Trocar ou não trocar, eis a questão

Está cansado de olhar para aquela raquete surrada que lhe acompanha há anos? Talvez esteja na hora de trocar por uma nova e, com isso, também melhorar o seu jogo


Ron C. Angle

Você abre a raqueteira e lá está ela. Maltratada pelos anos, mas ainda de inestimável valor sentimental. Aquela raquete velha, comprada há séculos, costuma ser o seu xodó? Você olha os modelos novos nas lojas, mas não consegue largar aquele "taco" antigo, pelo qual tem tanto carinho, cujo cabo até pegou o formato de sua mão? Meu amigo, um conselho: saia desse "relacionamento". Isso não está levando você a lugar algum.

Trocar de raquete é sempre uma boa pedida quando estamos querendo mudar algo em nosso jogo. E, a verdade é que sempre estamos querendo mudar para poder melhorar, subir de nível, vencer! E a raquete, como o principal instrumento do tênis, junto com bolas e cordas, deve estar dentro dos planos de mudança.

Todo ano a Revista TÊNIS recebe diversos e-mails de leitores questionando sobre raquetes. "Vocês já testaram esse modelo? O que acharam?"; "Vocês acham que essa raquete serve para o meu estilo de jogo?"; "Qual é o modelo que o fulano está usando agora? Eu quero uma igual"; e não poderia faltar a pergunta fatídica: "Eu jogo com esse modelo, mas estou pensando em trocar. O que vocês aconselham?"

Ó, dúvidas cruéis. Não, não é fácil "pendurar" a sua velha raquete e desembolsar aquela graninha suada em um novo modelo. Além de um negócio caro - já que infelizmente os preços para os assessórios de tênis ainda são um pouco salgados no Brasil -, é um pouco arriscado, já que nem sempre o sucesso desse investimento é garantido. "E se eu não gostar da nova raquete?"; "E se meu braço começar a doer, minhas bolas pararem de entrar?". Essas e muitas outras dúvidas sempre antecedem a compra.

Pensando nisso, a Revista TÊNIS traz um guia para que você que saiba a hora e a raquete certa para comprar. Quais detalhes deve observar? Como cuidar da raquete? Vamos responder essas e outras perguntas, e a primeira: "Vale a pena comprar uma raquete nova?", respondemos de prontidão: "Vale". E isso vamos demonstrar a seguir.

Uma raquete para cada um

Dicas simples para cada tipo de tenista:
Iniciante - raquetes simples e mais baratas, que serão somente a porta de entrada para o mundo do tênis. Com a evolução do jogo, deve-se procurar uma nova raquete.
Intermediários que jogam com força e swing longo - opte por raquetes de peso médio (por volta de 300 gramas ou menos, de preferência), aro não muito grosso (cerca de 20mm), tamanho médio de cabeça (por volta ou abaixo de 100 in2) e padrão de cordas mais trançado (18 cordas horizontais por 20 verticais, por exemplo), cuja distribuição do peso seja equilibrada ou mais voltada para o cabo. Isso lhe dará mais controle nas batidas.
Intermediários que precisam gerar potência nos golpes - tente raquetes também de peso médio (300 gramas ou menos, de preferência), mas com aros mais grossos (mais de 25mm), cabeças maiores (por volta ou acima de 100 in2), padrão de cordas menos denso (16 x 19, por exemplo) e peso mais voltado para a cabeça. Isso facilitará a alavanca do movimento e gerará mais potência.
Tenistas habilidosos que gostam de jogar com toquinhos - experimente raquetes de peso médio, cuja distribuição seja equilibrada entre cabo e cabeça, ou então até mais voltada para o cabo, o que facilita o manuseio. Também opte por cabeças menores (95 in2, por exemplo) e aros mais finos, para ter mais precisão.
Tenistas que buscam ter mais controle nos golpes de fundo - tente raquetes um pouco mais pesadas do que as que usa atualmente, ou então com cabeças menores, aros mais finos, padrão de cordas mais denso e peso mais voltado para o cabo.
Tenistas que sentem dores no braço - primeiramente, consulte um especialista para ver se o problema é mesmo da raquete ou é técnico. Se for da raquete, o problema pode estar em duas áreas: peso ou vibração. Se for peso, a dor geralmente será muscular (cansaço por empunhar uma raquete tão pesada) e basta encontrar modelos mais leves. Se for vibração, a dor costuma ser nos tendões e, para resolver o problema, é interessante procurar raquetes com sistemas de amortecimento mais avançados.
Tenistas que não querem mudar de estilo de raquete - se sua raquete é de um modelo bastante antigo e muitos outros já surgiram desde que você a comprou, talvez seja a hora de pensar em adquirir algo novo. Quase todos os modelos antigos possuem versões novas todo ano, pergunte ao lojista. Mas, se quiser mudar de marca sem perder o estilo da raquete anterior, também é fácil, pois há diversas similaridades no mercado.

