Um último truque

Depois de 20 anos no circuito, o jogador conhecido por todoscomo "o mágico" está usando sua varinha pela última vez. Fabrice Santoro agora reflete sobre sua singular carreira

Andrew Friedman em 23 de Julho de 2009 às 06:47

Quando Fabrice Santoro tinha 11 anos, um treinador disse a ele que, se quisesse melhorar seu jogo, teria que aprender a executar seu forehand com uma mão apenas, em vez de duas - como fazia desde que segurara uma raquete de tênis pela primeira vez, aos cinco anos de idade. o jovem Fabrice, que não decidira ainda se passaria sua vida jogando tênis ou futebol, recusou. hoje, ele atribui sua decisão ao instinto, embora reconheça que havia outra razão. Para explicar, ele segura uma raquete imaginária com as duas mãos, maneja-a para esquerda e para direita como um sabre de luz, sorri brincalhão e diz: "se você jogar assim, é divertido". É divertido para os fãs também. nas duas décadas desde que entrou para o circuito da AtP, santoro encantou uma legião de espectadores com um jogo singular e nada ortodoxo - uma agora lendária bagagem de slices e spins, deixadas e lobs. ele desenvolveu esse estilo junto com seu pai, marcel, um antigo goleiro de futebol que percebeu desde cedo que, para compensar seus diminutos 1,78 m e sua empunhadura de duas mãos, seu filho precisaria mover os adversários para os lados, para frente e para trás; do contrário, corria o risco de ser varrido de quadra. somado a esse apelo está o fato de que santoro, cujos olhos pueris podem ser tão expressivos quantos os de Charles Chaplin, apresenta uma cativante indiferença, como se fosse um ator dos antigos Vaudevilles dentro da quadra.

É como se, às vezes, ele encarnasse seus golpes. O estilo está mais para partidas de exibição do que para torneios profissionais - a não ser pelo fato de que Santoro vence muitos jogos e até mesmo alguns títulos de simples.

Homem show
O francês que, aos 36 anos vive a fase final de sua carreira, está longe de ser um astro nos Estados Unidos, mas ele é popular na França e entre os especialistas em tênis ao redor do mundo. Ele também é uma sensação imediata para qualquer um que assista suas partidas, fazendo com que este termine aplaudindo sua astúcia e rindo da rara estranheza de seu jogo. Quando Santoro está em ação, não se sabe o que você poderá ver: voleios por trás das costas, bolas vencedoras por entre as pernas, deixadas com efeito tão grande que fazem a bola voltar para o seu lado da quadra.

Os únicos que não parecem se deliciar com as proezas de Santoro dentro de quadra são seus adversários. Marat Safin, que ostenta o retrospecto abismal de duas vitórias e sete derrotas contra Santoro, disse no Aberto da França deste ano: "Ele deveria ter se aposentado muitos anos atrás. Ele acabou com alguns torneios na minha vida".

O francês já estragou os planos de tantos jogadores top que a palavra "Santorisado" tem sido usada para descrever o fenômeno.

Estilo único
À medida que o jogo começou a se basear mais na força física, o estilo único de Santoro, que tende a tirar os "machões" da quadra, virou sua grande arma. Nick Bollettieri, o pai do jogo de fundo baseado na força, é um admirador. "Não há dúvidas, ele é um brilhante estrategista", diz Bollettieri. "Ele sabe como mexer você pela quadra e então colocar a bola fora de seu alcance. As pessoas falam: ''Ó, ele bate com as duas mãos, ele fatia, corta'', mas ele joga com a cabeça também".

O sentimento ecoa nas palavras de James Blake, que professa ter "uma tonelada de respeito" pelo francês. "Na primeira vez que o enfrentei, ele abriu 4 a 1 em cerca de 10 minutos. Não importa o placar, o jogo com Santoro é sempre diferente do que você espera", diz.

O elogio mais famoso já feito a ao francês aconteceu em 2002, quando Pete Sampras o chamou de "Mágico", um apelido que ficou. Lisonjeado, Santoro diz: "Vou guardar essa frase na minha mente para sempre".

Um estudioso do tênis, além de jogador, Santoro fala abertamente de sua admiração por contemporâneos aposentados - como Sampras e Andre Agassi - e de competidores atuais - como Roger Federer ("Poderia passar horas e horas assistindo a ele jogar"). Ele sempre parece um fã que teve acesso ao vestiário, ou à quadra. Certa vez, após Agassi derrotá- lo, pediu à lenda que lhe desse uma de suas raquetes (e Agassi concordou). Santoro também comprou ingresso para ver a admissão de Sampras no Hall da Fama, em Newport, em 2007, e novamente em 2008, dessa vez para assistir a homenagem a Michael Chang. Em ambos os anos, Santoro venceu o ATP de Newport.

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Recordes

Santoro no jogo mais longo da história

Com essa vitória em Newport, Santoro se tornou um dos dois únicos tenistas com pelo menos 35 anos (ao lado de Agassi) a vencer um torneio ATP desde 1990. Essa é uma das muitas pequenas distinções que ele ostenta. Na Era Aberta, ele jogou mais Grand Slams do qualquer outro jogador (68 com Wimbledon 2009) e venceu a mais longa partida de simples entre homens - ao derrotar, em 6 horas e 33 minutos, seu compatriota Arnaud Clement no Aberto da França de 2004, num duelo que se estendeu por dois dias.

