Quatro dos maiores especialistas nas duplas dão dicas táticas para você se tornar ainda mais completo disputando a modalidade
Por Matheus Martins Fontes em 27 de Julho de 2013 às 00:00
SE EM SIMPLES o Brasil anda sem muito brilho, nas duplas, nossos tenistas vão dando muitas alegrias. Além de Bruno Soares e Marcelo Melo, outros quatro brasileiros estão no top 100 da modalidade, incluindo Thomaz Bellucci e João “Feijão” Souza, simplistas de carteirinha.
Em Wimbledon, Melo fez história ao ser o primeiro brasileiro a chegar a uma final da modalidade na Era Aberta, enquanto que Soares, nas duplas mistas, ficou a um ponto de conquistar o primeiro título na grama inglesa desde Maria Esther Bueno na longínqua década de 1960. Mas no caminho dos mineiros, havia personagens que são referências mundiais e (por que não?) históricas que elevaram a modalidade a outro patamar: os irmãos Bob e Mike Bryan e o incansável “quarentão” Daniel Nestor. Com tamanha notoriedade no esporte, tanto os Bryan quanto Nestor foram expoentes de um movimento a favor do crescimento da importância das duplas em meados da década passada – quando a ATP passou a chamar a atenção para a modalidade.
Então, nada melhor do que Bob, o canhoto dos Bryan, Nestor e mais outras duas lendas do tênis, Mark Knowles e Jonas Bjorkman, apresentarem quatro estratégias-chave para vencer nas duplas e ainda explicarem como você pode adaptá-las ao seu próprio estilo de jogo.
Há duas maneiras de cruzar na rede – a planejada e a instintiva
Cruzar na rede
A estratégia de interceptar a bola junto à rede quando seu parceiro está sacando é uma boa ideia quando você sente que seus adversários focam em uma devolução na cruzada. É uma maneira de você mexer com a cabeça deles porque eles vão sempre ficar com dúvidas se você vai cruzar ou não. É também uma ótima forma de movimentar os pés se estiver um pouco nervoso.
Não ache que você tem a necessidade de fazer um winner logo na primeira bola ao cruzar – especialmente quando chegou atrasado na bola e está em uma situação defensiva. Dependendo da superfície, acertar uma bola angulada ou um voleio curto pode ser tudo o que você precisa para se colocar numa posição vencedora.
Há duas maneiras de cruzar na rede – a planejada e a instintiva. A planejada é quando você comunica ao seu parceiro antes de ele sacar que vai se movimentar na cruzada; a instintiva é quando você reage de acordo com o que está acontecendo no ponto. Se você percebe que o seu companheiro disparou um bom saque e que o devolvedor terá problemas em responder, você pode decidir cruzar no momento.
A tática de cruzar é também útil quando se está na devolução. Quando você está junto à rede contra o sacador que está subindo, a opção de interceptar na cruzada pode ser muito eficaz e ajuda a criar dúvidas nas cabeças dos rivais. A melhor hora para cruzar acontece quando seu parceiro acerta uma grande devolução no pé do sacador. O truque é saber quando essa devolução foi realmente bem batida. Você, na rede, está olhando para frente, então deve ficar alerta para os sinais. O som da bola saindo da raquete do seu parceiro é a primeira indicação que se tem para ver se realmente foi uma boa devolução, e também observando como o sacador se aproxima da rede geralmente é uma dica para perceber se a devolução flutuou (nesse caso, proteja-se!) ou se está vindo no pé dele (prepare-se para cruzar!). Se a devolução de seu parceiro ir no corredor de duplas (paralela), você, então, precisa ser cuidadoso para não ser tão agressivo e acabar deixando seu lado aberto. A coisa mais importante é pôr pressão no sacador. Então, se o seu companheiro fizer uma boa devolução, tente se aproximar o máximo possível da rede.
Quando estiver procurando um parceiro, tente encontrar alguém que prefira devolver do lado oposto que o seu
Escolha seu lado
Duplas bem-sucedidas têm tudo a ver com trabalho em equipe, mas, às vezes, você e seu parceiro precisam definir os lados – escolha de qual lado vai jogar. Para a maioria dos times, a referência número um para escolher os lados se baseia na devolução de saque. Fazer uma boa devolução é primordial, então vocês devem se sentir confortáveis com os lados que escolherem. Na nossa dupla, Mike é quem tem a melhor devolução, então faz sentido que ele escolha qual lado ele quer, que é o lado da vantagem. Grandes devolvedores são capazes de devolver de ambos os lados, mas não há tantos jogadores que podem fazer essa mudança. Mike e eu jogamos metade das nossas carreiras em lados diferentes. Fizemos a transição em 2003 algumas semanas antes de vencermos nosso primeiro Grand Slam, em Roland Garros.
