Confira o que a modalidade pode agregar na sua performance
Andrew Friedman em 24 de Dezembro de 2015 às 13:00
Durante anos, tenho mantido um segredo tenístico. Um segredo que cria problemas para mim diante dos meus amigos, sem mencionar algumas lendas do tênis. Isso me manteve longe das quadras vagas das segundas semanas dos Grand Slams e fez com que eu recusasse diversos convites de bons tenistas amadores para jogar. Nunca admiti isso, mas recentemente deixei isso às claras; o primeiro passo para superar um problema é admitir que você tem um problema.
Então, aqui está o meu segredo nebuloso: Eu odeio jogar dupla! Você pode pensar que isso é um exagero, que na verdade quero dizer que não odeio as duplas, mas que prefiro as simples. Gostaria que fosse esse o caso, porém, a verdade é que não suporto as duplas. Sim, joguei duplas inúmeras vezes, inclusive durante alguns longos anos em que participei de um grupo aos sábados. Contudo, mesmo naquela época, quando era sincero comigo mesmo, tive de admitir que nunca desfrutei daquilo.
Minhas razões para isso são de duas categorias. A primeira é a tradição social que sempre acompanha as duplas: tratando o aquecimento e as trocas de lado como se fossem coquetéis de amigos, com piadas depois de alguns erros não forçados, as risadas. Se eu quisesse esse tipo de coisa num sábado de manhã, eu iria para um brunch, não para a quadra.
Dois melhor que um?
No entanto, mesmo sem essas perturbações chatas, as duplas simplesmente vão contra a essência de todas as coisas que eu amo ao jogar simples, nominalmente o fato de o jogador está lá por si só - como na vida, caso você queira entrar na filosofia da coisa - e é colocado à prova como pouco esportes podem lhe colocar como indivíduo. Um competidor de simples é dependente do seu QI tenístico, sua malícia e tenacidade - e nada mais, nem ninguém. Aprecio isso como espectador e acho isso viciante como um competidor.
Todavia, adicione um jogador a mais de cada lado da rede e todos esses fatores vão desaparecer. Quase pior do que perder essa tensão existencial, sempre achei a presença de um parceiro um fardo terrível, impedindo-me de jogar meu próprio jogo, de estar na quadra à vontade é assumindo os riscos que quiser. Não quero ter que hesitar antes de arriscar, ou me desculpar por um erro. Pior ainda são as vezes em que você joga ao lado de um autoproclamado "ditador das duplas", como um procurador de justiça que passa os primeiros 20 minutos de um jogo mandando que eu "vá para a rede!" em todo o ponto, como se eu fosse um lacaio.
Como espectador, fora os raros pontos rápidos disputados na rede, não gosto sequer de ver os melhores duplistas do mundo competindo - nem mesmo os irmãos Bryan, que são nada menos que a parceria mais vitoriosa da história. Com exceção do essencial jogo de duplas da Copa Davis, não me lembro da última vez que assisti a uma disputa dessa modalidade. Com frequência, aproveito esse momento para pagar as contas, passear com o cachorro enquanto espero as partidas de simples começarem.
Uma chance para as duplas
Ainda assim, há aquelas pessoas - muito mais sofisticadas e realizadas do que eu - que exaltam as virtudes das duplas. Em seus comentários na tevê, John McEnroe sempre lamenta que cada vez mais os tenistas top de simples não se aventuram nas duplas. Em uma entrevista recente, Martina Navratilova, a lenda, disse-me que as duplas melhoram tudo, desde a coordenação mão-olho até jogar com ângulos diferentes e o modo de pensar em quadra. "Você precisa pensar rápido, pois as situações mudam rapidamente dependendo do que seu parceiro faz ou do que seus oponentes fazem", ela me falou. "E aprende a jogar os pontos importantes. A janela de oportunidade é muito menor numa quadra de dupla".
