Como você joga os pontos importantes da sua vida?

Os grandes jogos de Roland Garros e suas lições

Suzana Silva em 25 de Junho de 2013 às 13:01

TORNEIO DE GRAND SLAM, masculino, em saibro, dá nisso: partidas longas o suficiente para você refletir um pouco sobre sua própria vida. Estranho?

Não dá para acompanhar um duelo de gigantes - e, cá entre nós, qualquer tenista que esteja na chave masculina de um Grand Slam é gigante - sem pensar em processos pessoais. Os momentos cruciais, as reviravoltas, a vontade de um e de outro, os recursos técnicos, físicos, mentais e emocionais ficam bem evidentes nesses jogos para nosso deleite.

O embate entre Nadal e Djokovic neste Roland Garros ficou na cabeça de todos. Mas passarei este jogo. Antes de Djoko, Nadal enfrentou o italiano Fabio Fognini, na terceira rodada, partida que teve momentos divertidos para quem gosta de extrair o máximo do jogo para a vida real.

Fognini, de 26 anos, é extremamente talentoso, corre muito, ou seja, tem jogo suficiente para encarar o Touro de frente, como mostra o placar de 7/6 (5), 6/4 e 6/4. Mas, nos pontos importantes, fica claro quem é quem, essencialmente - quem tem aquela substância que separa os homens comuns dos extraterrestres.

Você acha que Nadal deixa que um erro não forçado mexa com sua concentração? Quantos pontos perdidos por erros não forçados de Nadal você já presenciou? Bem, cometer erros "bobos" para deixar passar um game menos importante para focar energias no game mais importante faz parte da estratégia de um vencedor. É o que chamo de "administrar a vantagem energeticamente" quando sabemos que o processo de vida - ou a partida - terá longa duração. Você começa um torneio com 128 caras, que durará duas semanas, com possibilidades de ir até o quinto set em, pelo menos, três partidas, hum.... é bom saber administrar suas forças. Mas mesmo quem administra sua energia para vencer um jogo duro erra bolas, e precisa administrar essa frustração rapidamente, e voltar 100% para o próximo ponto. Já passou, baby, vamos em frente.

Sem acomodação

E fazer uma jogada que está fora das suas características habituais num ponto importante, para surpreender de tal maneira o adversário e fazê-lo errar? Nadal fez isso contra Fognini, sacando do lado da vantagem no forehand adversário - lembrem-se de que Nadal é canhoto e seu saque aberto na vantagem é a opção número 1 em 99,99% das vezes. Isso sem falar nos momentos em que sacou e subiu à rede. Sim, estou falando do Rafa fundista até o último fio de cabelo.

Coragem para tomar uma decisão, mesmo que fora do seu habitual, que irá colocá-lo mais próximo do seu objetivo. Coragem para mudar seu modus operandi, fazer diferente para criar uma diferença em sua vida. Opa, isso está ficando mais difícil. É, Nadal forçou o backhand adversário com uma bola alta e funda, cheia de topspin, e subiu à rede... antecipou uma resposta curta e/ou lenta e correu para definir. Nadal, o "baseline retriever", subindo à rede em ataque surpresa? Esse moço, apesar de já ter vencido Roland Garros tantas vezes, continua aprendendo e superando seus limites técnicos e táticos. Humildade e foco.

Você também continua aberto ao aprendizado, apesar dos seus bons resultados, ou está acomodado com seu relativo sucesso? Arrisca ou fica apenas no mundo conhecido?

Novos desafios

Outro jogo lindo de se acompanhar foi o duelo entre Nicolas Almagro e Tommy Robredo também pelas oitavas. Que jogão. Aí deu para ver o Robredo chamando a torcida para si e ganhando forças, além das suas, para vencer o favorito.

As reviravoltas desse duelo de mais de quatro horas foram incríveis também. No primeiro set, depois de uma duplafalta de Robredo no tiebreak, pensei: "Xi, amarelou!". Noutra hora pensei: "Puxa, o Almagro está mais agressivo nos pontos importantes, deve vencer o quarto set", no início da parcial que perdeu por 7/5. O duelo foi muito, muito sutil, nenhum dos dois se mostrando abatido, ou ficando desequilibrado mentalmente.

Nos desafios da vida, quem mostra mais vontade? Quem chama a torcida - ajuda, apoio, alianças - para alcançar o objetivo? Hum... deu Robredo.

Equilíbrio

No feminino, a força física de Serena, descomunal, desequilibra os jogos. Impossível vencê-la, e ela quer mais, pode e mostrou desejo de melhorar - quando não quiser mais isso, irá pendurar as raquetes. Dedicação do pai, talento e trabalho duro indiscutíveis nesse momento, a genética - que lhe proporcionou o "corpão" e que impulsiona saques e devoluções, que desequilibram as adversárias na primeira bola do ponto - deixam o tênis feminino um jogo sem surpresas. Quem acompanhou os duelos Evert x Navratilova, Graf x Navratilova, Graf x Seles, Hingis x Graf, Clijsters x Henin, fica com saudades. A vida, como o jogo, carece de equilíbrios.

E para os pais das crianças que jogam tênis, nosso aplauso e nossa torcida. Esse é um esporte para os fortes de espírito.

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