Na maioria das duplas que têm a sorte de combinar um canhoto com um destro, o canhoto geralmente joga do lado da vantagem. Mas, para cruzar na rede, é muito mais fácil golpear com o forehand, pois você pode gerar muito mais potência no voleio do que no backhand. Portanto, adoramos bater os dois forehands no centro da quadra – no tênis moderno, a jogada mais devastadora é quando você foge do backhand para bater de direita, especialmente no segundo serviço. Então, quando estiver procurando um parceiro, tente encontrar alguém que prefira devolver do lado oposto que o seu. Vocês não querem uma situação em que têm uma dupla com dois grandes jogadores do lado da vantagem e dois devolvedores ruins do lado do iguais. Assim, vocês terão dificuldades para quebrar o saque dos adversários.
É importante volear a primeira bola profunda e no centro, tirando os ângulos e confundindo a cabeça dos adversários sobre quem vai bater aquela bola no meio dos dois
Dois do fundo
É uma maneira muito difícil de vencer na grama ou em quadras rápidas se os dois jogadores ficarem no fundo da quadra, mas é uma tática que alguns atletas – principalmente os jogadores da linha de base como Rafael Nadal e Tommy Robredo – utilizam e surte efeito. Xavier Malisse e Olivier Rochus conquistaram Roland Garros em 2004 jogando bem atrás da linha de saque. Então quais contramedidas você pode empregar caso venha a enfrentar uma dupla em que os dois jogadores ficam na linha de base agredindo com bolas pesadas?
Quando seus adversários estão devolvendo, é importante volear a primeira bola profunda e no centro, tirando os ângulos e confundindo a cabeça deles sobre quem vai bater aquela bola no meio dos dois. Mas bater profundo em todo momento pode ser perigoso, então alterne com um voleio angulado e curto, porque é bem difícil que seus rivais corram para frente e consigam responder com uma bola angulada ainda melhor. E fique atento com as fraquezas que seu adversário possa ter. Se um rival tem o ponto fraco no backhand, você deve explorá-lo. Tenha na cabeça que o melhor jeito para vencer nessa situação pode ser forçar erros dos seus adversários ao invés de conseguir winners.
Também pode ser eficaz ter um plano para seu parceiro na rede a fim de cruzar na segunda ou terceira bola do rali. Dessa forma, o parceiro que fica no fundo pode tentar cobrir a quadra se seu adversário perceber que o da rede vai cruzar.
Quando o sacador do time adversário fica no fundo, seu instinto é se aproximar da rede o mais rápido possível. Mas, principalmente no saibro, é preciso ser paciente e aceitar que não se pode antecipar todas as bolas. Às vezes, surte efeito jogar a bola no rival que está na rede, porque normalmente ele não estará esperando por isso. Nas quadras rápidas, você pode tentar entrar um pouco mais na quadra já na devolução, o que dificultará para seu rival responder com uma bola eficiente do fundo.
Sacar no “T” é uma tática eficiente quando se joga “australiana”, porque não dá nenhum ângulo ao devolvedor
Australiana ou formação em “I”
Optar pela formação em “I”, também conhecida com o “australiana”, é uma ótima maneira de jogar uma pitada de incerteza na cabeça dos devolvedores, porque eles são forçados a adivinhar para qual lado seu parceiro na rede vai se mexer. É uma boa tática para uso caso seus rivais estejam em um dia inspirado nas devoluções. A “australiana” envolve o sacador na linha de base e seu parceiro junto à rede ficando quase numa linha reta no centro da quadra. Sacar no “T” é uma tática eficiente quando se joga “australiana”, porque não dá nenhum ângulo ao devolvedor, além de que você está sacando em relação à parte mais baixa da rede.
Decidir para qual direção o jogador da rede deve ir é obviamente muito importante. Você precisa alternar as direções, mas tenha sempre em mente que essa tática é uma boa ideia para atrapalhar a resposta favorita do devolvedor. Por exemplo, se o adversário que está devolvendo do lado do iguais tem um ótimo backhand de dentro para fora, faz sentido que seu parceiro na rede se mexa para a direita, tirando essa opção do adversário e forçando-o a procurar as linhas.
E quando você joga “australiana”, certifique-se de conversar com o seu parceiro de maneira que ele saiba para qual lado você vai se mexer. Primeiro, seu companheiro na rede precisa fazer um sinal com a mão a fim de indicar onde ele quer que você saque (no “T”, no corpo ou aberto) e, depois, um segundo sinal indicando para qual lado ele vai se mexer. Confie em mim, você não quer acabar do mesmo lado do parceiro vendo uma devolução vencedora passar por vocês dois. Mas tente a tática da “australiana”. Ela vai certamente deixar seus adversários bem mais pressionados.
Artigo baseado no livro “ATP Doubles”