SEJA COMO OS BRYAN 1 - ELES SABEM OS SEUS PAPÉIS 2 - ELES TRABALHAM JUNTOS 3 - ELES SE COMUNICAM |
No começo deste ano, decidi confrontar minha aversão às duplas de cabeça em pé para dar ao meu jogo uma chance de tratá-lo mais seriamente do que nunca. Combinei uma clínica particular para mim e meus amigos com Anne Hobbs, no Roosevelt Island Racquet Club, em Nova York. Hobbs foi número um da Inglaterra e três vezes nalista de duplas em Grand Slams e atualmente dá aulas da modalidade para grupos.
Passamos a primeira hora das duas programadas fazendo vários drills: voleando na cruzada na direção de cones que Hobbs posicionou dentro da linha de base; disputando pontos elaborados para botar pressão no jogador do fundo da quadra; e assim por diante. Enquanto fazíamos isso, Hobbs explicava as razões de cada exercício, esmiuçando o jogo de uma maneira que nunca tinha visto antes. Por exemplo, discutindo o papel específico que é assumido por cada tenista durante o jogo quando estão sacando, recebendo, quando funcionam como parceiro do sacador, ou como parceiro do recebedor.
Hobbs - que diz ter aprendido ao analisar os melhores jogadores da sua época (John McEnroe, Billie Jean King, Martina Navratilova, Pam Shriver e Wendy Turnbull) - ensinou-nos que, nas duplas, você deve estar preocupado com o tenista que está na cruzada, e em "pôr pressão no adversário por meio da consistência e jogo de alta percentagem de acertos". Mesmo os maiores tenistas jogavam os pontos importantes dessa forma. "Tenistas amadores precisam jogar com alto percentual de acertos para criar a confiança por meio da consistência e permitir aos oponentes errar algumas bolas", disse Hobbs. "Nos pontos importantes, é essencial acreditar na fórmula de jogar na cruzada, e/ ou com alto percentual de acertos".
Entenda a lógica das duplas
Esses dois tópicos foram reveladores para mim. Nunca reservei um tempo para aprender a estratégia de duplas além dos seus elementos mais essenciais: ficar responsável pelo seu lado da quadra, tentar dominar a rede e me comunicar com o parceiro - o que, para mim, não ia além dos gritos clássicos: "Minha!" e "Sua!". Quando meus companheiros de aula e eu começamos a jogar um jogo de verdade, percebi que minha maneira de lidar com as duplas era comicamente simplista. Sempre pensei no jogo de duplas da mesma maneira que nas simples, com a diferença que havia duas pessoas de cada lado. Com a área de atuação na quadra diminuída pela presença do outro, eu fazia coisas desaconselháveis taticamente, como bater golpes de fundo na paralela, tentando acertar o mínimo espaço entre o tenista que está na rede e a linha do corredor de duplas.
Quando tentei essa jogada durante a aula - errando lateralmente, é claro -, Hobbs parou a partida e explicou que não posso ter essa sensação nas duplas ("Excesso de empenho", foi como ela chamou). Meus amigos e eu concordamos. Nunca tinha percebido que tinha esse sentimento até que ela o analisou para mim, mas era verdade.
Enquanto continuamos jogando, rapidamente comecei a me sentir confortável com o quadro que Hobbs desenhou - acreditar nas decisões com alto percentual de acerto e volear e golpear na direção de regiões determinadas em cenários específicos. Aliviado da minha vontade de bate um winner rapidamente, percebi que minha tolerância aos golpes - o número de batidas na bola antes de tentar nalizar o ponto - poderia crescer se eu jogasse mais duplas.
Depois dessas aulas, meus problemas com a modalidade regrediram. Não sabia que poderia aprender a amar as duplas, mas senti que dominar esse jogo poderia ser um meta interessante. Muito da minha insegurança com as duplas vinha da minha falta de entendimento: jogar bem duplas não tinha tanto a ver com jogar o meu jogo como se estivesse jogando-o corretamente. Também percebi que minha aversão às duplas refletia uma falha inerente do modo como via as simples: um atrativo para táticas de alto risco que podem satisfazer com uma descarga de adrenalina, porém mais frequentemente lhe deixa bravo quando ela não funciona.
Decidi que deixaria espaço na agenda para as duplas. Pela primeira vez, vou respeitar as duplas da forma correta.
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