Os incontestáveis donos do tênis mundial

Há três anos, a ATP tem um número inconteste e, há dois, um segundo colocado sempre constante. A cada dia, Federer e Nadal provam que estão muito além de seus concorrentes

Arnaldo Grizzo em 28 de Maio de 2007 às 11:27

NA QUARTA-FEIRA,2 de maio, o mundo viu um duelo interessante entre os dois primeiros colocados do ranking da ATP. Roger Federer, tetracampeão em Wimbledon e invicto há 48 partidas na grama, encarou Rafael Nadal, bicampeão de Roland Garros e há 78 jogos (até 30 de abril) sem perder no saibro. Não, não era a final de um torneio, era apenas uma exibição. Mas não era uma partida comum, era um jogo entre o Rei da Grama e o Rei do Saibro em uma quadra mezzo-calabresa, mezzo-mozzarella, ou melhor, meio grama, meio saibro.

#R#

Nadal venceu a brincadeira por duríssimos 7/5, 4/6 e 7/6 (10) e, como sugeriram, aumentou sua invencibilidade no saibro para 72 partidas e meia. Mas, quem ganhou mesmo foi a Nike, que vai vender tênis a rodo depois desse embate de mais de duas horas, sendo que 50% do tempo foram gastos para a troca de calçados sempre que os jogadores mudavam de lado. De qualquer maneira, esta festa refletiu bem a realidade do circuito masculino nos últimos três anos.

De um lado estava o número um do mundo, há mais de 170 semanas na liderança do ranking. Tricampeão do Australian Open e do US Open e tetra em Wimbledon. Repleto de séries invictas, entre elas as 48 sobre grama. Considerado um dos maiores gênios do esporte. Onipotente, onipresente, onisciente. Praticamente um deus ou um filho dos deuses. Um Perseu que flutua na quadra com as sandálias aladas de Mercúrio e petrifica os adversários com a cabeça da górgona.

Do outro, o segundo colocado, de apenas 20 anos, mas que há dois segue na cola do líder, como um perdigueiro, esperando uma titubeada que demora a vir. Candidato a maior jogador de saibro de todos os tempos, que no ano passado já havia superado a marca de Guillemo Vilas na terra batida (53 partidas sem perder) e em 2007 estendeu este número a um patamar nunca visto. Um guerreiro incansável, tal qual um mirmidão ou um pretoriano, ou ainda um espartano. Talvez ele seja a reencarnação do próprio Leônidas, disposto a enfrentar milhões sem esmorecer.

A regularidade e supremacia de ambos são comprovadas pelo ranking. O suíço tem mantido uma média de mais sete mil pontos e o espanhol, de mais de 4.000.O domínio deles no circuito é tamanho que os terceiros colocados raramente passam dos três mil pontos. Para se ter noção da distância que os separa do restante, o vencedor de um Grand Slam recebe mil pontos, o de um Masters Series, 500. Andy Roddick, Nikolay Davydenko, Ivan Ljubicic não conseguem fazer sombra aos líderes e a briga ultimamente restringe-se a saber quem ocupará a terceira colocação.

BONS COADJUVANTES
E com esse roteiro, a novela da ATP segue durante meses a fio. Os protagonistas brincam de mocinho e bandido, hora um impedindo a façanha do outro, em contendas sempre com enredos parecidos, mas não menos emocionantes. Aos poucos, surgem novos personagens para colocar pimenta na trama. Os nomes mais eminentes agora são: Novak Djokovic, que ganhou o Masters Series de Miami e já apareceu no top 5; Andy Murray, que tem obtido bons resultados e está no top 10; Tomas Berdych e Richard Gasquet, dois garotos que estão prestes a despontar; e Guillermo Cañas, a fênix do circuito.