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Por que trocar ?

Você já joga há algum tempo e está acostumado à sua raquete. Porém, sente que algo em seu jogo ainda pode evoluir, mas está estagnado. Logo começa a pensar que uma troca nesse momento seria bem-vinda, talvez inspirado no lançamento de uma nova tecnologia usada pelas maiores "feras" do circuito. A conclusão parece óbvia, porém nem sempre é tão simples como parece.

O primeiro ponto básico que se deve observar é o tempo de uso de sua antiga raquete. Em geral, os modelos têm um "prazo de validade" bem grande, mas isso varia bastante conforme as condições de uso. Em geral, o fabricante - embora esse número nunca fique claro - indica uma quantidade máxima de encordoamentos que se deve fazer. Sendo assim, é importante saber se você é daqueles que judiam de suas cordas e as quebram a cada treino ou se é daqueles que jogam mais aos finais de semana e demora meses para precisar trocar o encordoamento.

Um bom exemplo disso pode ser os próprios tenistas profissionais, que dificilmente ficam mais de nove meses com uma mesma raquete. No caso de tenistas amadores, principalmente aqueles que batem a sua bolinha de duas a três vezes por semana, o "prazo" sugerido por especialistas varia de dois anos e meio a três.

Um outro caso bastante comum e recomendável de troca é para tenistas que estão em plena evolução no esporte. Isso vale, claro, para jogadores iniciantes e intermediários, que tendem a evoluir em ritmo muito mais acelerado. Cada tecnologia, peso e as outras tantas características das raquetes variam de acordo com o nível do jogador. Sendo assim, um modelo que era ideal quando você começou a jogar, por exemplo, já está longe de servir se você evoluiu e agora bate na bola com muito mais força e precisão. Nesse caso, uma troca é sempre uma boa pedida.

Escute especialistas

Porém, saber a hora de trocar a raquete não é a única questão. Uma vez decidido quanto à compra, é extremamente importante saber qual modelo você deverá escolher para ser sua "companheira" durante os próximos anos. Como em qualquer área da vida, escutar a opinião de especialistas e pessoas mais experientes é primordial. No caso do tênis, vale ouvir a palavra do professor, que é quem mais conhece seu jogo e quem mais sabe como você pode evoluir. Uma vez recebida a instrução de seu "tutor", é hora de ir a uma loja e escutar o vendedor (é sempre bom ir a lojas especializadas, em que os atendentes certamente estão por dentro de todas as novas tecnologias) e ver quais modelos você pode e deve testar.

Com o perdão da comparação, é mais ou menos como se o professor fosse o médico e o lojista o farmacêutico. Em outras palavras, o professor vai lhe dizer se deve usar uma raquete mais leve, mais pesada, com um swing curto, médio ou longo etc. O atendente, já atualizado quanto às tecnologias, indicará os modelos mais modernos para o tipo de jogo que você possui.

Raquetes demo

Poucos sabem, mas uma prática ainda não muito comum, mas muito recomendável, é alugar uma raquete demo em uma loja. Nesse caso, a dica é válida mais para tenistas avançados, já que é raro encontrar modelos intermediários para avaliação. O motivo, explicam os especialistas, é que os iniciantes não têm ainda experiência suficiente para diagnosticar se aquela raquete com que bateu apenas algumas bolas é a ideal. Já um tenista avançado, com muito mais "horas de quadra", saberá distinguir entre dois ou três modelos (o número recomendado) e perceber qual se encaixa melhor em seu jogo.

Para alugar uma raquete demo basta ir às lojas especializadas, deixar um chequecalção com o valor do modelo e seguir para a quadra. Normalmente, costuma-se dar um prazo de três a quatro dias para os testes e, para alegria dos que batem mais forte na bola, não é cobrado um novo encordoamento em caso de estourar a corda.

