Jogar em um piso lento ou rápido faz muita diferença técnica e taticamente
Ricardo Acioly em 17 de Fevereiro de 2016 às 18:20
Não é preciso ser expert para saber que jogar em saibro é muito diferente de se jogar em quadras de cimento. E não é só no circuito profissional que essa diferença entre atletas que se adaptam melhor a um piso ou outro fica evidenciada. No amador também. O jogo contra aquele seu amigo devolvedor de bola não fica muito mais acirrado na rápida? E jogar contra aquele cara que saca muito e senta a mão em todas não fica mais equilibrado em terra batida? Esses são exemplos típicos dos efeitos que a troca de piso pode acarretar. Mas por que isso ocorre e como se adaptar? O técnico Ricardo Acioly, ex-capitão do Brasil na Copa Davis, vai mostrar quais estilos de jogo se enquadram melhor a cada superfície e, além disso, dizer como atuar taticamente para se dar bem em qualquer uma delas. Confira as dicas.
GOLPE
Quem joga bem em saibro geralmente tem golpes mais amplos, swing mais longo. Isso gera mais força. A maioria também bate com muito spin. A tendência da bola neste piso é quicar alta e "frear" um pouco após o contato com o solo. Isso favorece um golpe amplo. Na quadra dura, como a bola vem mais rápida e baixa, muitas vezes não há tempo de armar a batida adequadamente. Sendo assim, um golpe mais compacto, com swing de médio para curto, será a melhor pedida. No cimento, pode-se usar o peso da bola do adversário ao invés de ficar gerando força e, por isso, usa-se muito o contra-ataque.
Os jogadores de quadra dura geralmente possuem golpes mais chapados e usam empunhaduras eastern. Às vezes, um semi-western, mas quase nunca um western. Isso faz com que a bola saia sem muito spin. Mas, como mudar o golpe de um piso para o outro? Não é necessário fazer uma mudança tão brusca. Se for passar do saibro para a dura, dê uma pequena encurtada na preparação, principalmente nas devoluções de saque e tente "bloquear" a bola.
Sacar com slice na quadra dura é uma tática eficiente |
TEMPO DE BOLA
O jogador, na quadra dura, tem a capacidade e a opção de pegar a bola na subida. No saibro, isso é mais complicado, pois se está ligeiramente desequilibrado, a bola desvia mais e vem com mais spin. Essas variantes dificultam pegar na subida. Na dura, a bola vem redonda o tempo todo, com menos spin e quica mais baixo.
ÂNGULOS
No saibro, pode-se usar muito os ângulos. Se você abre o ângulo, o adversário tem que escorregar para bola e, na próxima, você trabalha o ponto, afundando a bola para o lado oposto. É a jogada típica do saibro, principalmente na vantagem. Você saca um quique alto, em que a bola sai da altura da cintura do devolvedor, e tira ele da quadra. Normalmente, essa devolução vai vir lenta. A maioria dos tenistas entra de direita invertida (forehand inside-out) e comanda o ponto. Em uma quadra dura, essa jogada é anulada se o adversário devolve na frente e na subida.
ESCORREGAR
Em terra o jogador tem que saber usar as condições da quadra. Algo importantíssimo é saber escorregar. Os tenistas de quadra rápida têm dificuldade nisso. No cimento, sua base é melhor, consegue transferir melhor o peso e contra-atacar na bola. No saibro, como se está escorregando, qualquer bola que saia do seu ponto de equilíbrio é mais complicada. Então, tem que saber escorregar, mantendo o equilíbrio, para conseguir tração e se defender.
VOLEIO
Em uma quadra dura mais pontos são finalizados na rede e, por isso, quem joga mais no cimento tende a ter uma melhor técnica de voleio. Isso tem a ver com a empunhadura. Como o voleio deve ser feito, preferencialmente, com continental, é mais difícil para jogadores de saibro, que usam western, fazer uma mudança extrema no grip.
PREPARO FÍSICO
A diferença de preparação física entre tenistas de saibro e cimento seria como a comparação entre o maratonista e o atleta dos 100 metros rasos. Um tem explosão e finaliza o ponto em duas, três bolas. Na terra batida, são mais bolas. A preparação física é diferente. Um tenista de quadra dura geralmente tem golpes com potência, é forte, rápido em espaços curtos e está sempre pegando a bola na subida. O jogador de saibro até pode ser assim, mas geralmente vai agüentar mais, jogará com mais profundidade, saberá se defender e trabalhar melhor o ponto.
