US Open

A consagração de Nadal, o bicampeonato de Clijsters e os outros personagens do "maior Grand Slam do mundo"



Foto: Ron C. Angle
ALL-COURT PLAYER
Se fosse Zagallo, Rafael Nadal teria vencido o último ponto do US Open 2010 e dito: “Vocês vão ter que me engolir!”. Nos primeiros anos, o espanhol ainda não conseguia dominar a bola (que é mais leve e pega menos spin do que nos outros Grand Slams). Depois, quase sempre chegava ao Aberto norteamericano “bixado”, com os joelhos latejando de dor devido ao impacto das quadras de cimento e de uma temporada superintensa. Mas, desta vez, com um planejamento melhor de calendário e total domínio sobre a superfície que mais lhe incomoda, o rapaz de 24 anos completou seu Grand Slam. Modesto, não falou em recordes, não quis ser comparado aos maiores tenistas de todos os tempos, especialmente a Roger Federer, com quem tem uma relação muito boa apesar da rivalidade nas quadras. No entanto, seu recado está dado: ele vai, sim, perseguir as marcas do suíço e de outras lendas do esporte. Jovem ainda, e no auge, não é de se surpreender que ele vá dominar o circuito da mesma maneira que Federer fez durante quatro anos, de 2004 a 2007, por exemplo.

FAÇANHAS COM O TÍTULO DO US OPEN
1. Nadal se tornou o terceiro tenista mais jovem na história a completar o “Career Grand Slam”, atrás apenas de Don Budge e Rod Laver. O espanhol é o mais jovem a fazer isso na Era Aberta;
2. Ele é o 11o jogador a vencer três Majors em uma única temporada;
3. Junto com Andre Agassi, o espanhol é o único a ter, além do “Career Grand Slam”, a medalha de ouro olímpica;
4. Com nove, ele se tornou o sétimo tenista na história com maior número de Majors conquistados em simples.

Fotos: Ron C. Angle
DE ZEBRA A BARBADA
No ano passado, Kim Clijsters conquistou o US Open poucos dias depois de ter voltado de uma “aposentadoria” de dois anos, tempo em que casou, engravidou e teve sua filha Jada, xodó dos fotógrafos e cinegra stas em Nova York. Neste ano, a festa da pequena se repetiu, com a mamãe Clijsters vencendo seu terceiro US Open. Mas, ao contrário de 2009, desta vez a belga não era uma surpresa, porém uma das barbadas para car com o título, já que Serena Williams, machucada, não estava jogando e poucas outras competidoras tinham gabarito para derrotá-la. Mesmo a tarimbada Venus, a ousada vice-campeã de Roland Garros, Samantha Stosur, e a impressionante Vera Zvonareva não puderam com o “instinto maternal” de Clijsters.

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Fotos: Ron C. Angle
INCRÉDULO
Em 2007, Novak Djokovic teve diversas chances de vencer os primeiros dois sets contra Federer na nal do Aberto dos Estados Unidos, mas não conseguiu. Ele não ganhou o torneio, mas levou o título de “brincalhão”, devido às suas imitações. No ano seguinte, sério (e até mesmo chato), voltou a perder para o suíço, desta vez na semi. Em 2009, já voltando a ser o Djokovic “palhaço”, caiu novamente na semi, em jogo que ficou marcado pelo fantástico Gran Willy de Federer. Agora, depois de três doloridas derrotas, finalmente o sérvio conseguiu superar essa barreira que o impedia de ir mais longe em Nova York. Corajoso, salvou dois match-points contra o suíço e alcançou a final. Porém, mesmo com a chuva (que adiou a final para a segunda-feira pelo terceiro ano seguido) como sua aliada, teve poucas chances contra Nadal. Mesmo sem título, ao menos o rapaz voltou a rir de si mesmo.
AINDA SEM “CARISMA”
Esta já é a segunda final seguida de Grand Slam de Vera Zvonareva e, ainda assim, poucos falam sobre ela. Em junho, ela surpreendentemente chegou à final de Wimbledon. Muitos creditaram isso à natureza da superfície do torneio, que costuma trair as principais jogadoras e consagrar zebras. Meses depois, a russa, que pouco aparece na mídia, fez final do US Open. Perdeu feio para Clijsters, chorou como uma criança ao perceber que havia jogado muito mal, e continua quase que anônima. Parece que, ao contrário do que ocorre com outras meninas do leste europeu – que mesmo sem campanhas tão boas nos principais eventos têm notoriedade por suas belezas e carisma –, Zvonareva terá de se provar constantemente em quadra.
SOBROU MÁGICA, FALTOU CONSISTÊNCIA
Apesar da temporada irregular, Roger Federer chegou em Nova York como favorito novamente. Jogando solto e em casa (o US Open parece que traz o melhor de seu jogo), o suíço atropelou os rivais com verdadeiras aulas de tênis rodada após rodada. Logo na estreia, um Gran Willy magistral contra Brian Dabul. Nas quartas, diante da ventania que atingiu o Arthur Ashe Stadium, ensinou Robin Soderling como se joga em condições adversas. Na semifinal, contudo, fez um jogo inconstante contra Djokovic. Apesar de ter tido dois match-points para selar a vitória e enfrentar Nadal na decisão, falhou e decepcionou o mundo todo que torcia por uma nova final de Grand Slam entre eles.


