Assunto de infindáveis controvérsias, a participação dos pais nas carreiras dos filhos ainda gera muita polêmica
Por Elson Longo em 19 de Abril de 2017 às 12:58
Ora heróis, ora vilões. Os pais de tenistas possuem um papel decisivo e de extrema importância na carreira de seus filhos. Muitas vezes, são responsáveis diretos pelo sucesso, mas, em alguns casos, acabam limitando o rendimento e levando os filhos ao abandono do esporte. Treinadores procuram orientar, mas nem sempre são escutados, e passam a atuar como meros observadores.
Alguns pais são muito presentes a ponto de atrapalharem, outros nem sabem muito bem o que é tênis e o jogador sente falta de uma maior interação. Errando pelo excesso, ou pela falta; acertando com seu esforço e paixão, o elemento “pai”, em uma carreira, materializa-se como um fator tão decisivo quanto incerto. Escolas, federações, treinadores etc., podem possuir os elementos metodológicos para construir um jogador, mas nunca terão a menor ideia de como será aquele pai que traz seu filho promissor para a quadra.
Será um pai que ajuda ou atrapalha? Será aberto à informação? Poderá ser moldado? Ou, ao primeiro sinal de discórdia, levará seu filho para outro lugar? Estes são alguns questionamentos naturais que qualquer treinador faz. Em um sistema onde existem três pilares claros, jogador, treinador e pais, é natural que se dê importância ao papel dos pais, pois deles dependerão equitativamente o sucesso daquela carreira.
O jogador se treina, o treinador se capacita e o pai... Bom, o pai nunca se sabe. Essa é a maior fragilidade de qualquer carreira que se inicia. Uma das variáveis de maior importância não é um elemento controlável. Há quem se oponha dizendo que existem excelentes manuais para pais, receitas de comportamento, tutoriais que indicam claramente o caminho para o “pai ideal”. Sim, existem e são muito eficazes, porém muitos pais não querem seguir o recomendável. Possuem sua forma de pensar, de agir e vão fazendo as coisas como acreditam serem as melhores. Não há garantia de que os pais irão seguir o que indica o manual. E tudo fica muito incerto. Para agravar ainda mais a desordem desse sistema, existem inúmeros casos de pais que fizeram o contrário do que indicavam as “regras” e tiveram sucessos incríveis no tênis com seus filhos, grande parte deles sendo o próprio treinador de seus rebentos (que vai contra o que se presume ser o ideal). É correto pensar, todavia, que muitos outros casos assim geraram abandonos prematuros de muitas carreiras e, dessa forma, já não temos mais a referência do que é certo ou errado, o que funciona e o que não funciona. Como nosso objetivo aqui seguramente não é confundir ainda mais as coisas, vamos abordar a questão de maneira prática para encontrar um caminho seguro e exitoso.
O primeiro ponto que todos devem entender: estamos imersos em um sistema de três pilares. Se um deles falhar, todo o processo irá ruir. Se o treinador não for competente, a carreira estará limitada. Se o jogador não realizar com comprometimento absoluto suas funções, o resultado não virá. Se pais forem excluídos do processo, haverá uma lacuna e os alcances serão aquém do que poderiam ser.
Uma vez que o pai é um elemento que não pode ser excluído e deve ter seu espaço de participação, a pergunta que deve ser feita é: este pai aceita a informação de como deve proceder? Se a resposta for sim, tudo será mais simples. Basta prover continuamente o pai com as diretrizes corretas do comportamento e forma de apoiar ideais, e rapidamente ele se tornará um poderoso aliado para o processo.
O pai tem o perfil que não aceita a informação e gosta de fazer as coisas à sua maneira. Neste caso, se o treinador tentar mudar, haverá duas situações: atrito e desgaste, ou o pai mudará de treinador. A solução para casos assim depende do treinador. O pai é o pai, é insubstituível. Portanto, quem pode agir é o técnico. Pais com essas características são muito participativos e gostam de colocar suas ideias em prática. Cabe ao treinador avaliar se realmente acredita naquele jogador. Caso acredite, deve se moldar à situação, dando espaço para o pai e trabalhar em conjunto. Na verdade, o que esse tipo de pai busca é exatamente isso, alguém que concorde com suas ideias e dê espaço para que possa opinar. A vantagem para o treinador nessas condições é a divisão da responsabilidade dos resultados com o pai: se os resultados não acontecerem, ambos têm sua devida parcela de culpa.
O treinador não acredita nem nas ideias do pai, tampouco no potencial do jogador. Neste caso, deve sugerir à família que encontre outra pessoa para fazer o trabalho. Isso evita perda de tempo e possíveis indisposições, uma vez que claramente pai e técnico estão alinhados em direções diferentes.
É fácil perceber que não há receita pronta. Tudo depende do quanto se acredita e do quanto se pode adaptar. O que realmente é certo nisso tudo é que deve haver harmonia em uma forte esfera de confiança. Os três elementos, por mais atípicos que sejam, só irão ter sucesso se encontrarem um equilíbrio entre si, acreditando de forma sincera em seus potenciais. Não há certo ou errado, há apenas a vontade e a certeza.