Entrevista

Carol Meligeni: Momento do tênis feminino, nova equipe da Fed Cup e relação com a família

Paulista de 22 anos de idade conversou com a Revista Tênis durante o Encontro Internacional da CBT


Crédito: Green Filmes

Atualmente, o cenário brasileiro de tênis feminino não é dos melhores. No entanto, para Carolina Meligeni Alves, isso não é um fator desmotivador. Aos 22 anos de idade, a tenista natural de Campinas vive a melhor fase de sua carreira e terminou a temporada 2018 como número #2 do Brasil.

Para deixar mais claro o momento do tênis feminino no circuito mundial, temos apenas 16 tenistas com pontos na WTA, sendo que apenas duas delas (Thaísa Pedretti e Nathalia Gasparin) possuem menos de 20 anos de idade.

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Para Carolina Meligeni Alves, existem poucos centros de treinamento no Brasil e muitas das melhores tenistas vão cedo para os Estados Unidos. Isso dificulta o relacionamento de treino entre as jogadoras e muitas optam por ir treinar fora do país. Por exemplo a própria Carol, que agora treina na Argentina.

Confira esses e outros assuntos na entrevista abaixo:

O que está achando do Encontro Internacional da CBT?

Nossa, muito legal. Cheguei e já vi um monte de gente importante, ex-jogadores, um monte de atleta de vários países reunidos. Mesmo sendo uma vez por ano, a gente sabe como é difícil reunir todo mundo, por conta do calendário que cada um tem. Queria até parabenizar a CBT, muito legal a iniciativa.

O que está achando da estrutura da sede da CBT? Já esteve aqui antes?

Eu vim umas duas vezes, para jogar o WTA de Florianópolis, que ocorreu entre 2012 e 2016. Eu não sou a maior fã de quadra rápida, meu estilo é mais para o "saibrão", mas muito legal a estrutura, gostei bastante.

Crédito: Green Filmes

Como é sua rotina de treinos na Argentina?

Eu treino em Buenos Aires há um ano e meio. Gosto muito de lá, os treinos são bem personalizados. São poucas pessoas na equipe, muitos preparadores físicos que se encaixam no que cada um precisa. Fora que lá na Argentina além do meu Centro de Treinamento tem vários outros. Então dá para arranjar vários parceiros de treinamentos, tanto meninas quanto meninos. Se eu quiser bater bola, ou fazer um treino específico, chamo alguém.

No Brasil, como é um país bem maior, é mais difícil de acontecer isso.

Meus treinadores são Marto Veraldi e Majo Gaidano, e lá [A Academia El Abierto, de Hernán Gumy] é minha base, sempre que não estou em torneio estou lá treinando. Acabei de começar a pré-temporada, está bem duro.

O Thiago Monteiro também se mudou para a Argentina. Um dos motivos foi ter mais jogadores profissionais que estão jogando o circuito. Você sentiu isso lá, de ter mais jogadores em um nível maior para te puxar para cima?

Eu estava falando com o Thiago agora, nós viemos no mesmo voo. O Brasil é um país enorme e não tem tanta gente jogando assim. As pessoas que jogam estão bem separadas, porque o país é grande. Acaba não tendo também tantos centros de treinamentos e os que têm, são distantes um dos outros. Fica difícil de conciliar. Os melhores jogadores acabam saindo do país para treinar, então deve ter sido uma coisa que pesou para o Thiago.

Lá em Buenos Aires tem muitos jogadores para ele treinar, desde o juvenil até Top 100, Top 50. Isso faz muita diferença para pegar mais ritmo na pré-temporada, que é quando você precisa fazer a base para o ano inteiro. Conseguir treinar com os caras que estão no circuito e jogam o mesmo tipo de torneio que você é um diferencial. É uma pena que não podemos ter isso aqui, apesar de termos vários centros bons. Aqui [na sede da CBT] tem várias quadras, daria para ter um centro de alto rendimento, mas a galera acaba se espaçando muito. É uma pena.

