Número um do Brasil, Vivian Segnini é exemplo para meninas que começam no esporte

Elson Longo, técnico da tenista, conta sobre a carreira da pupila e ressalta seu espírito de luta e trabalho

José Eduardo Aguiar em 18 de Dezembro de 2008 às 13:25

O tênis feminino brasileiro passa por um momento difícil, um dos maiores da história da modalidade no país. Deixando de lado o sucesso de Maria Esther Bueno, que assim como Guga representou algo totalmente fora da realidade brasileira, já tivemos um quadro muito melhor do que se vê hoje, com apenas duas tenistas entre as 400 melhores do mundo. Número um do Brasil atualmente, Vivian Segnini é apenas mais um exemplo de superação dentro da difícil realidade que o esporte encontra no país.

Em entrevista ao site da CBT, o treinador da jovem tenista de 19 anos, Elson Longo, fala sobre a carreira da pupila e ressalta a força de vontade das principais tenistas brasileiras. Trabalhando com Vivian desde que a menina tinha 10 anos, em São Carlos, Elson conta que a moça não era uma grande tenista no juvenil. "Quando se trata de tênis neste nível, entende-se por talentoso aquele que têm muita coordenação, que joga fácil. Mas o talento da Vivian era outro: força de vontade no trabalho".

Ciente do potencial da aluna, o treinador passou a realizar um trabalho a longo prazo, algo não muito comum no tênis brasileiro. Elson lembra que a pressão por resultados, tanto vinda dos pais como dos raros patrocinadores, fazem com que as atletas se concentrem na carreira de juvenil sem pensar na importante transição que terão mais para frente no professional. "A partir dos quinze anos, a Vivi começou a jogar torneios profissionais, mas ainda em poucas semanas no ano", lembra o técnico. "A partir daí ela passou a viajar cada vez mais tempo, sozinha, para lugares além da América do Sul".

Vivian ainda econtra dificuldades em arrumar recursos para viajar
Com poucos recursos, assim como a maioria das colegas de esporte, Vivian não tinha condições de pagar uma equipe para acompanhá-la nos principais torneios. "Isto foi um fator limitante, mas por outro lado levou-a a um grande amadurecimento e fortalecimento", lembra Elson. No começo, as derrotas eram freqüentes, mas nada que abalasse o trabalho traçado pela tenista e pelo treinador.

A saída encontrada foi a mais simples, porém mais eficiente: o trabalho. "Já houve períodos que sua carga de treino chegou há dez horas, entre quadra, físico e recuperação", conta o técnico. Porém, após Vivian atingir um nível ainda melhor e figurar entre as 500 do mundo, havia chegado a hora de Elson estar presente nas viagens e torneios. "Pedi então orientação ao César Kist, pela sua grande experiência com jogadoras profissionais, e ele me incentivou a dar este passo", conta, lembrando que esta transição também acontecia em sua carreira, já que não estava acostumado a trabalhar desta maneira.

Além de Kist, que hoje é Diretor de Desenvolvimento da CBT, outro grande nome do tênis brasileiro foi fundamental neste importante período da carreira da atual número um do país. "Em seguida fomos a Serra Negra, onde Carlos Kirmayr passou uma tarde inteira com agente, planificando todos os passos que devíamos dar, tanto a Vivian como jogadora, tanto eu como treinador", conta Elson, que coloca o ex-número 36 do mundo como um mestre no treinamento de tenistas competitivas.

Após a importante conversa, Vivian e Elson passaram a viajar juntos, o que mudou radicalmente os objetivos da dupla. Já entre as 500 do mundo, a tenista passou a disputar alguns torneios mais fortes, contra atletas mais experientes. Hoje 344ª colocada no ranking da WTA, a tenista de São Carlos não só é a melhor do Brasil, como também serve de exemplo para as meninas que começam no esporte.

Ciente dos esforços de sua atleta, Elson também ressalta algumas outras meninas que têm batalhado muito pelo tênis brasileiro, como Maria Fernanda Alves, Roxane Vaisemberg e Teliana Pereira. "Estas meninas estão de parabéns e são admiráveis. Todas elas foram bem formadas, caso contrário não estariam ali. O circuito não dá espaço para quem não é extremamente competente e batalhadora".

Elson trabalha com Vivian desde que a menina tinha dez anos
Curiosamente, mesmo número um do Brasil e entre as 400 melhores do mundo, Vivian ainda tem de fazer alguns sacrifícios em busca de recursos para encarar os maiores torneios fora do país. "Ela ainda percorre o clube no fim do dia para tentar vender alguns números de rifa para poder viajar", conta o treinador.

O grande sonho dos amantes do tênis no Brasil é voltar a ter uma tenista figurando entre as 100 melhores do mundo. Mesmo com essa expectativa, Elson prefere trabalhar com os pés no chão. "O auge de uma jogadora ocorre aos 24 anos. As partes envolvidas, pais, técnicos e treinadores, devem ter paciência e perseverança", conta o técnico, que fala sobre os planos para os próximos anos: "Acreditamos que serão necessários pelo menos mais dois anos para que ela possa firmar-se neste patamar para então tentar uma nova transição".
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