FEDERER X NADAL
A rivalidade entre Federer e Nadal já se tornou lendária e certamente vem afetando os fãs do esporte. Ao acompanhar um grande evento como o US Open, é interessante notar o comportamento da torcida nos jogos de ambos. Enquanto nas partidas de Federer a torcida parece querer que o suíço tenha uma boa liderança no placar, pois assim talvez ele possa jogar mais solto e desferir aqueles golpes plásticos e incríveis que o consagraram; nas de Nadal, o público parece tentar apoiar seus adversários em alguns momentos, pois assim verão o espanhol se esforçar ainda mais, demonstrando toda a garra que lhe é característica. Ou seja, para ver o melhor de Federer, os fãs sabem que ele precisa estar confortável na quadra e, para ver o melhor de Nadal, muitas vezes é preciso que ele esteja pressionado.

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Fotos: Ron C. Angle
BELEZA NÃO É TUDO
Se vencesse o US Open, Caroline Wozniacki desbancaria Serena e se tornaria número um do mundo. Cabeça 1 da competição, a dinamarquesa – que ousou com um vestidinho bem curto e um decote semi-transparente que realçava suas formas – fez campanha irrepreensível até a semifinal, varrendo da quadra as adversárias, incluindo Sharapova. Tamanha consistência logo a transformou na maior candidata ao título. Mas, na hora de repetir a final do ano anterior, parou em Zvonareva. Serena agradeceu.
Fotos: Ron C. Angle
SERENA FAZ FALTA
Ninguém duvida da capacidade de Venus Williams. Aos 30 anos, ela ainda é número três do mundo, mas não chega à nal do US Open desde 2002, quando, depois de ter vencido em 2000 e 2001, não conseguiu defender o título e perdeu para Serena. Neste ano, mesmo sem a irmã caçula no torneio, Venus não conseguiu e novamente perdeu para Clijsters (desta vez na semi), em uma das partidas mais interessantes da chave feminina do Aberto norte-americano.


TANQUE RUSSO
Que Mikhail Youzhny tem alguns parafusos a menos parece ser consenso entre os críticos. O rapaz é talentoso e possui um jogo extremamente agressivo. Enfrentá-lo é sempre complicado. Nunca se sabe o que esperar devido a seus altos e baixos. Neste US Open, favorecido por quedas precoces de outros favoritos, como Andy Murray e Tomas Berdych, avançou à semifinal. Nadal, contudo, pôs ordem na casa e mandou-o de volta para a Rússia.


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DropsdoUSOpen

REVIVENDO OS CLÁSSICOS
No US Open, além dos grandes ídolos da atualidade, você pode ver “treinar” alguns gênios de outras épocas, como, por exemplo, John McEnroe, Jimmy Connors, Jim Courrier, Martina Navratilova e Todd Martin. Então, no fim da tarde, quando muitos dos tenistas da atualidade já voltaram para o hotel, algumas lendas resolvem bater uma bolinha e reviver seus duelos. Para quem os viu em suas fases áureas, presenciar esses “confrontos” é maravilhoso.
Fotos: Ron C. Angle

PROGRAMA PARA O DIA
Para os norte-americanos, esporte é programa de passatempo para toda a família. Se você já foi a uma partida de beisebol ou futebolamericano, sabe do que estamos falando. Essas duas modalidades são bons exemplos de “programas” para o dia inteiro, pois são jogos demorados e todo o entorno dos estádios está repleto de “atividades” (especialmente as ligadas à gastronomia), de modo que pais e filhos possam passar o dia todo em um único evento. No US Open não é diferente. Famílias inteiras vão para o torneio e passam o dia lá, comendo, bebendo e até assistindo aos jogos.



A VIDA POR UM AUTÓGRAFO
Se você é daqueles fãs incondicionais do tênis e vive tentando pegar o autógrafo de todos os jogadores possíveis, o US Open é o seu lugar. Depois de todo jogo, depois de toda sessão de treino, os tenistas invariavelmente costumam ceder parte de seu tempo para os fãs e assinam bonés, camisetas, ingressos, qualquer coisa. Basta você esperar ao lado da quadra e se esticar sobre a grade. Cuidado, porém, para não exagerar. Neste ano, o título de Nadal quase foi comprometido pelos fãs, que exageraram e, por pouco, não derrubaram a grade de proteção sobre ele.

