Quando o tênis se uniu ao balé

O esporte já fez parte de um espetáculo escrito por famoso músico francês

Arnaldo Grizzo em 29 de Dezembro de 2015 às 12:13

Aqueles que gostam de balé certamente já ouviram falar de Vaslav Nijinsky, o dançarino russo que assombrou os palcos do mundo no início do século XX com suas coreografias arrojadas para os balés da época, especialmente nas peças de Igor Stravinsky. Inovador, Nijinsky sugeriu ao compositor francês Claude Debussy que fizesse algo baseado no jogo de tênis, um esporte que ainda trilhava seu caminho em 1912, ano em que a peça "Jeux" (Jogo) foi composta.

A princípio, o revolucionário dançarino russo propôs a Debussy que o cenário tivesse uma quadra de tênis e um avião caído sendo palco de um triângulo amoroso (dizem que homossexual). O músico, contudo, optou por algo mais simples, apenas uma quadra de tênis que serve de pano de fundo para um trio composto por um homem e duas mulheres.

Quantos encontros amorosos você já presenciou em quadra? Sim, o tênis pode servir de desculpa para se aproximar de alguém. Aquela troca de bolas inocente pode ser um flerte. Aquele convite para uma dupla mista pode transcender os limites do esporte e passar para o jogo do amor.

Nijinsky, um dos maiores dançarinos da história, já usou o tênis como tema de suas coreografias

E assim se desenrola a peça de Debussy, que começa um singela bolinha de tênis rolando para dentro do palco (da quadra). Atrás da bola fugitiva, um homem com a indumentária do tênis da época: calça e camisa brancas e raquete de madeira. A bola segue até onde estão duas mulheres, que se preparam para jogar.

Imitando alguns dos trejeitos do jogo de tênis, todos dançam. Saques, devoluções, voleios são "executados" com graça, como se víssemos os grandes nomes do tênis em ação, mas em câmera lenta, num verdadeiro balé. Nesta peça, o homem esbelto flerta com as damas até conseguir o beijo de uma delas. A outra, ciumenta, também flerta com o galanteador. No fim, o triângulo está formado e o que pareceria incrível tanto na vida real quanto numa quadra de tênis acontece: forma-se um trio harmonioso.

A música de Debussy esgueirase durante toda a peça, ditando movimentos, lembrando mesmo o esporte e suas nuances. Os sons percorrem a obra alternando ritmos e temas subitamente, como ocorre em um verdadeiro jogo de tênis, em que a velocidade da bola e táticas mudam a cada pensamento.

No fim de Jeux, a harmonia conquistada pelos três dançarinos é quebrada assim que uma bolinha rola atravessando o palco. Então, o trio - cada um a seu tempo - é visto saindo do palco atrás daquele objeto que os uniu. O princípio se torna o fim e vice-versa, como a essência do tênis.

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