Quando trocar o encordoamento da raquete?

Se você só muda as cordas quando elas quebram, chegou a hora de rever seus conceitos

Por Ricardo Dipold em 8 de Dezembro de 2015 às 19:30

POR ACASO JÁ PASSOU PELA SUA cabeça qual seria o momento exato de trocar as cordas de sua raquete? Esse questionamento raramente passa pela cabeça dos tenistas amadores, que, na maioria das vezes, esperam os filamentos quebrarem para encordoar novamente.

Por outro lado, no circuito profissional, a história é completamente diferente. Hoje, dificilmente se vê alguém estourar uma corda durante um jogo e há bons motivos para isso. Primeiramente, vale lembrar que aquele é o trabalho do jogador, cada ponto é extremamente importante, pois cada vitória vale dinheiro. A segunda razão é que o tenista (amador ou profissional), quanto mais tempo passa em quadra, mais aumenta sua sensibilidade quanto aos ajustes finos em seu equipamento e, com essa percepção, é possível sentir que sua raquete e suas cordas já não podem se comportar mais como poucas horas depois de encordoadas. O terceiro motivo é que o tenista profissional tenta, durante o jogo, ter a menor quantidade de variáveis possível, pois assim é mais fácil manter o ritmo e realizar um bom trabalho – se as condições de jogo mudam, há maior chance de perder.

Mas antes de falar sobre a hora certa para trocar de cordas, é preciso compreender como elas se comportam.

A batalha entre corda e raquete

É durante o encordoamento que a raquete sofre o maior estresse. Ela está sendo puxada de um lado para o outro e milimetricamente mudando de forma e tamanho. Depois disso, inicia-se uma batalha de forças entre a raquete e a corda, em que o objetivo maior do aro da raquete é voltar a seu estado de repouso, sem ser pressionado em lugar algum (seria como uma bexiga cheia de ar, se apertamos de um lado, o ar vai se mover para outro lugar, estufando onde achar mais conveniente), e a meta da corda é evitar que isso aconteça, mantendo a tensão instalada e o formato novo, normalmente menor do que o momento “relaxado” da raquete.

Nessa batalha, na maioria das vezes, quem vence é a raquete, por isso, podemos afirmar que todas, sim, absolutamente todas as cordas perdem tensão. Algumas mais, outras menos, mas todas perdem um pouco de tensão mesmo sem serem utilizadas. Estudos mostram que a maior perda de tensão ocorre logo nas primeiras 24 horas depois de encordoada, mesmo quando não é utilizada em jogo. Depois disso, há uma interrupção da perda, que é retomada quando em uso.

Por isso, os profissionais vão para a quadra com muitas raquetes e alguns exigem que suas raquetes sejam encordoadas o mais próximo possível do horário de sua partida. E aqui também temos a resposta do porquê de eles trocarem de raquete de tempos em tempos, pois sentem que a “batalha” entre raquete e corda está sendo vencida pelo aro e, nesse momento, detectam que é necessário encordoá-la novamente.

Você deve trocar de cordas a cada 20 ou 30 horas de jogo

A regra das 20 horas

Mas, para um tenista amador, como saber quando encordoar de novo? Há uma regra básica. O jogador deve monitorar seus jogos, somando a quantidade de horas que este encordoamento está sofrendo. Deve-se contabilizar de 20 a 30 horas de jogo (para deixar claro: horas de jogo), pois, depois desse intervalo, a corda praticamente não contém mais elasticidade, ou seja, a raquete venceu a batalha e voltou a seu estado de repouso. Como a corda perdeu elasticidade, não existe mais aquele mesmo movimento de estilingue que faz com que ela gere potência ou controle nos golpes e, aí, nesse caso, quem está sendo responsável por esse “estilingue” é seu braço, suas articulações – o que aumenta consideravelmente o risco de lesão.

É como um motor que, em vez de estar trabalhando a 2.000 RPM, opera a 8.000 RPM. Um carro andando muito tempo com essa configuração é certeza de ter menor vida útil. Isso sem falar na correção do movimento pelo subconsciente. Queira você ou não, sem perceber, mudamos o movimento para bater mais forte, ou com mais controle.

Em relação aos jogadores que quebram cordas antes desse período de tempo, que utilizam mais topspin, é interessante observar que nem sempre a corda mais rígida é a solução para o problema. Às vezes, uma boa combinação entre cordas rígidas e macias é uma excelente pedida para a durabilidade. Nesse caso, se encordoarmos com um copolímero nas verticais e um multifilamento nas horizontais, há 90% de chance de a corda estourar nas horizontais e, com isso, ganhamos durabilidade.

O calor do snapback

Para esse tipo de jogador, deve-se levar em consideração que as cordas rompem antes do tempo de utilização, pois, o que faz o filamento quebrar não é a força, mas o efeito. A cada golpe, quando a bola entra em contato com a trama, em 0,004 segundo de contato, as cordas se movimentam, esticando-se a um determinado ponto e retornando (total ou parcialmente) a seus locais de origem. Chamamos esse movimento de “snapback”. É como uma chicotada que a corda dá na bola, responsável pelo spin.

Porém, ao mesmo tempo que o snapback é bom para gerar spin, ele gera fricção entre as tramas verticais e horizontais. Esse atrito é tão forte que a temperatura da corda durante o snapback pode atingir aproximadamente 170ºC. Se levarmos em consideração que alguns materiais presentes nos filamentos se fundem a 120ºC, explica-se a aparição daqueles “dentes” ao longo da corda. Eles não indicam perda de material, apenas uma deformação, que deixa mais fino aquele ponto. Quanto mais fina a corda, maior a chance de quebrar.

Com spin ou sem

Com essas informações, chegamos a conclusões interessantes. Se você não joga com muito topspin e intensidade, orgulhe-se de poder usar as cordas mais macias e gostosas do mercado (alguns exemplos: Babolat VS, Wilson Sensation, Babolat Origin, Gioco Grand Slam, Gamma Revelation, Gamma Professional). Você encordoará sua raquete, utilizará por 20 ou 30 horas de jogo e, levando em consideração um tenista que joga três vezes por semana, só teria que trocar de corda em, no máximo, 10 semanas. Se diluirmos o custo da corda por cada mês, o valor não fica tão alto.

Por outro lado, se você joga com muito topspin, o mais indicado seria utilizar um encordoamento híbrido e buscar um especialista (um MRT – Master Racquet Technician) para lhe fornecer a receita correta de acordo com seu estilo, para um melhor custo-benefício e também pensando na prevenção de lesões.

Ricardo Dipold é encordoador MRT e atua nos principais torneios profissionais do Brasil.
pontodecontato@raquetesparatenis.com.br

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