Muitos vêem Djokovic como uma espécie de sucessor de Federer. O sérvio tem bons golpes e sabe jogar em todas as regiões da quadra. O garoto provou que tem bala na agulha ao vencer Nadal nas quartas em Miami, após perder a final em Indian Wells. Murray é outra jovem sensação, que joga sob a orientação do norte-americano Brad Gilbert, um dos técnicos que melhor saber lapidar talentos. O britânico, de jogo eclético, já derrotou Federer no ano passado.

Berdych e Gasquet são tenistas que há algum tempo chamam a atenção da mídia. O tcheco impressiona por seu vigor físico e as pancadas retas, o francês pela precocidade e extrema habilidade. Ambos sofrem de altos e baixos no circuito,mas são sempre considerados adversários perigosos. Berdych tem vantagem contra Nadal no confronto direto. Gasquet já derrotou Federer uma vez e costuma complicar a vida do suíço.

Djokovic, Murray, Berdych e Gasquet possuem as armas para enfrentar os dois gigantes. Contudo, a presunção da juventude ainda os castiga e os faz cair do cavalo como Belerofontes, Faetontes ou mesmo Ícaros. Por fim, temos Cañas, que podemos considerar o Jason (famoso personagem psicopata que nunca morre nos filmes Sexta-feira 13) desta série. O argentino se tornou o pesadelo de Federer ao batê-lo duas vezes, uma em Indian Wells, outra em Miami. Por incrível que pareça, preparo físico não falta a quem ficou mais de um ano longe das quadras. Para matá-lo, é preciso atirar, com bala de prata, no ventrículo direito do coração. Haja mira! Tanto que, em poucos meses, ele se aproximou do top 20. Mas será que algum desses nomes vai mesmo destronar os dois titãs?

Ídolos

Dez anos após a primeira conquista, Guga perde espaço
Geração que cresceu vendo as vitórias do tenista catarinense se espelha nos novos líderes do ranking

Por Luiz Pires

NO DIA 8 DE JUNHO de 1997, o Brasil via o nascimento de um ídolo. Era domingo, mas o esporte que entreteve milhões de brasileiros em frente da televisão era o tênis. Com a vitória sobre o espanhol Sergi Bruguera na final de Roland Garros, Gustavo Kuerten se tornava o principal candidato a ocupar a lacuna deixada no esporte nacional depois da morte de Ayrton Senna. A “Era Guga” movimentou o mercado esportivo, aumentou o número de praticantes de tênis e fez muitos se espelharem no estilo do tenista para seguir carreira no esporte.

Dez anos depois desta conquista, o catarinense perdeu seu reinado como ídolo absoluto dos adolescentes brasileiros. Kuerten continua sendo lembrado e admirado. “Pude acompanhar o auge da carreira do Guga e ele me inspirou a escolher o tênis como meu esporte predileto. Acho que milhares de crianças no Brasil também se interessaram pelo tênis só por causa dele e hoje admiro a força de vontade que ele tem para voltar a jogar”, elogia a juvenil Maria Sant’Anna, de 16 anos.

Mas o brasileiro tem que dividir o espaço com as feras do tênis mundial da atualidade. Agora o suíço Roger Federer e o espanhol Rafael Nadal são idolatrados pela grande maioria dos jovens que se apaixonaram pelo esporte vendo Guga em ação. Federer é apontado como novo ídolo da garotada por apresentar virtudes como a eficiência, técnica apurada e frieza. “É um jogador completo que consegue dominar seus adversários sem muito esforço”, diz o tenista Roberto Affonso, que tinha apenas dois anos quando Guga venceu em Roland Garros pela primeira vez.

O sangue latino de Nadal fervilha na nova geração. O espanhol é quase unanimidade entre as crianças por herdar de Guga a eficiência no saibro, o ar juvenil, a raça e a persistência dentro e fora das quadras. É um símbolo da juventude e da força no tênis moderno. “Acompanhei pela televisão o Nadal vencer o Brasil Open em 2005 e passei a admirá-lo. Acho-o parecido com o Guga e ainda será o número um do mundo”, revela o tenista Thiago Pinheiro, de 15 anos.

Especial

Mais Especial