Dicas na hora de comprar

Dicas simples para cada tipo de te nista:
Aceite conselhos, especialmente de seu professor. Ele sabe em que áreas você pode melhorar e como uma determinada raquete vai lhe ajudar;
Ouça o lojista. Ele conhece as novas tecnologias e tem como saber os modelos que podem lhe agradar ou não;
Tente testar a raquete antes de comprar. Isso diminui muito a chance de cometer um erro na hora da compra;
Se estiver procurando algo similar ao que tinha antes (com as mesmas características) confira o peso, a espessura do aro, o tamanho da cabeça e especialmente a distribuição de peso.
Se tudo isso bater, a chance de errar é mínima;
Um tenista "de verdade" (que joga algumas vezes por semana e costuma quebrar cordas com certa frequência) não compra apenas uma raquete, mas um par;
Fique atento ao encordoamento. Não adianta comprar uma raquete top e colocar "linha de pesca" como corda.

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Dê tempo ao tempo

Escolher uma nova raquete requer um tempo de meditação e também de testes. Contudo, é preciso ter em mente que, assim como se adaptar a uma nova técnica (bater o backhand com uma mão em vez de duas), uma mudança na raquete pode requerer um tempo de adaptação. É preciso reconhecer os pontos fortes do novo modelo e estar disposto a fazer pequenos ajustes em sua técnica se isso se mostrar necessário.

Lembre-se: a raquete deve lhe ajudar a melhorar e não causar desconforto. Toda mudança, no começo, causa estranheza, mas, quando é para melhorar, é preciso ser persistente. No entanto, se mesmo depois de um tempo jogando você ainda não se sentir confortável e nem notar que poderá evoluir, é bom pensar que cometeu um erro ao fazer sua escolha.

Cuidado com a raquete

Uma vez escolhida a sua nova companheira, é hora de se ate ntar a alguns det alhes importantíssimos referente s a cuidados que se de ve te r ao tratar de sua raquete :
Nunca deixe a raquete no porta-malas do carro ou exposta a altas temperaturas, já que ela pode envergar ou até trincar;
Nunca bata sua raquete no chão, no cabo que sustenta a rede ou nas telas de proteção, pois tudo isso diminui seu tempo de vida;
Evite contato com produtos químicos;
Sempre guarde na raqueteira, em uma capa ou nas chamadas "thermobags".

Qual a raquete ideal para meu nível?

Se o objetivo é se inserir no esporte e dar as primeiras raquetadas, o conselho é buscar, primeiramente, um modelo mais barato (e existem, sim, modelos em conta e de qualidade para iniciantes). Nesse caso, as tecnologias que atualmente dominam o mercado são as que trazem materiais que misturam metal e grafite. Leves e resistentes, elas darão um suporte ideal para os "marinheiros de primeira viagem".

Uma vez que você já esteja a algum tempo dentro do tênis e seu nível tenha melhorado, é hora de buscar um modelo mais adequado para a força e controle dos seus golpes. Estamos falando dos tenistas intermediários, que representam a maior parcela dos consumidores. O ideal é sempre buscar a opinião do professor. Porém, uma dica é procurar modelos de swing moderado, aqueles que privilegiam o controle ao invés da potência. Embora nessa fase já se comece a querer imitar o que os grandes astros fazem em quadra, não é recomendável buscar modelos pesados, já que certamente seus braços não aguentarão a pressão e começarão a acusar dores em médio e longo prazo.

Se para os iniciantes a tecnologia não requer tanta modernidade, com os tenistas intermediários os modelos já começam a trazer tecnologia de ponta e oferecem materiais ultradesenvolvidos. Atualmente, os materiais dominantes são grafite e carbono.

Daqui para frente, a opção por novas raquetes deixa de envolver tecnologia e passa a contar apenas com perfil e preferências. Tenistas avançados já começam a optar por modelos mais pesados, sendo que alguns chegam a acrescentar peso extra à raquete. Uma vez que seu jogo está evoluído, você tem uma vasta experiência e sabe exatamente do que precisa, começando a ser dispensável a ajuda de tantos especialistas. Afinal, quem conhece a raquete ideal para o seu jogo é você, que deve sempre estar confortável com o instrumento que leva em mãos.

