Os segredos do saque de Andy Roddick

Por que o norte-americano possui o serviço mais rápido do mundo? Com a análise biomecânica de seus movimentos respondemos a esta questão e ainda damos dicas para melhorar o seu saque

Ludgero Braga Neto em 12 de Novembro de 2007 às 15:18

O saque é o único golpe em que o tenista só depende dele mesmo. Contudo, executar um serviço não é das tarefas mais simples que há no tênis. Enquanto uma mão deve ser levantada lentamente, com a finalidade de colocar a bola no ponto ideal de contato, a outra, que segura a raquete, deve movimentar-se rapidamente em um padrão complexo para golpeá-la, combinando potência e precisão. Assim, os braços - além de prescreverem padrões de movimento e ritmos diferentes -, também devem sincronizar-se aos movimentos dos membros inferiores e do tronco.

É complicado, mas a técnica do saque é essencial para o jogo, ainda mais quando um dos mais antigos ditados do tênis para determinar a qualidade de um jogador diz: "um tenista é tão bom quanto seu segundo serviço". Para ajudá-lo a compreender e dominar esta arte, trazemos uma análise biomecânica do golpe do maior sacador do tênis atual, o norte-americano Andy Roddick, que já anotou 249,4 km/h no saque mais rápido do mundo até hoje. Que características tornam este golpe tão potente e como executar um bom serviço? Acompanhe passo a passo cada etapa.

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Nesta fase, utilizando a empunhadura Continental, Roddick está pronto para iniciar seu característico "Big Serve", golpe que colaborou muito para colocá-lo e mantê-lo quase sempre entre os dez melhores tenistas do mundo. Repare como o pé da frente posiciona-se aproximadamente a 45º em relação à linha de base e o pé de trás fica paralelo à linha.

Contudo, o afastamento entre os pés poderia ser proporcional à distância entre os ombros, como se observa na maioria dos tenistas (detalhe 1). Esta posição mais afastada oferece maior estabilidade para o jogador realizar o balanço: movimento que consiste em iniciar o saque com o peso do corpo mais concentrado no pé da frente, transferindo-o para o pé de trás e, posteriormente novamente para frente em direção à bola.

Apesar de não realizar o balanço de forma acentuada, veremos - nas próximas fases - que Roddick o substitui por um excelente giro de tronco, além da ação efetiva dos membros inferiores, através do ciclo de flexão/extensão dos joelhos.

FASE 2 - Toss (lançamento da bola)
É importante que executar o lançamento de maneira precisa, já que o saque é o único golpe no tênis em que o jogador tem a chance de posicionar a bola para golpeá-la. Lembre-se de que, se errar o toss, as regras lhe permitem abortar o saque e iniciá-lo novamente.

Para que a execução seja consistente, tente não flexionar cotovelo e punho. Faça o lançamento apenas com o movimento do ombro, uma articulação mais estável e mais fácil de ser controlada. Utilize os dedos para lançar a bola, pois eles são mais sensíveis do que a palma da mão (detalhe 2). O cotovelo estendido durante o toss evita que o tenista lance a bola para trás, o que o impediria de realizar a transferência de energia do corpo para a bola.

Repare que durante o lançamento, Roddick já iniciou o giro do tronco para trás, que será uma importante alavanca para gerar potência. No instante em a bola sai da mão dele, a cabeça da raquete já está posicionada acima de sua cabeça, e esta é uma característica durante a mecânica deste golpe que o difere da maioria, pois, na maior parte dos tenistas, a cabeça da raquete está posicionada próxima à altura da cintura (detalhe 3). Esta antecipação, apesar de quebrar o ritmo do saque, pode ser compensada por contrações musculares extremamente rápidas (explosivas) nas fases seguintes.

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Este estágio é caracterizado pelo ângulo máximo formado entre a coxa e a perna. Alguns estudos científicos mostram que este ângulo deve ser de aproximadamente 110º para permitir ao sacador uma impulsão adequada (detalhe 4).

A cabeça da raquete e a mão que lançou a bola apontam para cima, quase formando a letra "W". Veja como Roddick continuou a rotação do tronco para trás e se equilibrou sobre um eixo imaginário que passa pelos seguintes pontos de seu lado esquerdo: mão/cotovelo/ombro/joelho/pé. A manutenção do equilíbrio sobre este eixo nesta fase, evita uma hiper-extensão da coluna vertebral e consequentemente possíveis dores na região lombar.

Outra importante característica na geração de potência é a distância entre a raquete e o tronco: o braço que segura a raquete fica afastado do corpo, permitindo que Roddick tenha maior distância para acelerar em direção à bola. Esta é uma característica marcante entre os grandes sacadores (detalhe 5).

Repare que Roddick projeta o quadril à frente, acima da linha de base. Esta posição facilitará a realização de uma efetiva rotação do tronco para frente, além de iniciar a cadeia cinética, que será explicada posteriormente.

FASE 4 - "La çada "
A fase conhecida como "laçada" consiste em mudar o sentido da trajetória da raquete: de trás para frente, passando pelas costas. Por isso também é chamada de back scratch (coçar as costas). Este movimento consiste em uma importante alavanca do saque.

O giro do tronco para frente é iniciado nesta etapa, auxiliando na geração de potência. Além disso, é o estágio de extensão dos joelhos, que impulsiona o corpo do sacador para cima, aumentando a altura de contato com a bola e, consequentemente, aumentando o ângulo de passagem dela sobre a rede.