Crédito: Green Filmes

Como você começou no tênis? Teve muita influência do seu tio [o ex-top 25 Fernando Meligeni]? Ele participa no seu dia a dia dando conselhos?

Eu comecei no tênis desde que consegui pegar na raquete. Meus pais são professores de tênis também, meu tio jogou muito. Não teve como fugir. O tênis sempre fez parte da nossa rotina dentro de casa. Desde pequeninha eu comecei, mas sempre foi muito claro que era uma decisão minha. Tinha que fazer esportes? Tinha, mas foi uma escolha totalmente minha. Eu quis fazer e conforme foi passando o tempo fui melhorando e pedindo mais treinamentos, foi ficando mais sério e comecei a jogar os torneios.

Meu tio influencia muito, ele é um ídolo máximo para mim. A gente se dá super bem, conversamos quase todos os dias e mandamos vídeos e áudios de dez minutos dele analisando meus jogos. Sempre que tem câmera ele vê e se o jogo for perto também. Eu me sinto muito sortuda de ter uma pessoa assim na família que possa me ajudar tanto com vivências, experiências e sensações que ele já teve em quadra. Nos dois últimos anos nós ficamos ainda mais próximos, acho que veio junto com a maturidade. O pessoal sempre pergunta se é uma "pressão" ter o Meligeni na família, mas não, eu levo sempre pelo lado positivo. Realmente ajuda muito, é uma vantagem que eu posso ter em relação a quem não tem essa sorte.

Como é a relação com o seu irmão Felipe?

Eu e o Fê nos damos muito bem. Ele é um pouco mais fechado e não se abre tanto, então ele não pede tanta ajuda, é a personalidade. Mas sempre que eu posso eu vou ver o jogo dele. Na Europa, estávamos no mesmo país, mas em cidades diferentes e eu peguei o trem para vê-lo jogando. É uma prioridade, se estou perto tento ir assisti-lo. Eu tento ajudar, mas sem passar do ponto, porque eu tenho a minha forma de pensar, minha personalidade e até o estilo de jogo que é totalmente diferente do dele. Eu tento sempre passar umas coisas mais mentais para tentar ajudar, já que tenho um pouco mais de experiência em algumas coisas que para ele podem servir.

Crédito: Green Filmes

O que achou da mudança de técnico para a Fed Cup? Você já conhecia a Roberta Burzagli?

Eu já conhecia a Roberta, nós já viajamos para uma gira juntas no juvenil, ela me acompanhou nos Grand Slam e na gira Europa quando eu tinha 17 anos. Eu me dou super bem com ela, assim como me dava bem com o Fernandão [Fernando Roese, agora ex-técnico do Brasil na competição]. Acho que [a mudança] vai ser positiva, é legal ter uma mulher que já jogou, vai ser bem legal para nós.

Acha que por ela ser mulher pode deixar o grupo mais unido?

Pode ser. A mulher sabe entrar por alguns aspectos que de repente o homem não sabe tanto. Eu não fui na Fed Cup desse ano, mas participei da competição ano passado e foi super legal com o Fernandão.

Crédito: Green Filmes

Bate-bola com Carol Meligeni

Qual a adversária mais forte que você enfrentou?

Annika Beck. Ela era 70ª do mundo quando a enfrentei.

Qual torneio que você mais gostou de disputar?

Roland Garros, na época do juvenil.

Qual seu maior sonho como tenista profissional?

É duro falar de ranking, mas o top 100 é um objetivo muito forte para todo mundo. Mas mais do que isso, viver de tênis e ser o melhor que eu puder ser. Mas se eu pudesse escolher seria ser 20 do mundo, 50 do mundo.

Qual sua principal meta para 2019?

Jogar meu primeiro Grand Slam, no quali, e disputar o Panamericano.

Qual time você torce?

São Paulo.

Qual é a sua raquete?

Wilson Ultra.

Qual seu tenista preferido no masculino?

Roger Federer.

E no feminino?

Simona Halep.

Por Vinicius Araujo e Guilherme Souza

Publicado em 12 de Dezembro de 2018 às 16:30


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