Cuidados com o encordoamento

As cordas exercem papel fundamental não só em seu jogo como também na duração de sua raquete . Sendo assim, é imprescindível atentar para alguns detalhes para fazer o melhor uso possível de seu modelo:

Encordoar com profissionais de confiança e que possuem máquinas modernas, de preferência as de seis pontos;
O encordoamento deve sempre começar do meio para fora;
Sempre respeitar a tensão de libras recomendada pelo fabricante;
Trocar de cordas a cada três meses (em média);
Evitar jogar na chuva, já que a água danifica o encordoamento (ao contrário do que se ouve por aí, a chuva não estraga a raquete, apenas a corda);
Uma vez estourada a corda, terminar de cortá-la imediatamente - já que deixar por dias com apenas uma corda rompida pode envergar a raquete devido ao desbalanceamento de tensão;
Na hora de cortar, comece pelo meio e vá para fora;
Assim como as raquetes, as cordas possuem características diferentes e ideais para cada tipo de jogo, então sempre procure a opinião de especialistas para ver a que se adequa melhor a você.

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Ron C. Angle

A raquete do profissional

Mais do que as marcas, os nomes dos jogadores dominam quaisquer comentários sobre uma raquete. Os amantes de tênis, inspirados nos golpes magistrais de seus ídolos, costumam se referir ao principal instrumento desse jogo como "a raquete do Federer", "a raquete do Nadal", ou "aquele modelo do Djokovic". Estes ícones, claro, são o carro-chefe de qualquer grande fabricante, já que certamente levam uma legião de admiradores às prateleiras atrás da raquete que usam nos principais torneios do planeta.

Embora não empunhem esse instrumento com tanta maestria quanto seus ídolos, os praticantes de tênis não medem esforços para tentar repetir pelo menos um pouco do que vêem na tevê. Sendo assim, muitos enxergam nas raquetes a grande chance de se aproximar dessas estrelas. Seja o tenista iniciante, intermediário ou avançado, a tendência em optar pelo mesmo instrumento de um de seus admirados é muito grande.

Entretanto, Federer é Federer, Nadal é Nadal, e cada um tem sua particularidade. E elas são tantas que cada tenista costuma ajustar sua raquete ao seu gosto. Assim também funciona com você, que certamente possui características técnicas diferentes dos profissionais. Portanto, por maior que seja a idolatria, não necessariamente (embora até possa acontecer) a raquete de um deles será a ideal para o seu jogo.

Ron C. Angle

Raquete nova faz diferença no jogo?

Você pode não acreditar, mas empunhar uma raquete nova faz, sim, diferença no seu jogo (tanto para o bem quanto para o mal - caso a escolha seja mal feita).

O primeiro motivo para fazer diferença é: se você está buscando algo novo, é por que quer melhorar. Sendo assim, sua cabeça já está trabalhando nesse sentido e segurar uma raquete nova na mão significa uma mudança e lhe dá um novo ânimo.

Fora isso, há, também, a questão tecnológica. Nesse tempo de grandes transformações em que estamos vivendo, uma tecnologia criada hoje está ultrapassada amanhã. Com isso, acreditar que aquela raquete de madeira de seu avô é tão boa quanto as mais novas lançadas no mercado é pura ilusão. A composição das raquetes muda todo ano. Um novo sistema de amortecimento com melhor absorção de impacto, materiais mais leves e flexíveis; tudo coopera para que os novos modelos sejam, sim, (muito) melhores do que os antigos.

Faça o teste. Pegue uma raquete antiga. Aquela que você guarda de recordação da época em que tinha começado a jogar. Tente bater com ela. Sim, você vai conseguir. Vai até bater aquela nostalgia, mas a verdade é que as novidades são sempre mais eficazes. Há alguns anos, cada estilo de raquete (para iniciantes, intermediários e avançados) só servia para seus respectivos públicos. Agora, essa divisão continua, mas uma pessoa mais atenta vai perceber que raquetes que antes poderiam ser consideradas para um determinado públicoalvo (pessoas mais velhas, por exemplo), agora possuem todas as tecnologias mais modernas e são capazes de se ajustar aos golpes de uma vasta gama de tenistas dos mais variados níveis.

Isso reflete o quanto as raquetes evoluíram com o tempo (não só esteticamente) e que elas são um instrumento vital para melhorar o jogo de qualquer pessoa. Quando alguém quer melhorar seu desempenho, primeiramente pensa em fazer mudanças. Uma delas pode (e, às vezes, deve) ser a raquete.

José Eduardo Aguiar

Publicado em 22 de Março de 2010 às 11:54


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Artigo publicado nesta revista