Outro detalhe importante é o posicionamento do cotovelo: alto, apontando para cima. Essa posição facilitará a extensão do cotovelo, movimento que conduz a raquete em direção ao contato com a bola, através da ação do músculo tríceps.

FASE 5 - Contato
O que mais chama atenção nesta etapa é a grande perda de contato com o solo (fase aérea). Aqui Roddick mostra um de seus segredos: a potência do saque começa pela base.

Percebemos uma efetiva extensão do cotovelo, aumentando assim o braço de alavanca que gera velocidade. Com o cotovelo totalmente estendido, toda a potência muscular produzida por esta articulação será utilizada, aumentando a altura de contato com a bola.

O braço esquerdo posiciona-se próximo ao tronco, como estratégia de controlar o movimento, auxiliando na precisão do saque.

É nesta fase que a potência do saque é determinada, dependendo principalmente da velocidade instantânea em que a raquete atinge a bola. Porém, estudos mostram que mesmo os melhores sacadores não conseguem atingir a bola com sua máxima aceleração. Na prática, ocorre uma desaceleração pré-impacto, como mecanismo de controle. No saque, esta desaceleração pode chegar a 33%. Isso quer dizer que Roddick poderia sacar ainda mais rápido, se não tivesse que acertar a bola na área de saque.

FASE 6 - Terminação
Também conhecida como fase de aterrissagem. Todo o pé esquerdo toca a parte interna da quadra, mostrando uma eficiente transferência de energia para a bola. O ombro esquerdo, que iniciou o golpe voltado para a rede, agora se volta para o fundo da quadra, realçando a importante função do movimento de giro do tronco (rotação do quadril).

Outro segredo do saque de Roddick é a retirada do braço esquerdo para trás, liberando a continuação do giro do tronco. Alguns jogadores travam este giro, mantendo o braço esquerdo próximo ao tronco (detalhe abaixo). A retirada do braço esquerdo demonstra que Roddick possui uma ampla fase de terminação, tornando a desaceleração do movimento mais suave, evitando assim possíveis lesões causadas por fortes contrações musculares para frear o golpe (contrações excêntricas).

A perna direita alta nesta fase (o "coice") é típica em jogadores que sacam com bastante potência, e consiste em um importante mecanismo para manter o equilíbrio do corpo após o contato com a bola.

Como você pôde perceber, há dois pontos básicos no saque de Andy Roddick: a flexão de joelhos e o giro de tronco. A enorme velocidade atingida por seus saques deve-se, em grande parte, à excelente execução destes dois fundamentos. Para finalizar, explicamos o conceito de cadeia cinética no saque e as técnicas de posicionamento dos pés.

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CADEIA CINÉTICA
A "cadeia cinética do saque" pode ser entendida como a coordenação dos segmentos do corpo, que deve ocorrer em determinada seqüência, na qual a trajetória, a velocidade e o posicionamento da raquete sejam ótimos no momento do contato entre raquete e bola.

Esta combinação inicia-se com a extensão dos joelhos e quadril, somada à rotação do tronco, seguida pela extensão do cotovelo em direção à bola lançada, e culminando com a pronação do antebraço, que gera um rápido movimento da cabeça da raquete em direção à bola. Uma interrupção neste fluxo pode reduzir a efetividade do saque.

Um fator muito comum para esta interrupção é o lançamento da bola (toss) muito acima do ponto mais alto possível de contato. A maioria dos tenistas amadores golpeia a bola após ela atingir o seu ponto mais alto, ou seja, em sua fase descendente. Se isso ocorrer, o sacador perderá o ritmo do saque, pois terá que esperar a bola subir, parar e voltar até o ponto ideal de contato. Também terá que golpear a bola em movimento, pois esta estará descendo. Este cálculo freqüentemente gera erros e o saque pode ser prejudicado com um contato tardio, e sem a total utilização da extensão dos joelhos, quadril e cotovelo. Para que o aproveitamento da potência gerada pelo corpo seja mais efetivo, é interessante que o tenista atinja a bola em seu ponto mais alto, por isso a importância da precisão no lançamento.

POSICIONAMENTO DOS PÉS
Quanto ao posicionamento dos pés, o saque pode ser classificado em duas técnicas: Foot-back - técnica que consiste em manter os pés fixos (próximos ou separados) durante a execução do saque (foto 6);

Foot-up - técnica que consiste em aproximar os pés durante a execução do saque. Eles iniciam-se separados e, depois, se juntam (foto 7);

Roddick utiliza a técnica foot-back. Repare que durante as três primeiras fases ele praticamente não move os pés. A maioria dos técnicos acredita que a técnica footup é a mais aconselhável para aumentar a potência do saque. Porém, durante a condução do pé de trás para frente, o braço dominante do tenista também é conduzido para frente, ficando mais próximo do tronco. Com isso, a distância em que a raquete pode ser acelerada até a bola também diminui. E como vimos anteriormente, a potência depende principalmente da velocidade instantânea da raquete no momento do contato com a bola. Portanto, com a técnica foot-back Roddick pode acelerar mais a raquete até atingir a bola.

Qual a vantagem da técnica foot-up, então? Ela é útil para jogadores de baixa estatura, pois estudos mostram que o foot-up favorece a fase aérea, aumentando o ângulo de passagem da bola sobre a rede.

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