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VOLUNTÁRIOS E A GLÓRIA DE PARTICIPAR
Ano após ano o US Open bate recordes de audiência. São cerca de 60 mil pessoas andando pelos complexo Billie Jean King em cada um dos dias da primeira semana de torneio. Isso só contando o público, pois há ainda centenas e centenas de participantes no staff do evento, como seguranças, boleiros, faxineiros, juízes de linha, motoristas, cozinheiros etc. E acredite, grande parte desse pessoal trabalha voluntariamente, só pelo prazer de participar. Há outros ainda que, como os tenistas, brigam por uma vaga na competição: os cantores mirins. Todas as noites é cantado um hino norte-americano na abertura da sessão. Para isso, são selecionados meninos e meninas em um concurso extremamente disputado. Talvez até mais duro do que o qualifying do US Open.

DEMOCRÁTICOS
Neste ano, a USTA promoveu o US Open National Playoffs. Desde abril, a federação promoveu 16 competições abertas para quaisquer participantes acima de 14 anos. Os vencedores desses torneios regionais se reuniram dias antes do início do US Open para as finais, que decidiam quem ficaria com uma vaga no qualifying do Grand Slam. No fim, Alexandra Mueller e Blake Strode (foto), depois de muitas e muitas disputas, garantiram suas vagas.

PARA APARECER?
Nova York é a Big Apple. O US Open é um dos maiores eventos da metrópole. Então, além de atrair os maiores tenistas do mundo, o evento atrai celebridades de outras áreas, especialmente artistas. No primeiro dia, por exemplo, o ator Alec Baldwin e a atual Miss Universo, a mexicana Ximena Navarrete, passaram por lá. Depois, foi a vez da modelo e atriz Charlize Theron, do ator David Duchovny e sua esposa Tea Leonia, da ginasta Nastia Liukin etc.

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Fotos: Divulgação US Open.org
O CLIMA, SEMPRE
O fim do verão norte-americano repete as mesmas cenas: chuva, vento e calor, não necessariamente nessa ordem. Desta vez, o torneio começou com um calor infernal e os jogadores passando mal em quadra. Depois, como também ocorre quase sempre, um furacão subiu pela costa leste norte-americana, perto de Nova York. Neste ano, contudo, o Earl (nome com que foi batizado) passou e não trouxe chuva como de costume. Dois dias depois, porém, um estranho “vento residual” soprou no complexo, desafiando a técnica dos tenistas. Por fim, veio a chuva, que há três anos adia a final masculina para a segunda-feira e revive a questão de quando o US Open terá um estádio coberto.

Júlio Silva
INCANSÁVEL, “CANSÁVEL”
A participação brasileira no US Open foi discreta. Thomaz Bellucci e Ricardo Mello, os únicos que se classificaram antecipadamente para o torneio, pararam na segunda rodada. Os duplistas, Marcelo Melo, Bruno Soares e André Sá também não conseguiram ir longe. O único destaque foi o experiente Júlio Silva. Mesmo os 31 anos, idade em que muitos já pararam de jogar, o jundiaiense, além de continuar na ativa, ainda se dá o luxo de tentar a sorte no qualifying do US Open, jogando contra adversários duríssimos em um piso que não é o seu melhor. Diante das adversidades, ele não se fez de rogado e foi premiado pela ousadia e pela persistência com uma vaga na chave principal após vencer três oponentes duros no quali, incluindo o francês Nicolas Mahut (aquele mesmo do recorde de jogo mais longo contra John Isner em Wimbledon). Após a classificação, contudo, Julinho não teve fôlego para aguentar Pablo Cuevas. Mesmo assim, seu esforço e dedicação valem como exemplo.
MUDANDO DE ROSTO
Se nos anos anteriores a USTA (federação norteamericano de tênis) usava a imagem das irmãs Williams, de Andy Roddick, James Blake, Mardy Fish etc para ostentar nos cartazes publicitários do US Open, agora eles resolveram investir pesado nas caras novas como Melanie Oudin, John Isner e Sam Querrey, por exemplo. Essa trinca está por toda a parte, com seus rostos em diversas campanhas publicitárias vinculadas ao torneio e seus principais patrocinadores.

Melanie Oudin
Arnaldo Grizzo

Publicado em 27 de Setembro de 2010 às 06:22


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Artigo publicado nesta revista

Nadal completo - US Open 2010

Revista TÊNIS 84 · Outubro/2010 · Nadal completo - US Open 2010