A Revista TÊNIS acompanhou de perto o ATP World Tour Finals e mostra o ambiente que se vive na arena que recebe os oito melhores tenistas do mundo. No fim, vimos mais uma vitória de Federer
Bruno Falabella em 12 de Dezembro de 2011 às 13:06
EM UMA NOITE FRIA DE OUTONO EM LONDRES, mais de 17 mil pessoas acompanhavam em silêncio absoluto aquele ponto. Apesar da grandiosidade do lugar, o clima era intimista. Somente a quadra estava iluminada, deixando o resto da arena na penumbra. Uma mulher com a bandeira da Suíça nas costas aperta as mãos e se inclina na cadeira, como se tentasse ver aquilo mais de perto. Era o oitavo game do set decisivo e Jo-Wilfried Tsonga havia sacado. Roger Federer tinha a chance de quebrar o saque do francês e servir para o título. Ao ser atacado, Tsonga erra. Federer, então, solta um grito ouvido por todas as pessoas da arena, que no instante seguinte explodia num barulho ensurdecedor. A mulher comemorava balançando a bandeira, e Federer caminhava para mais uma vitória em sua centésima final.
Em 2009, após quatro anos em Xangai, o ATP World Tour Finals foi levado para a O2 Arena, em Londres, onde permanecerá pelo menos até 2013. Na edição deste ano, ocorrida na última semana de novembro, Federer venceu e tornou-se o primeiro jogador a conquistar o torneio seis vezes, superando o recorde anterior que dividia com Ivan Lendl e Pete Sampras.
Sede das finais pelo terceiro ano seguido, Londres tem uma relação muito próxima com o tênis. O esporte foi "inventado" em Birmingham, na Inglaterra, na segunda metade do século XIX e, pouco depois, em 1877, acontecia em Londres a primeira edição de Wimbledon, torneio mais antigo do mundo. Inaugurada em 2007, a O2 é uma das maiores arenas da Europa, com capacidade para até 20 mil pessoas, sendo que, para o torneio, esse número cai para 17.500 devido ao espaço tomado pela quadra. Considerada um dos marcos da arquitetura moderna de Londres, a arena fica próxima à Canary Wharf, distrito financeiro conhecido como "pequena Manhattan", onde estão os maiores edifícios da cidade, e será usada também nas Olimpíadas de 2012. A O2 já foi palco para shows como a reunião do Led Zeppelin, Paul McCartney e, duas semanas antes do torneio, Red Hot Chili Peppers.
OITO EM AÇÃO E MILHARES AO REDOR Chloe Lawrence e Ellie Griffiths, de 15 e 12 anos respectivamente, estavam entre os escolhidos, e disseram que um dos grandes momentos do treinamento foi o encontro com Boris Becker, tricampeão do Masters Cup (como era chamado o Finals), que no dia de seu aniversário deu dicas e bateu bola com os selecionados. "Nós até demos um bolo para ele!", contou Ellie. "A experiência de estar ao redor dos maiores jogadores do mundo vem sendo incrível. É tenso, mas empolgante ao mesmo tempo", disse Chloe após uma das semifinais, acrescentando que seu jogador favorito é Federer, enquanto Nadal é o preferido de Ellie. Com ingressos a partir de 20 libras (por volta R$ 55), o público lotou a arena em quase todas as sessões. Ao todo, 250.256 pessoas assistiram aos jogos durante os oito dias de torneio. Antes e depois das partidas, as pessoas circulam pela Fanzone, uma enorme estrutura montada dentro do complexo, onde se encontram as quadras de treino e todo o tipo de entretenimento relacionado ao tênis. Um estande traz um medidor para as pessoas testarem a velocidade de seus saques e, logo em frente, uma fila é formada para jogar tênis por alguns minutos com um instrutor que, com um microfone, dá dicas e comenta sobre a técnica do jogador. Há também cabines onde cada um dos finalistas colocou raquetes, roupas e objetos, como autobiografias assinadas e fotos, que foram à leilão arrecadando dinheiro para caridade. |
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Durante os oito dias do torneio, 95 milhões de espectadores em 184 países assistiram aos jogos transmitidos ao vivo. No terceiro dia do torneio, o boletim diário distribuído aos jornalistas antecipava: "Duelo de Titãs". A rivalidade entre Federer e Nadal, uma das maiores da história do esporte, teve um capítulo marcante em Londres, em um dos jogos mais esperados do Finals, ainda pela segunda rodada da fase de classificação. Cerca de uma hora e meia após o início da partida, Federer chegava para a coletiva de imprensa calmamente. Acabara de vencer o espanhol, talvez na mais convincente entre todas as suas vitórias sobre o rival, com duas quebras no primeiro set e cravando um 6/0 no segundo. "Já tive algumas boas vitórias em minha carreira. Essa eu coloco em um alto patamar, porque foi contra provavelmente o meu maior rival. O fato de eu ter vencido de forma tão convincente é um pouco surpreendente para mim [...]. Estou apenas muito feliz", disse Federer, com um olhar confiante balançando a cabeça afirmativamente, como se previsse que ergueria o troféu cinco dias mais tarde.
Durante o ATP Finals, a arena mantém essa atmosfera "rock n' roll", contrastando com a seriedade e o tradicionalismo de Wimbledon, localizado a alguns quilômetros dali, também ao sul do rio Tâmisa. Antes das partidas, as luzes se apagam e, após uma contagem regressiva, ondas de pulsação são projetadas em uma tela contínua que contorna toda a arena, enquanto já haviam vencido os Bryan. um coração batendo é ouvido nos alto-falantes. Dois imensos telões mostram os jogadores andando pelos corredores em direção à quadra e, ao serem anunciados, entram sob a luz de holofotes em meio a uma nuvem de fumaça, ao som de London Calling, hino punk da banda londrina The Clash.
PLAY No fim, mais uma vez Federer provou que ninguém deve subestimá-lo, impondo-se na quadra rápida inglesa. Nadal jogou abaixo do que pode. Djokovic enfim mostrou o cansaço da temporada dura. Murray mais uma vez decepcionou a torcida, machucouse e desistiu, dando lugar a Janko Tipsarevic. Berdych esteve irregular. Ferrer, assim como em 2007, voltou a surpreender e, por pouco, não esteve na final novamente. Tsonga teve a chance de levar o título para a França pela primeira vez na história do torneio, realizado desde 1970, mas, na 100a final de Federer, ele não conseguiu impedir o 70º título do suíço. Pelo torneio de duplas, Max Mirnyi e Daniel Nestor levaram o troféu ao vencer os poloneses Mariusz Fyrstenberg e Marcin Matkowski na final. Na semi, eles que contorna toda a arena, enquanto já haviam vencido os Bryan. |