Vença com dicas de Brad Gilbert

Em seu livro, "Winning Ugly", o treinador norte-americano dá algumas lições básicas para você seguir antes e durante uma partida. São dicas que certamente mudarão o seu jogo


Apesar de ter alcançado o quarto lugar no ranking, Brad Gilbert sempre admitiu que não tinha o talento de rivais como Boris Becker, Ivan Lendl e John McEnroe. Mas ele sabia usar o cérebro para criar chances de sair vencedor contra adversários superiores. No livro "Winning Ugly" (Vencendo Feio), ele dá dicas de como um tenista pode ganhar mais partidas se souber usar a cabeça. Confira algumas: A maneira mais rápida de melhorar o seu jogo é aprender e usar as oportunidades que a partida lhe dá. Em 85% das vezes, o tenista comete erros na preparação ou na escolha do golpe, diz Gilbert. Isso pode ser alterado a partir de três lemas que, juntos, formam o que o norte-americano chama de "Smart Tennis" (Tênis Inteligente).

1 - Reconheça suas oportunidades.
2 - Analise suas opções.
3 - Capitalize a oportunidade utilizando a melhor opção.

Para isso, um tenista deve saber que a partida não começa no primeiro ponto ou no aquecimento. Ela começa muito antes, na sua cabeça. A primeira parte do corpo que se deve aquecer é o cérebro. Lembre-se dos jogos já realizados contra seu adversário. Se ele é um oponente inédito, procure informações.

Faça um exercício de mentalização e imagine alguns pontos sendo disputados na sua mente.

O plano de jogo
O tenista precisa ter duas perguntas respondidas enquanto se prepara:

1 - O que eu quero que aconteça?
2 - O que eu não quero que aconteça?
Para chegar a essas respostas, o tenista deve responder outras quatro questões:
1 - Qual é a principal arma do adversário?
2 - Onde ele é mais fraco?
3 - Qual é o meu melhor golpe e como posso direcioná-lo nas fraquezas dele?
4 - O que posso fazer para impedir que o adversário ataque as minhas fraquezas? Este é um fator importante. Um bom tenista sabe quais são seus pontos fracos. E os melhores chegam ao topo porque sabem escondê-los. Por isso, seja honesto consigo mesmo. Não adianta achar que você tem o backhand do Guga. A realidade é bem diferente e você perderá várias partidas por acreditar que é um tenista melhor do que realmente é.

Aquecimento
No aquecimento há dois erros muito comuns. Há aqueles tenistas que acreditam que vão melhorar e ficam aquecendo por horas. E os que batem apenas três direitas e dizem: "Vamos jogar!".
O segredo é a simplicidade:

1 - Continue o aquecimento físico e o mental.
2 - Faça com que seus olhos trabalhem em sintonia com o corpo para uma melhor produção de golpes.
3 - Tente aprender o máximo sobre seu adversário. Muitos jogadores tentam impressionar o adversário no aquecimento e ficam disparando "tiros" do fundo de quadra. A melhor situação é alongar a bola. Os seis primeiros golpes de fundo devem cair perto da linha de saque. Se forem longos demais, melhor ainda. Isso criará um padrão na sua cabeça e seus golpes serão mais longos durante toda a partida. Uma bola carregada de efeito e funda atrapalha mais do que uma bola chapada no meio da quadra.

A segunda dica para o aquecimento é não "roubar". Mesmo que sua direita seja melhor do que a esquerda, evite fugir do seu lado fraco para bater seu golpe favorito. Na verdade, você deveria fazer o contrário. Se o seu adversário for esperto, acabará descobrindo o seu ponto fraco durante a partida e soltará várias bolas naquela direção. Se o golpe já estiver aquecido, a chance de errar será menor.

#Q#

Nervosismo
É comum que um tenista fique nervoso antes do início da partida. Por isso, Gilbert dá quatro dicas:

1 - Respirar como se tivesse asma. Quando você passa a notar a sua respiração, conseguirá dizer o seu nível de ansiedade. Assim, respire fundo. E crie um ritmo seu.

2 - Movimente os pés. Quando uma pessoa está com medo ou nervosa, repare como não se movimenta. Acontece o mesmo com os tenistas. E uma movimentação ruim acaba com jogo de qualquer um. De que adianta bater uma direita linda, se você não chega em boas condições à bola? Por isso, esteja sempre saltitante e nas pontas dos dedos. Dê passos curtos, leves e rápidos.