Essas conquistas seriam notas de rodapé para muitos tenistas, mas, para Santoro, são tesouros. "Não sou como Pete, Andre e Federer. Não venci um Grand Slam. Esses recordes mostram que tive uma carreira longa", diz o francês. Embora tenha sido o 17º do mundo em 2001, Santoro parou de se preocupar com o ranking alguns anos depois. "Não tenho a ambição de estar entre os 15 ou 20 melhores jogadores. Minha ambição é estar feliz, estar saudável e aproveitar", afirma o tenista que está sempre dentro ou perto do top 50.

Uma coisa que ele adora é enfrentar os melhores jogadores nas melhores fases. Em 2008, sem nunca ter disputado uma partida de simples no principal estádio de Wimbledon, ele insistiu para jogar na quadra central. Então, percebeu que seu adversário na primeira rodada seria Andy Murray, um amigo e sua alma gêmea em estilo, que define Santoro como "um dos jogadores que mais gosto de ver jogar". Muitos tenistas de ranking mediano teriam entrado em pânico por ter que enfrentar o escocês em ascensão no All England Club, mas não Santoro. "Quando vi a chave, vi Murray e disse: ''Essa é minha chance''". Ele perdeu em três sets corridos.

O segredo é desfrutar

Homenagem na despedida de Roland Garros

Esse olhar distanciado permite a Santoro apreciar a qualidade de suas partidas, tendo vencido ou não. Perguntado quais seriam suas favoritas, ele diz: "Bem, duas boas derrotas, não? As duas em Nova York, para Federer e Blake."

A derrota, em cinco sets, para Blake foi no US Open de 2007, na qual Santoro produziu uma combinação de jogadas incríveis e não parou em momento algum de sorrir - chegando, inclusive, a colocar a língua para fora após o término de um longo ponto que o norte-americano venceu. "Perdi, mas estava tão orgulhoso.

Não tenho certeza se teria aproveitado mais se tivesse vencido o último ponto da partida", conta. Ele faz uma pausa e emenda. "Um pouco mais, mas não muito mais". De modo parecido, depois de ter perdido para Federer em três sets no US Open de 2005, ele disse ao público: "Perdi, mas estou feliz". Hoje, Santoro fala:

"Essa é a verdade. Realmente aproveitei. A partida contra Roger foi maravilhosa." Mas nem sempre Santoro foi bem sucedido ao invocar grandes espetáculos. Ele chegou no Aberto dos Estados Unidos, em 2008, ansioso para enfrentar Andy Roddick na primeira rodada, que estava agendada para acontecer sob as luzes do Arthur Ashe Stadium. Os fãs esperavam uma briga de gato e rato, mas o gato devorou o rato em três sets rápidos. Logo, Roddick explicou. "Se deixar ele entrar no jogo, você terá uma partida difícil. Queria fazer a bola andar e passar por cima dele o mais cedo possível." De sua parte, o francês admitiu que foi desmoralizado.

Santoro brinca que seus golpes de duas mãos dos dois lados são inspirados no manejo dos "sabres de luz"

O último truque
No ano passado, havia o rumor de que Santoro iria se aposentar ao final da temporada. Ele começou a reduzir o número de torneios que jogava e abriu mão de uma carreira vitoriosa em duplas - que incluía dois títulos do Aberto da Austrália e uma coroa de duplas mistas em Roland Garros - porque era demais para seu corpo. Mas, o tenista insiste que seu único comentário oficial aconteceu quando prometeu que, se ganhasse em Newport novamente, voltaria em 2009, uma promessa que ele pretende cumprir. Não é coincidência que Santoro - que certa vez planejou abrir seu próprio museu do tênis após se aposentar - jogue bem em Newport. "Sinto-me em casa por causa do Hall da Fama, da atmosfera", diz. Seu nome foi gravado na base da Van Alen Cup, que fica no Hall da Fama, um ótimo lugar para "O Mágico" realizar sua performance final.

Na coletiva de imprensa, Santoro indicou que ainda jogaria no verão europeu e, então, encerraria. Ele manifestou a vontade de retornar de Genebra, na Suíça, para a França, para passar mais tempo com sua filha de oito anos, Djenae. Falando tanto pelos jogadores quanto pelos torcedores, Blake disse: "Vamos sentir saudade dele quando parar, pois não há outro jogador como ele. E acredito que não haverá no futuro. A maioria das crianças que estiverem aprendendo a jogar dessa maneira vai acabar mudando de estilo depois".

Eles também tentaram mudar o jogo de Santoro, mas ele sabia - mesmo aos 11 anos - que aquele era o estilo que ia funcionar melhor para ele. Estar certo quanto a isso pode ter sido seu maior truque.

From Tennis Magazine. Copyright 2009 by Miller Sports Group LLC. Distributed by Tribune Services

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