Uma mão só? Não, duas

O "Mago" Fabrice Santoro estará no Brasil para disputar o Grand Champions e mostrar seu estilo singular


Ron C. Angle/TPL

CADA FÃ GOSTA DE ASSISTIR ÀS partidas de determinados jogadores por motivos distintos. Há quem goste de ver Federer. Sim, a plasticidade do jogo do suíço é inigualável. Há os que admiram Nadal. Sua garra, seu espírito combativo são um show à parte. Há aqueles que apreciam Djokovic. Com regularidade e irreverência, ele domina o circuito atual. Enfim, cada tenista tem um estilo e cada estilo tem seus seguidores mundo afora.

Em 1988, o tênis ainda tinha ídolos como John McEnroe, Ivan Lendl, Boris Becker e Stefan Edberg atuando, quando um jovem francês, de 1,78 m (estatura não muito privilegiada para o tênis), nascido no Taiti, fez seus primeiros jogos no circuito profissional e chamou a atenção. Não por ser um prodígio em que todos apostavam, mas por apresentar um estilo completamente singular. Fabrice Santoro "assustava" os adversários ao golpear tanto o backhand quanto o forehand com duas mãos. Mais do que isso, fazia-o de forma bastante desajeitada, às vezes usando efeito topspin, outras tantas usando slices. Enfim, era uma anomalia.

Seu jogo era um espetáculo quase sem precedentes. Baixo, sem um grande saque (em uma era de sacadores vorazes), ele precisava correr de lado a lado da quadra, devolvendo todas as bolas, para poder aguentar a força dos oponentes. Com o tempo e devido ao estilo único, tornou-se um grande estrategista, pois, para vencer (já que não contava com a mesma força nos golpes que os oponentes) era necessário usar todas as armas possíveis, mudando constantemente o ritmo do jogo.

Em mais de duas décadas de carreira, o francês lutou contra os mais duros adversários de todas as formas possíveis e nunca suplantou a 17a posição no ranking da ATP, assim como também nunca passou das quartas-de-final de um Grand Slam (aliás, fez quartas uma única vez, em 2006, no Australian Open). Ainda assim, suas partidas sempre atraíram enorme público. Seu estilo heterodoxo era uma atração, sim. Mas, além disso, ele ainda era extremamente irreverente em quadra - mesmo sendo uma pessoa um tanto tímida fora dela.

Fotos: Ron C. Angle/TPL

VAMOS ENTRETER

"Estamos em quadra para dar espetáculo, as pessoas pagam para ver show. Não importa se ganho ou se perco". Essa foi a filosofia de Santoro durante toda a carreira. Showman, o francês admite que somente manteve seu estilo singular por ter sido muito teimoso desde criança, pois, aos 11 anos, um professor tentou convencê-lo a jogar "como todos", com uma só mão no forehand, do contrário, nunca seria um profissional.

Logo ele provou ao professor que estava errado, ganhando títulos de grandes torneios juvenis europeus com 12, 14 e 16 anos. Em 1988, ganhou o Orange Bowl. Em 1989, Roland Garros juvenil, e terminou como o segundo melhor juvenil da temporada.

Mais do que se tornar um profissional, o "Mago" atravessou duas décadas no circuito, coisa para poucos mortais. Ele começou na era clássica de McEnroe, Lendl, Edberg, Becker - contra quem jogou pela primeira vez em 1990, aos 17 anos, e lembra de ter pensando: "Sinto-me tão pequeno se comparado com ele. Ele vai me matar".

Depois, passou pela geração de Pete Sampras (que foi quem o apelidou de Mago após vencê-lo em uma batalha épica em Indian Wells 2002), Andre Agassi, Jim Courier, Thomas Muster, Marcelo Rios, Yevgeny Kafelnikov (contra quem sua magia nunca surtiu efeito, tanto que o russo uma vez lhe disse: "Você nunca vai me vencer") e outros tantos gênios da década de 1990.

Chegou, enfim, em plena forma aos anos 2000, enfrentando a juventude de Gustavo Kuerten, Lleyton Hewitt, Carlos Moyá, Juan Carlos Ferrero, Andy Roddick, Marat Safin (que admitia ter pesadelos com Fabrice Santoro), até a geração mais recente de Federer (contra quem ele admite ter gostado de jogar, por ser um tenista que "faz tudo o que você gostaria de fazer em quadra") e Nadal.

