Os números não mentem - A Revista TÊNIS analisou as estatísticas de todos os Grand Slams de 2009. O que estes números revelam?
"VENCE QUEM ganha o último ponto", já diziam os mais sábios. É verdade, no tênis o único número definitivo é o placar final. E para comprovar essa antiga premissa, a revista TÊNIS fez um grande levantamento das estatísticas de todas as partidas masculinas dos quatro Grand Slams de 2009 (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e Us Open). Somados os números, pudemos verificar algumas tendências que geralmente levam um tenista à vitória, mas também que existem pontos "fora da curva".
Você que acompanha tênis sabe que, ao todo, um grand slam tem 127 partidas (64 na primeira rodada, 32 na segunda, 16 na terceira, 8 nas oitavas-de-final, 4 nas quartas, 2 na semifinal e a final). Sendo assim, somados os quatro eventos, são 508 jogos. Para o nosso cálculo, porém, consideramos apenas partidas válidas, ou seja, sem Wo ou desistências no meio do percurso. Com isso, ao todo foram 486 partidas em 2009.
As estatísticas computadas foram: porcentagem de primeiro serviço, número de aces, duplas-faltas, erros não forçados e winners, pontos vencidos com o primeiro e segundo serviço, pontos ganhos em games de devolução, break-points convertidos, pontos vencidos na rede e, por fim, o total de pontos ganhos na partida. Somente Roland Garros e Wimbledon disponibilizam todas estas estatísticas para todos os jogos. O Australian Open e Us Open não disponibilizam esse recurso para algumas partidas em quadras secundárias.
Sendo assim, anotamos quem ganhou em cada quesito em cada jogo e marcamos um "ponto" para o "vencedor" ou "perdedor". Lembramos que, no caso das duplas- faltas e erros não forçados, fica com o "ponto" quem fez o menor número. Ou seja, se o vencedor de uma determinada partida cometeu cinco erros não forçados e seu oponente apenas dois, o perdedor é que fica com o "ponto" deste quesito.
Além disso, nos casos de break-points e pontos vencidos na rede, consideramos o valor bruto e não a porcentagem.
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PRIMEIRO SAQUE NÃO VALE NADA?
Com todos os dados anotados, a primeira coisa que se nota ao ver os gráficos é que a porcentagem de primeiro serviço parece que não quer dizer muita coisa, pois apenas pouco mais de metade dos Vencedores (54,9%) colocou uma maior porcentagem de primeiros saques em quadra e ganhou a partida. Será que isso desmente o que os treinadores gostam de dizer: "Quando a coisa aperta, coloque o primeiro serviço em quadra"?
Na verdade, esse dado precisa ser analisado junto com a porcentagem de pontos vencidos com o primeiro e segundo serviços. Aí sim encontramos duas estatísticas que mostram o poder do saque no tênis atual, já que mais de 80% dos jogadores que venceram mais pontos com seus saques ganharam suas partidas. Entendeu a lógica? Não? Explicamos: um tenista pode arriscar muito no saque e acertar apenas 40% de primeiros serviços em quadra, por exemplo. Contudo, digamos que ele vença grande parte dos pontos em que acertou o primeiro saque e ainda tenha um bom aproveitamento com o segundo. Resultado: ele tem grande chance de sair vencedor da partida.
No entanto, há disparidade entre os Grand Slam, e o Australian Open, por exemplo, é o Major em que a regularidade do primeiro saque tem maior eficácia na hora de vencer a partida, com 59%. Os restantes meio que se equivalem, com pouco mais da metade dos Vencedores anotando mais primeiros serviços em quadra que os Perdedores. É no Aberto da Austrália também que os Vencedores possuem um maior aproveitamento (88,5%) de pontos ganhos no primeiro saque. Já em Roland Garros é onde os Vencedores são por mais vezes aqueles que vencem mais pontos no segundo saque (85,1%).
No quesito aces e duplas-faltas, os números são bastante semelhantes entre os quatro torneios, com alguma vantagem para os grandes sacadores no Us open.
AGRESSIVIDADE OU CONSTÂNCIA?
Interessante notar que jogadores mais agressivos parecem se dar melhor do que os mais constantes. H á um percentual maior de Vencedores (76,5%) que anotaram mais winners na partida do que os que cometeram menos erros não forçados (66,3%). O percentual de jogos em que os winners fazem a diferença é bastante constante em todos os majors. e enganam-se aqueles que acharam que a regularidade tem mais efeito no saibro de Roland Garros. Na verdade, lá é onde ter um menor número de erros não forçados não significa vantagem, pois 61,9% dos vencedores se sobressaíram nesse quesito, o pior aproveitamento entre os quatro eventos.
No entanto, um fenômeno interessante ocorre no decorrer das competições. Nas primeiras rodadas, a quantidade de winners tem maior importância, sendo que em mais de 80% dos casos os Vencedores ganharam neste quesito. Mas, à medida em que a competição vai afunilando, o número cai para 66,7%. Por outro lado, a quantia de erros não forçados ganha importância. Nas últimas rodadas, mais de 70% dos Vencedores anotam menos erros bobos, enquanto que nas primeiras esta porcentagem gira em torno de 66%. Há outro tópico a ser analisado quando tratamos de agressividade: pontos vencidos na rede. Há tempos sabemos que o clássico estilo de saque-e-voleio desapareceu devido à velocidade do jogo.
Contudo, há sempre quem se arrisque na rede, pois, nem sempre dá para ganhar todas do fundo.
No entanto, os números mostram que quem se aventura na rede corre mesmo sérios riscos, pois apenas 57,3% dos Vencedores tiveram vantagem neste quesito. Na verdade, essa é uma estatística que oscila bastante rodada a rodada, torneio a torneio.
O lugar onde mais vezes os voleadores se saíram melhor foi no Us open (com 78,2%). E, para a surpresa geral, Wimbledon - templo do estilo clássico - foi onde eles se deram pior (com apenas 40% dos vencedores triunfando quando venceram mais pontos na rede).
ESTATÍSTICAS "DEFINIDORAS"
Você percebeu que há estatísticas que variam bastante, mas, na verdade, há duas que são quase determinantes no resultado de uma partida: os break-points convertidos e o total de pontos ganhos. Há exceções à regra? Sim, há, mas, no geral, menos de 1% das partidas são vencidas por quem fez menos pontos que o adversário (alguns exemplos: fernando verdasco derrotou Tommy Haas na terceira rodada do Us Open anotando 156 pontos, enquanto o alemão fez 167; no mesmo torneio e na mesma rodada, Andy Roddick fez 162 pontos e perdeu para John Isner, que computou 155). e, sim, também pode-se vencer alguém que quebra mais o seu saque do que você o dele (como na final de Wimbledon, por exemplo, em que Roddick quebrou duas vezes o saque de federer e o suíço venceu derrubando o saque do norte-americano apenas uma vez em toda a partida). Todavia, estas são estatísticas que representam mais de 90% dos vencedores.
No entanto, há um número que retrata bem a tendência do tênis atual - ou seja, ganha quem devolve melhor. O tópico "pontos vencidos devolvendo saque" também significa mais de 90% dos vencedores. Apesar da alta porcentagem em todos os torneios, Roland Garros é onde ela é maior, com mais de 95%, e Wimbledon menor, com 90,8%.
Apresentamos todos os gráficos para que você tire suas próprias conclusões. Porém, lembre-se que, no fim, a única regra sem exceção é a do início deste texto: "Vence quem ganha o último ponto".