3 - Leia a marca da bola. Quando estiver nervoso no aquecimento, tente ler a marca da bola enquanto solta seus golpes. Isso aumentará sua concentração. Ela não estará mais no jogo, e sim em você mesmo.

4 - Cante uma música. Escolha uma canção animada. Cante na sua cabeça nas trocas de lado, ou mesmo entre pontos. Tudo fica mais calmo e fácil.

Começo do jogo

Ron Angle/TPL
Não pense que você é melhor do que realmente é. Portanto, não tente realizar jogadas e golpes que só profissinais conseguiriam.

Acabado o aquecimento, os tenistas fazem o sorteio para decidir quem sacará primeiro. Se a escolha for sua, decida receber. Por quê? Entre os amadores o saque geralmente não é uma grande arma. E será ainda mais fraco no começo. Caso você receba, terá mais tempo para aquecer. Se seu adversário confirmar o saque, não se desespere. Ele fez apenas o seu dever. Mas se você conseguir a quebra, isso já criará uma vantagem mental.

Comece o jogo com sua potência entre 65% e 75%. Assim, você entrará no ritmo, ganhará mais confiança e estará mais ajustado às condições da quadra. Seu corpo ainda não está quente o suficiente para liberar toda a energia necessária nos golpes mais fortes. Os dois primeiros games são muito importantes. Por isso, é preciso atuar de maneira correta:

1 - Não cometa erros não-forçados
2 - Seja sensível no saque. Seu objetivo deve ser:
a) colocar o primeiro serviço e
b) direcioná-lo ao golpe mais fraco do adversário.
3 - Não relaxe. Mesmo que consiga uma quebra ou confirme o saque, mantenha a intensidade e o padrão de jogo.

Em seguida, Gilbert ressalta a frase "Quem está fazendo o que com o outro" para que os leitores entendam o que acontece durante uma partida. Segundo ele, os pontos vencidos ou perdidos seguem um padrão. Cabe ao tenista identificá-los para que consiga neutralizar as armas do adversário.

Outra dica é colocar o desenvolvimento do jogo no papel. Anote os números, como quantos erros você cometeu no último game. Assim você será capaz de descobrir os padrões e perceber as tendências do adversário. Por exemplo, o que ele faz quando tem um break-point contra? Força o primeiro serviço ou prefere apenas colocá-lo em jogo?

Fechadura
Para o treinador, todo tenista é como uma fechadura. Basta encontrar a chave certa para batê-lo. Já entre os amadores, cada jogador possui apenas um golpe em que é bom. Faça com que seu adversário seja obrigado a mudar esse estilo e jogue fora da sua zona de conforto, e sua vitória ficará mais perto. Entretanto, em alguns dias, você não conseguirá encontrar a chave. O importante é tirar lições destas derrotas para continuar melhorando.

Para chegar à vitória, também é importante descobrir as "vantagens escondidas" no jogo. Quando o placar marca 0-30, 30-0, 15-30, 30-15, 30-30 e iguais, você estará mais perto de vencer o game se prestar atenção. Por exemplo, você está recebendo em 30-30. Se vencer o próximo ponto, precisará de apenas mais um para obter a quebra.

Seu adversário terá de vencer mais três para confirmar o serviço.

Quando estiver nesta situação, evite cometer erros não-forçados. Se estiver sacando, coloque o primeiro serviço. Não arrisque um ace ou winner espetacular.

Caso seu adversário arrisque e consiga algum destes, méritos dele. Caso erre, a vitória ficará mais perto. Mas um tenista vencedor também precisa ser agressivo. Contudo, isso não quer dizer bater mais forte na bola. Agressividade é resultado de uma mente mais alerta e ótima colocação dos golpes, como uma bola funda, mas no centro da quadra. Você não está atrás de um winner, porém, poderá forçar o erro do adversário, uma vez que não dará muito ângulo para ele atacar.

As lições de Gilbert parecem simples, mas realmente ajudam. Na maioria das vezes em quadra, o tenista não pára para refletir sobre o que está acontecendo. Simplesmente disputa ponto atrás de ponto. Entretanto, com um pouco de atenção e preparação, é possível derrotar aquele rival "invencível". Pode não ser uma vitória sensacional e bonita, mas será uma vitória no fim do dia.

Gustavo Pereira

Publicado em 28 de Janeiro de 2008 às 15:09


Instrução - Mental

Artigo publicado nesta revista