ATAQUE E DEFESA
Na quadra dura, é preferível jogar cortando os ângulos. Não se afaste tanto da linha de base, porque a bola vem com mais velocidade. Quanto mais longe se está, mais tempo está dando para o adversário. Também não há o recurso de jogar uma bola alta e recomeçar o ponto. Se jogar alta, seu oponente vai ganhar quadra e continuará atacando. No saibro há essa opção. Você se afasta da linha de base quando está sendo atacado, joga uma bola alta e tem tempo de se recuperar. Pode se dar ao luxo de jogar bem mais atrás, tanto quando atacado ou como base de jogo. Não precisa tomar tanto a iniciativa e ficar perto da linha.
SAQUE
No saque, também há diferenças fundamentais. Um serviço com efeito slice será muito bem-vindo na quadra dura, pois ele quica baixo e complica o devolvedor. Quando aberto, ele deixa um "buraco" do outro lado da quadra para atacar. Os saques rápidos no meio, no "T", rendem mais na rápida, assim com serviço no corpo. Se perceber que o adversário tem uma devolução boa de esquerda, tente sacar no corpo. No saibro, o tipo de saque mais utilizado é o "quique" ou twist, em que a bola quica com muito efeito e sobe rapidamente.
SLICE
Slice, no saibro, é uma bola de defesa eficiente. O ponto está rápido demais, você dá um slice e diminui a velocidade. Assim, você ganha tempo, pois o adversário geralmente terá que gerar uma bola "morta" de baixo.
Na dura, o slice também serve como defesa, mas pode ser uma arma, se utilizada para que a bola fique ainda mais baixa. O slice muda o ritmo do ponto. Dependendo da velocidade da quadra, é uma bola que quica e machuca. Com um bom slice, pode-se ir à rede. O adversário terá que tirar a bola de baixo e fazer a passada. Isso é difícil no cimento, principalmente na corrida.
Na quadra dura, tente jogar cortando os ângulos |
DEVOLUÇÃO
No cimento, o tenista pode optar por devolver o saque mais dentro da quadra, passa a usar um bloqueio de slice no revés. Essa tática pode ser usada também no saibro, desde que a bola não fique muito curta e alta.
Se você está jogando contra um bom sacador e fica muito atrás na quadra dura, vai ser muito difícil quebrar o saque dele. A não ser que você seja muito forte e consiga gerar força lá de trás. Mas, jogar assim consistentemente, é muito difícil. Aí entra a questão de "cortar o tempo". Se você está três passos atrás, esse é o tempo que sacador tem para se restabelecer. Isso pode ser fatal. Devolver atrás na dura pode ser uma variação, mas é sempre melhor estar mais à frente e cortar esse tempo.
No saibro, você pode se dar ao luxo de ir lá para trás e devolver uma bola alta. Mas, quando se faz isso contra um adversário que sabe usar o quique, ele pode sacar fundo no seu backhand, bater um forehand na primeira bola e fazer você correr o ponto todo.
Slice é uma boa opção tanto na quadra dura quanto no saibro |
CURTAS
Bolas curtas são interessantes no saibro. Mas o tenista nunca deve dar uma curta na linha de base ou atrás dela. A bola vai demorar muito até quicar, dando tempo ao adversário. A melhor opção é quando se está dentro da sua quadra e o oponente longe da linha de base. Na quadra dura é preciso ter muito cuidado, pois essa bola vai lenta, quica e sobe um pouco. Além disso, a capaci- dade de recuperação do adversário na dura é maior que no saibro.
VENCENDO MARATONISTAS
Jogar contra devolvedores nunca é fácil, ainda mais em saibro. Mas, quem joga assim geralmente não vem muito para frente, ou seja, tente trazê-lo para a rede às vezes. Mantenha a bola mais baixa. Se jogar alta, ele jogará mais alta. Pegue a devolução um pouco mais rápida e, sempre que tiver chance, mande uma bola mais reta. No nível amador, a curta é uma boa opção. Faça uma bola baixa, que ele não tenha como atacar e, assim, você pode controlar a jogada. Também é preciso encurtar o ponto. Como? Sacando mais no "T". O saque no meio é mais fácil de acertar e não abre o ângulo. Com um saque aberto, o adversário pode fazer você se deslocar para qualquer lado. Sempre ataque o segundo saque. Todo tenista que gosta de jogar passando bola normalmente não tem um segundo serviço muito afiado. Coloque pressão, tente induzir a dupla-falta e comece o ponto mais rapidamente.