A principal causa do erro nos serviços é de natureza técnica
Suzana Silva em 26 de Janeiro de 2016 às 18:20
Que me desculpem os tenistas mal informados: a primeira grande causa para o seu saque não funcionar nos pontos importantes não é psicológico; é falta de técnica mesmo. "Ah, mas o meu primeiro saque, quando entra, é uma paulada", diz o tenista. "E o segundo?", pergunta o professor. "Ah, aí eu só empurro...".
Nos pontos cruciais da partida, nos 40 iguais, nos tiebreaks, nos breakpoints, você acha que Roger Federer ou Novak Djokovic pensam: "Vou bater mais devagar para colocar meu saque em quadra"? Ambos saíram de placares desfavoráveis em seus jogos de quartas- de- final em Roland Garros (o suíço virou contra Juan Martin del Potro e o sérvio contra Jo-Wilfried Tsonga) sacando firme e partindo para cima. Sem um movimento de saque simples, limpo e eficiente (leia-se biomecanicamente correto) não há confiança que resista.
A primeira coisa importante que você precisa finalmente entender sobre o saque é que ele é construído de baixo para cima. Todo o movimento de preparação, além de gerar potência, serve para colocar a raquete em um ponto abaixo daquele onde encontrará a bola. Esse movimento de baixo para cima da raquete através do impacto imprime uma rotação (efeito) da bola para frente, e, consequentemente, a trajetória parabólica que a fará passar acima da altura da rede e entrar na área de saque.
No momento da pressão, quando o tenista profissional precisa colocar a bola em jogo, ao invés de pensar "mais lento", ele pensa "mais efeito". Solta o braço, aumentando a rotação da bola. Vai ser bem difícil ver nossos amigos Roger e Djoko cometendo uma dupla-falta no match-point contra. Mas você verá que, bem raramente, o trio fantástico também é humano e comete erros (Rafael Nadal acaba de chegar ao nosso artigo).
Isso acontece porque o movimento do lançamento da bola, também conhecido como toss, é um dos mais delicados e suaves do jogo de tênis. Uma verdadeira obra de bailarinos. O braço estendido deve fazer sempre o mesmo movimento, saque após saque, para colocar a bola no ponto desejado. Bola na ponta dos dedos. Precisão e firmeza do punho e do cotovelo. Leveza.
O pé da frente no saque não deve se mover até o lançamento terminar, e não é apenas pelo motivo óbvio do foot-fault (sim, ninguém quer perder o ponto por encostar o pé da frente na linha antes do contato com a bola), mas a razão para deixar o pé firme na posição é construir e manter uma base para que o lançamento seja bem executado e preciso.
Você pensou, checou tudo isso na execução do seu saque e concluiu: "Ok, estou fazendo tudo direito". E, lembrou da dupla-falta que cometeu num ponto importante mesmo tendo passado na prova biomecânica. Agora podemos dizer: a emoção afeta a performance, e no tênis não é diferente. Pênaltis perdidos e duplas-faltas cometidas por tenistas profissionais têm a mesma raiz: a emoção.
Um pouquinho de medo, um "pensamento vírus" pode chegar como uma onda ("Só falta um ponto para eu ser campeão", "Meu gol nos dará o título"). Um pequeno feixe muscular, ou menos, fibras musculares, são contraídos pela emoção e a precisão do movimento vai para o espaço.
Todos os rituais pré-saque (tanto físicos quanto mentais) que os profissionais fazem minimizam o problema: soltar o ar e relaxar os músculos de membros superiores quando quicam a bola no chão, visualizar mentalmente onde querem mandar o saque, manter o foco na estratégia ponto a ponto. Manter o foco na estratégia ponto a ponto, repito. No momento presente. Sem pensar aonde a vitória ou derrota vai lhe levar. O presente é o que você tem. É a melhor maneira de prevenir os pensamentos viróticos que inibirão a precisão de movimentos bem treinados.
Treinamento e repetição são as bases da confiança. Aprender o saque bem aprendido e repetir, repetir, repetir. Você pode treinar o saque sozinho, então, evitemos as desculpas esfarrapadas. Se você perder um jogo devido ao mau saque, encare o problema de frente e trabalhe. Use alvos diferentes, de direção e de profundidade. Nada de desculpas.
PARA AS CRIANÇASO tema deste artigo é prevenir o drama da dupla-falta em pontos importantes desde a tenra idade, então precisamos falar de novo sobre a importância de se praticar muitos arremessos na iniciação ao tênis. Arremessar a bola por cima da cabeça com duas mãos, com uma mão, com diferentes tipos e tamanhos de bolas. Arremessar para frente, contra uma parede, por cima da rede. Arremessar para cima, usando uma rede de vôlei ou um elástico preso acima da altura da rede. Arremessar bolas de tênis, de espuma, de plástico, de handebol, de futebol-americano. Arremessar raquetes velhas. Arremessar. Deve-se usar as bolas vermelhas e quadras 8 m x 11 m na iniciação de crianças e adultos, e orientar o iniciante a usar a empunhadura Continental para sacar assim que possível. Isso é muito importante para economizar tempo no futuro mudando de empunhadura. A Continental é fundamental para promover aquela rotação da bola a que nos referimos no princípio do artigo. Usar as bolas laranja no passo seguinte, em ¾ de quadra, é ótimo para desenvolver a boa técnica de saque também. Aproveite que a bola laranja do mercado tem duas cores para ressaltar sua rotação, para explicar o conceito de "efeito". Use com crianças e adultos. E quando chegar à bola verde, e depois à bola amarela, é só colher os frutos, mandando aces nos pontos importantes da partida, como Pete Sampras, por exemplo. E para as novas gerações que não viram Sampras jogando, ainda bem que temos o Youtube. O homem saía de 0/40 sacando e mandava quatro aces em seguida. Vi um treino dele pré-US Open: 30 minutos de saque, 30 minutos de resposta de saque, 30 minutos de joguinhos curtos até sete pontos. Preciso falar mais? |