo de esforço.
As informações apresentadas acima possuem apenas caráter informativo. Portanto, não substituem, em nenhuma hipótese, a avaliação e tratamento realizados por um fisioterapeuta especializado em lesões esportivas.
Em caso de dúvidas, entre em contato com o autor através de um dos meios de comunicações disponíveis abaixo.
No próximo artigo, apresentaremos dicas para prevenir lesões nos treinos de backhand e como evitar a reincidência de uma tendinopatia do punho. Não perca!
A literatura científica tem apresentado números relativamente tímidos para a ocorrência de lesões no punho ao nível profissional e elite (cerca de 7% no nível elite feminino – WTA e, aproximadamente, 5% de todas as lesões no circuito profissional e junior da International Tennis Federation (ITF), incluindo ambos os sexos).
No nível universitário, as lesões na mão e punho correspondem à aproximadamente 10% de todas as lesões no sexo masculino e, aproximadamente, 6% no feminino.
No nível amador, o índice de lesões no punho aumentam consideravelmente em comparação com o nível profissional e elite.
Mais recentemente, uma análise epidemiológica publicada em 2021 revelou que as lesões no punho e mão representam cerca de 18% de todas as lesões dos tenistas amadores.
Dr. Fábio Oliveira
Fisioterapeuta no circuito profissional ATP • PhD em Reabilitação
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