Especial AUS Open 2010
Após primeiro contato com a tradicional quadra, brasileiro fala sobre as expectativas para a partida mais importante de sua carreira
O brasileiro Ricardo Hocevar treina na Rod Laver arena, em Melbourne |
Literalmente do outro lado do mundo, lutando contra o fuso-horário e alguns imprevistos com voos e hospedagens, o atleta de 24 anos precisou, também, batalhar muito para assegurar o que espera ser a "primeira de muitas participações em um torneio de Grand Slam". Na estreia no qualifying, mostrou toda a solidez trabalhada na pré-temporada realizada em Angra dos Reis (RJ) e não encontrou muitas dificuldades.
Nos dois jogos seguintes, porém, não faltaram emoções. Mostrando muito coração, Hocevar virou jogos que pareciam perdidos, colocando seu nome entre os 128 tenistas que disputarão o Australian Open.
Uma vez garantida a vaga, era hora do brasileiro realizar seu tradicional ritual pós-jogo, uma série de exercícios e alongamentos. Porém, antes mesmo de terminar sua rotina, a notícia de que o sorteio para ordenação dos qualifiers na chave havia sido realizado chegou a seus ouvidos. E lá estava o nome de Hocevar, emparelhado para encarar o ex-número um do mundo e maior ídolo do tênis australiano na atualidade, Lleyton Hewitt.
Falta de sorte? Melhor ter sido sorteado contra o adversário menos experiente? Não para o brasileiro, que terá a oportunidade de jogar em uma das quadras mais famosas e cobiçadas do circuito, a tradicional Rod Laver Arena.
Brasileiro descansa durante treino, enquanto aproveita para observar a "beleza" da quadra central |
Direto de Melbourne - onde acompanha cada detalhe do primeiro Grand Slam do ano - a Revista TÊNIS acompanhou de perto o treino de Hocevar na noite deste domingo, justamente na quadra central do Melbourne Park. Normalmente reservada para tenistas "tops" (leia-se Roger Federer, Rafael Nadal e Cia), a Rod Laver só abre suas portas para tenistas fora deste seleto grupo caso tenham jogos marcados no local.
Confiante, disposto a desfrutar cada momento de sua já memorável jornada em Melbourne, o paulista de 24 anos falou com exclusividade à reportagem da Revista TÊNIS. Nervosismo por jogar diante de milhares de torcedores? Por encarar um ex-número um do mundo e tenista dono de dois títulos de Grand Slam? Confira o bate-papo com o destemido brasileiro.
Revista TÊNIS: Você foi o único brasileiro que topou o desafio de vir jogar o quali aqui em Melbourne. O que foi determinante para você optar por vir para cá ao invés de continuar na América do Sul jogando alguns Challengers nestas duas semanas?
Hocevar: Já faz um tempo que sabia que viria jogar aqui. Estou bem consciente do que quero para minha carreira, e uma conversa bastante produtiva com o Fino (Fernando Meligeni) me deu a confiança necessária para topar esse desafio. Junto meu técnico, Eduardo Eche, ele me ajudou a ter a certeza de que era a hora de estar junto com os grandes, de desfrutar um torneio bonito e importante como esse. Já havia disputado o quali dos outros três Grand Slams, e tive a certeza de que essa era a hora de tentar a sorte por aqui também.
Revista TÊNIS: A sua campanha no quali foi uma mescla de jogo sólido e, ao mesmo tempo, de muita emoção. Conte-nos um pouco sobre os três jogos.
A campanha no quali foi marcada pela emoção |
Hocevar: Desde que cheguei aqui em Melbourne estava com uma sensação boa. Treinei muito duro na pré-temporada em Angra (realizou treinos ao lado de um grupo de jogadores que contava, entre outros, com Thomaz Bellucci e Thiago Alves), estava jogando o melhor tênis da minha carreira, e não tinha porque dar errado. Essa era a minha vez. Ninguém ia tirar essa oportunidade das minhas mãos. Desde o primeiro jogo coloquei na minha cabeça que iria jogar sólido, que não erraria bolas bobas, que não daria um ponto de graça para nenhum adversário. No primeiro jogo, deu tudo certo, coloquei tudo que pensei em prática e venci bem. Nos outros dois jogos, nossa...Foi uma emoção e tanto, não? (Risos) (*Hocevar virou dois jogos praticamente perdidos. No segundo, estava perdendo por 5 a 2 no terceiro set. Já na última partida, chegou a estar atrás do marcador em um set a zero e 4 a 3 no segundo com saque do adversário). Mas no final deu tudo certo e aqui estou eu na chave de um Grand Slam.
Revista TÊNIS: Logo após assegurar sua vaga você recebeu a notícia de que jogaria contra o Hewitt, aqui nessa mesma quadra, a Rod Laver Arena (A partida acontece nesta terça-feira, as 6 horas da manhã no horário de Brasília). O que você tem a dizer sobre ele?
Hocevar: O Hewitt é um cara que sempre admirei, assim como admiro qualquer cara que chega aonde ele chegou. É um grande competidor, um cara que briga muito por cada ponto. É claro que muitos falam que ele já não é o mesmo, que não tem mais aquele fôlego dos tempos em que era número um. Mas dentro de quadra não tem essa, ele continua sendo aquele cara que não vai dar nada de graça para você.
Revista TÊNIS: E qual é a sua expectativa para a partida? Está nervoso? Está confiante? Preferia ter sido sorteado contra um adversário menos expressivo?
Hocevar: A primeira coisa que você aprende não só no tênis, mas em todos os esportes, é que não se escolhe adversários. O sorteio me colocou contra ele, e é contra ele que vou jogar. É claro que se olharmos para a porcentagem de chances de vitória, ele é o grande favorito. Vai jogar em casa, na quadra que conhece como poucos. Mas eu tenho, sim, a minha porcentagem. Não é tão grande quanto a dele? Realmente não. Mas é a ela que vou me apegar. É ela que vou levar comigo para dentro de quadra e segurar com todas as forças. Assim como fiz no quali, tentarei agarrar essa chance de um jeito que ninguém consiga tirar de mim.
Revista TÊNIS: Qual a sensação de estar treinando em uma quadra que já presenciou momentos marcantes da história do tênis, que já viu passar por estes corredores as maiores lendas deste esporte?
Hocevar:
O treino na Rod Laver teve a ajuda de Thomas Takemoto, juvenil brasileiro que acompanha a equipe de Thomaz Bellucci na Oceania |
Revista TÊNIS: Sua partida será jogada aqui, na Rod Laver, e certamente será televisionada para todo o Brasil e para todo o mundo. O que falar para o amante de tênis no Brasil que acordará mais cedo para acompanhar seu jogo?
Hocevar: Não tenho muito o que falar, e sim fazer. Como fiz e sempre faço em todos os meus jogos, vou jogar confiante e pela vitória. Não tem essa de "desfrutar o momento na quadra central". Sempre entro em quadra para vencer, seja o Hewitt, o Federer ou o número 800 do mundo. Tenham certeza de que lutarei com todas as minhas forças para encher de orgulho toda a minha família no Brasil, meus amigos e todos que gostam de tênis e torcem pela minha carreira.
Publicado em 18 de Janeiro de 2010 às 02:21