Resumindo, para se ter uma ideia da longevidade do jogo de Santoro - que se aposentou em 2010, aos 37 anos -, em pouco mais de 20 anos de carreira, ele enfrentou 20 números um do mundo. Um feito esplêndido.

 

RAQUETE PESADA

Usar as duas mãos para golpear a bola não é algo tão incomum de se ver em uma criança ainda hoje. Quando Santoro foi iniciado no tênis, aos seis anos, com as raquetes de madeira pesando uma barbaridade, essa era, na verdade, a única opção que o menino franzino tinha. Com o tempo, a maioria das crianças solta as duas mãos para bater o forehand (e o backhand também, às vezes) à medida que crescem e ficam mais fortes. O francês acabou mantendo aquele estilo e isso moldou todo o seu jogo. "Minha forma de jogar é bastante natural. É o tipo de jogo que tenho desde pequeno", acredita Santoro.

Para quem não o viu jogar ao vivo e não faz ideia de quão estranho - porém agradável de ver - era o seu jogo, vale a pena entrar no Youtube e fazer uma busca por seu nome. Lá irá aparecer uma lista de vídeos de coletâneas de jogadas geniais - e pouco prováveis - que somente alguém com o estilo de Santoro seria capaz de executar.

Seus golpes estranhos deixavam os adversários loucos. "Meu jogo pode ser um pouco frustrante para o rival", diz o francês. Safin foi um dos que perdeu as estribeiras. A persistência de Santoro, com seus slices venenosos, deixava-o louco. "Ele tinha tudo para ganhar de mim, mas não acredita nisso", lembra o francês, que venceu sete de nove duelos com o russo. Contudo, o "Mago" tem excelente retrospecto com outros dois grandes tenistas. Em seis jogos contra Agassi, Santoro venceu três, o mesmo número de vezes que bateu Sampras, contra quem ele jogou sete vezes.

Em compensação, dois russos lhe derem dor de cabeça. Kafelnikov e Nikolay Davydenko. Ambos o derrotaram nos seis confrontos que fizeram. "Não sabia como jogar contra Kafelnikov. Todas as armas do seu arsenal eram melhores do que as minhas", admite. Mas, o maior de seus algozes é Federer, que o derrotou nove vezes em 11 partidas. "Gostava de estar em quadra contra ele, mesmo sabendo quase que com certeza que ia perder", revela.

Santoro aposentou-se em janeiro de 2010, após perder a primeira rodada do Australian Open - no 70o Grand Slam de sua carreira. Se não conseguiu grandes resultados em simples (apesar de ter seis títulos de ATP), nas duplas foi um mestre, atingindo o sexto lugar no ranking e conquistando 24 títulos, sendo dois Grand Slams (com Michael Llodra na Austrália em 2003 e 2004) e mais um Major de duplas mistas com Daniela Hantuchova em Roland Garros 2005.

Enquanto ele ainda jogava no circuito profissional, muitos diziam que seu estilo estava mais para partidas de exibição do que para os campeonatos da ATP. Agora, é exatamente nos torneios de veteranos que o encontramos empunhando sua varinha mágica com as duas mãos.

GRAND CHAMPIONS BRASIL 2012

Fabrice Santoro é uma das principais atrações da sexta edição do Grand Champions Brasil 2012, torneio da série Champions Tour da ATP, que conta com ex-profissionais que já foram número um do mundo, finalistas de Grand Slam e Copa Davis. O francês estará jogando ao lado de Mark Philippoussis, Guillermo Cañas, Flávio Saretta, Thomas Enqvist e Albert Costa. Veja aqui a programação do torneio que será realizado no Clube Harmonia de Tênis, em São Paulo, de 10 a 13 de maio.

QUINTA-FEIRA - 10 MAIO
18:30
20:30
Mark Philippoussis x Guillermo Cañas
Flávio Saretta x Fabrice Santoro
SEXTA-FEIRA - 11 MAIO
18:30
20:30
Albert Costa x Fabrice Santoro
Thomas Enqvist x Guillermo Cañas
SÁBADO - 12 MAIO
18:30
20:30
Flávio Saretta x Albert Costa
Thomas Enqvist x Mark Philippoussis
DOMINGO - 13 MAIO
11:30
13:00
Disputa de 3º e 4º lugar
Final
Arnaldo Grizzo

Publicado em 24 de Abril de 2012 às 08:32


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista