Tênis de olhos puxados

Há 100 anos, os primeiros japoneses desembarcaram no Brasil e disseminaram um pouco de sua cultura por aqui. Até nosso tênis teve influência nipônica


Arnaldo Grizzo

Sábado, 12 de julho de 2008.
Perto do quilômetro 20 da rodovia Raposo Tavares, na região de Cotia (SP), fica o Coopercotia Atlético Clube, sede do 62º Campeonato Intercolonial (ou Interzonas, como foi originalmente batizado) de Tênis. A manhã é fria, mas o sol vai subindo no leste e deixando o tempo propício para as finais do mais tradicional torneio da colônia japonesa no Brasil. Chego com alguns jogos já em andamento. Olho ao redor e penso ser o único de olhos não puxados. Nem tanto, há outros agregados às famílias nikkeis. Em pouco tempo sou reconhecido por amigos, que conheci por intermédio do treinador Carlos (Yoshio) Omaki. Eles estranham a minha presença, mas tão logo explico o porquê de minha visita, logo se prontificam a me apresentar aos principais personagens do tênis nikkei. Um deles é Alberto Oka (Kuhlmann). Participando dos torneios desde meados da década de 70, Oka, 46 anos, faz questão de prestigiar os eventos da colônia japonêsa até hoje.
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"Já houve muito mais gente neste campeonato. Lembro que as famílias vinham de todas as regiões para se confraternizar. Os mais velhos se reuniam e cantavam no fim do dia. Os jogos iam até de madrugada e, mesmo assim, todo mundo fazia questão de assistir, mesmo quem tinha jogo no dia seguinte pela manhã", recorda Oka. O tempo e talvez a mistura entre japoneses e outras nacionalidades fez com que os participantes diminuíssem. No entanto, eles ainda são muitos. As chaves de simples e duplas, masculinas e femininas, de todas as idades, desde infantil até mais de 75 anos (Pode acreditar!), são enormes

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Setembro de 1945 na Vila Sônia: Jiro Fujikura (2º da esquerda), Alcides Procópio (à mesa) e Kenkiti Simomoto (de costas)


Contudo, para começar essa história do tênis na colônia, busco informações de um período anterior ao campeonato Intercolonial. Pergunto sobre Jiro Fujikura. Oka desconhece, mas logo me apresenta a Tadashi Oda, 72, um dos que ajudam a manter a tradição e participa da organização do torneio. "Você precisa falar com Kubota-san. Ele deve saber, é fanático por tênis. Vou procurá-lo", diz Oda. Enquanto isso, mais um passeio pelas quadras repletas. Em uma, dois meninos; na do lado, dois jovens; na de baixo, duas senhoras, e assim vai. Uma quadra, porém, chama minha atenção. Chego perto do alambrado e uma senhora, que servia de boleira provisoriamente, fala: "Tem mais de 150 anos nesta quadra." Era a final dos veteranos acima de 75 anos, com Kojiro Hoshimo e Etsuo Sumi. Pouco depois, Oda volta acompanhado de um senhor. "Esse é o jornalista", afirma ao me apresentar. Sinto uma leve decepção no olhar de Yutaka Kubota, 72. "Pensei que fosse japonês", revela um pouco acanhado. No entanto, falante, ele comenta sobre Jiro Fujikura, que apresentou a deixadinha para os tenistas brasileiros na década de 30, mas o assunto passa para sua preocupação com o futuro do tênis entre os jovens nikkeis que não têm apoio. Em seguida, Oda ressurge: "Você deve falar com Tanaami-san, jogador mais antigo da colônia", afirma. O issei (imigrante) Tikara Tanaami, 89, porém, está prestes a iniciar seu almoço - um udon - com sua esposa. Peço um também. Descubro que o prato é saboroso, mas que comer essa sopa de macarrão com hashi (pauzinhos) requer uma técnica apurada, que, confesso, não domino.

Arnaldo Grizzo Arnaldo Grizzo

Tanaami conheceu Fujikura: "Ele trouxe as técnicas do tênis moderno para o Brasil"

Kubota  


Um japonês revolucionou o tênis no Brasil
Tanaami-san conheceu Fujikura e sua esposa, Yoshi, com quem chegou a disputar alguns campeonatos de dupla mista. Tanaami conta que Jiro (como o nome em japonês indica) era o segundo filho de uma família muito rica. Ele veio ao Brasil, em 29 de agosto de 1936, para trabalhar na Casa Tozan - um estabelecimento bancário e exportador nipo-brasileiro - em Santos. Fujikura já era tenista ao chegar ao País. Ele jogou pela equipe japonesa da Copa Davis em 1934, na derrota para a Austrália (perdeu para Jack Crawford e venceu Vivian McGrath).
Da equipe também fazia parte Jiro Satoh, maior jogador da história do Japão, que no ano anterior ficou em terceiro no ranking mundial (atrás apenas de Crawford e Fred Perry) após alcançar as semifinais de Roland Garros e Wimbledon. Porém, aos 26 anos, ele não agüentou a pressão japonesa e se suicidou, atirando-se no mar no estreito de Malaca, quando estava a caminho da Europa para a Davis. Nos últimos três anos, o Japão havia atingido a semifinal do Zonal - só o vencedor desta fase disputava o título com a nação campeã do ano anterior - com Satoh liderando o time. Mas, perder para a Austrália em 1933 foi demais para ele. "Fui incapaz de ajudar...", dizia a nota de suicídio.
O tênis no Japão só surgiu por volta de 1880 quando o governo levou um treinador norte-americano para o país. Até a década de 20, havia pouco intercambio e não se falava do tênis japonês. No entanto, em 1920, Zenzo Shimidzu, que batia o forehand e backhand com a mesma face da raquete (algo impensável na época), surpreendeu ao chegar à final (chamada de "all-comers", por não ser a final contra o vencedor do ano anterior) de Wimbledon contra Bill Tilden. Um ano depois, Shimidzu e Ichiya Kumagae (prata nas Olimpíadas de Antuérpia no ano anterior) levaram o Japão à final da Davis logo na primeira participação do país na competição. Eles perderam para os Estados Unidos, mas, a partir daí, as equipes japonesas sempre foram bem, até o inicio da II Guerra.
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Fujikura foi tema de matéria na revista Match Point em 1992 e na publicação argentina el Grafico em 1937
Participantes do primeiro Campeonato Intercolonial em 1947

Após esta "breve" digressão, volto a Tanaami. Ele garante: "Fujikura trouxe as técnicas do tênis moderno para o Brasil". E, na edição de abril de 1992 da revista Match Point, dois grandes nomes do tênis brasileiro, Alcides Procópio e Manuel Fernandes, contemporâneos do issei, corroboram esta afirmação. "Além da deixadinha, Fuji trouxe um novo estilo de jogo ao País. Bem mais rápido, com muitas bolas longas. Até hoje jogo as bolas a um palmo do fundo da quadra, como ele me inspirou", dizia Procópio. O japonês era tão bom que venceu os principais torneios nacionais na época, como o Mappin, e também sul-americanos, como revela a revista argentina "el Grafico" de 1937.

1- Simomoto, um dos fundadores do Coopercotia Altético Clube e um dos mentores do Intercolonial
2- Shigueru Kussomoto, Hideyuki Oda e Tikara Tanaami
3- Luiz Ohara e Shiguero Kussumoto, o primeiro campeão individual


No entanto, o gosto pela bebida encurtou a carreira e a vida de Fujikura, que morreu em 1957. Procópio já atestava sobre esse fato, que Tanaami reafirmou, mas, disse: "Não precisa citar as coisas ruins. Ele era boa pessoa." Porém, o único participante de todos os torneios da colônia possui mais histórias. Ele se lembra do primeiro torneio, em 1946 - idealizado por Takeo Nishikawa, comerciante de Marília (SP), e Kenkiti Simomoto, fundador da Cooperativa Agrícola de Cotia - quando não houve vencedores, pois a chuva impediu as finais. "Dividimos as medalhas entre os times", recorda Tanaami. No ano seguinte, o Intercolonial estava oficialmente instituído.
Tão logo termino a conversa com Tanaami-san e creio já ter coletado depoimentos mais do que suficientes para a matéria, vou até Tadashi Oda para agradecer os contatos. Contudo, ele não parece satisfeito e me apresenta a Mitsuo Shoji, 87, presidente de honra do Coopercotia. Tão logo sabe o motivo de minhas indagações, ele lentamente se levanta e pede para que o acompanhe. Subimos até a secretaria do clube. Ele procura uma mala tão antiga que a alça já não serve mais a seu propósito original. Dentro, jornais e revistas escurecidos (e quase esquecidos) pelo tempo. Shoji guarda todos os resultados do Intercolonial e artigos sobre o torneio. Orgulhoso, empresta alguns com os quais posso montar a história da competição.

1- Lina Yanagi e Althea Abiko, apenas começando aos 11 anos
2- Anos depois, Althea, já imbatível, e Lina novamente
3- Masao Kuruda, Eduardo Oda, Luiz Ohara e Fujio Yamagata, um dos principais incentivadores do tênis na colônia


Paz no esporte
O principal evento de tênis entre os nikkeis surgiu para apaziguar os ânimos entre eles. Após II Guerra Mundial, muitos imigrantes não aceitaram a derrota japonesa - os kachigumi - e hostilizavam, ameaçavam e até matavam os compatriotas que pregavam o contrário - os makegumi. Foi após sofrer ameaças que Nishikawa procurou Simomoto, um dos líderes da comunidade, para propor algo que unisse os colonos. Praticante de tênis, Simomoto sugeriu um torneio. Eles reuniram 15 participantes em meados de outubro de 1946 nas quadras do Coopercotia, então localizado na Vila Sônia.
No ano seguinte, em setembro, o Intercolonial (o primeiro oficial) teve cerca de 50 tenistas, ainda divididos por equipes, e a competição seguiu este formato até 1956. O número de participantes era tanto que a disputa passou a ser individual. O primeiro vencedor foi Shiguero Kussumoto, que havia vindo do Japão em 1951, a pedido de Simomoto, para treinar os jovens. Quem trouxe o técnico foi Fujio Yamagata, fanático por tênis e um dos principais incentivadores do esporte entre os nikkeis. Nascido em Macaé (RJ) em 1916, Yamagata-san havia estudado na Universidade de Keio - uma das principais do Japão - e tinha grandes empresas no Rio de Janeiro. Com seus contatos, trouxe ao Brasil também Kakichi Sugino e Yuichiro Kimoto, nomes que se tornaram referência na colônia. Yamagata era extremamente respeitado pelos compatriotas e costumava reunir conhecidos para treinar em uma propriedade que tinha em Diadema.
Até 1972 - ano da chegada de Kimoto -, Kussumoto, Luiz Ohara, Shiguero Nishikawa e Eduardo Oda dividiam os títulos na principal categoria masculina. Entres as mulheres, só dava Althea Abiko. Althea, que começou a jogar com os mesmos técnicos de Maria Esther Bueno no Clube de Regatas Tietê, coleciona títulos no Intercolonial. "Falaram para eu seguir os treinos da Maria Esther. Ela estava no auge. 'Vai lá e vê o que ela faz!', disseram. Era domingo, 6h30 da manhã, ela foi para a pista de atletismo e deu milhões de voltas. Parou, começou a pular corda. Depois foi para o paredão. Uma hora no paredão. Depois, mais duas ou três horas na quadra, com o técnico. Pensei: 'Acho que isso não vai ser para mim.'", lembra Althea.
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Após sua chegada, Kimoto venceu a categoria A por 12 anos seguidos, disputando algumas finais com Sugino. Ambos, porém, tiveram grande importância na formação dos tenistas nikkeis. Sugino se instalou em Santa Cruz do Sul (RS), onde dava aulas. Sério, mas não bravo, segundo Cesar Kist, seu amigo e pupilo, o issei ajudou na formação de diversos atletas, mesmo não orientais, como Niege Dias. "Ele buscava a 'perfeição' nos golpes. Dava muito valor ao trabalho de pernas e cuidava dos detalhes", lembra Kist. Carlos Omaki confirma: "Ele era extremamente técnico. Seus jogadores eram 'perfeitinhos', com golpes limpos e muito rápidos".

Arnaldo Grizzo / Arquivo
1- Alberto Oka continua participando dos torneios
2- Mitsuo Shoji entregando troféu a Rodrigo Yoshimoto. Seu irmão, Francis, e seu primo, Gustavo, também foram expoentes no juvenil
3- O ex-presidente da Federacão Paulista, Raul Cilento, com os campeões Jiro Sakakibara, Jaime Higa, Yuichiro Kimoto e Alberto Oka. Duplas finalistas da categoria A de 1994

Dois expoentes do tênis na colônia durante a década de 80, Jiro Sakakibara - que chegou a ser campeão brasileiro de 18 anos - e Eduardo (Daijiro) Furusho - que desbancou Kimoto após 12 anos no Intercolonial e se tornou o segundo melhor tenista do Japão, participando até da Davis -, foram para o Sul treinar com Sugino. Além deles, vários tenistas japoneses vinham ao Brasil aprender com o mestre. "As pessoas tinham muita confiança no trabalho dele", garante Kist, que até hoje tem estreita relação com os japoneses, tendo treinado Gouichi Motomura e Kyoko Nagatsuka, dois expoentes do tênis no Japão.
O treinamento com Sugino era duro, bem ao estilo japonês. "Muitos moleques não conseguiam ficar", afirma Omaki, que lembra ainda que o mestre prezava pela disciplina. Todos que o conheceram revelam que ele era um idealista e nunca ligou para a parte comercial. "Ele sempre dava um jeito de colocar mais alguém no alojamento, fazia de tudo", lembra Alberto Oka.
Mas, tão duro ou mais que Sugino nos treinamentos, foi Kimoto. Oka recorda os apertos que passou na época em que esteve com o mestre: "Ele fazia a gente correr vários quilômetros após o treino. Tinha moleque que não agüentava e vomitava no meio do caminho. Teve uma vez que precisei me esconder, pois já não suportava." E Kimoto - que voltou para o Japão - também valorizava as tradições da colônia. "Ele ficava sentado vendo todos os jogos do Intercolonial. Se houvesse alguma discussão, ele simplesmente falava para a pessoa nunca mais voltar. Ele é um dos que entendia perfeitamente que o torneio não é do clube, mas da colônia", diz Oka.

Aprendizes superam mestres
Com Kimoto, Sugino e seus antecessores, a semente estava plantada e novos nomes surgiram. Sakakibara, Furusho e Oka foram alguns dos primeiros a se destacar. Oka começou a dominar os torneios na colônia a partir de 1988. Nessa época, uma novíssima e prodigiosa geração já começava a se formar. Um dos talentos, Cláudio (Issao) Suzuki conseguiu uma bolsa e foi estudar no Japão, onde se sagrou o primeiro tricampeão universitário. Outro, Ciro Nishiyama, 36, de Londrina (PR), foi líder do ranking nacional de 18 anos em 1990, quando fez semi do Banana Bowl.
Entre as mulheres, Lilian Sooma, Cristina Yoshizawa e Leila Abe eram os nomes de maior destaque na colônia após o período de domínio de Althea Abiko. Mas foi a geração nikkei dos anos 90 que deixou os colonos orgulhosos. A bela jovem paulistana Fernanda Tsucamoto, 29, - que chegou a ser cogitada para Miss Colônia - sempre esteve entre as líderes do ranking brasileiro juvenil até meados da década de 90 e, aos 14 anos (em 1993), recebeu uma condecoração do consulado japonês por seus resultados, sendo a primeira mulher a ganhar tal honraria. Além dela, Tássia (Emi Payossim) Sono, 25, de Tupã (SP), foi número um da Federação Paulista e do Brasil por diversos anos, com inúmeras conquistas

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1- Ciro Nishiyama, número um do Brasil de 18 anos em 1990
2- Fernanda Tsucamoto e 3- Tássia Sono tiveram grande destaque no tênis da colônia

Nesta mesma geração, os garotos não ficaram para trás e três jovens da mesma família, Yoshimoto, de Registro (SP) dominaram o ranking juvenil paulista e brasileiro por alguns anos. Gustavo, 29 - primo de Rodrigo, 28, e Francis, 25 - foi vice do Banana Bowl de 16, em 1995. Os irmãos, Rodrigo e Francis foram número um do Brasil em 1994. O mais novo ainda foi campeão sulamericano de 12 anos e o mais velho vice sul-americano nos 14. Na lista há ainda Guilherme (Yuji) Ochiai, 27, que foi estudar no Japão após ficar entre os primeiros do ranking brasileiro nos 16 e 18 anos e continuou jogando profissionalmente.
E tanto os mais velhos quanto os mais jovens sempre fazem questão de participar dos campeonatos da colônia. "Ninguém entende muito bem o porquê, mas estes torneios possuem grande representatividade para os nikkeis", atesta Carlos Omaki. Quem busca uma explicação melhor é Valter Takeo Sassaki, 60, vice-presidente do Nippon Country Club, em Arujá (SP), clube que também organiza um tradicional torneio intercolonial. "O principal motivo é o lado comunitário e, também pela cultura, os nikkeis têm o hábito de participar desse tipo de evento", afirma. Já Alberto Oka decreta: "Se o cara nunca jogou esse torneio, ele não é japonês".
Se é assim, Raphael Shikuma Pfister, 18, só se tornou japonês em 2008, quando participou pela primeira vez do Intercolonial do Coopercotia. Na final da categoria principal, a mais aguardada, ele perdeu para Valter Mori Filho, 22, que, de longe, ninguém diz que é um descendente. Mas, segundo Tanaami-san, basta ter uma gota de sangue nipônico para jogar.
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Arnaldo Grizzo
1- Raphael Shikuma Pfister e 2- Valter Mori Filho (abaixo) fizeram a final da categoria principal do Intercolonial 2008


Poucos profissionais
A cultura japonesa também pode explicar um fato interessante: o Japão possui poucos tenistas profissionais em relação ao número total de praticantes de tênis no país. Lá, cerca de 4,5 milhões de pessoas praticam o esporte e por volta de 120 possuem ranking na ATP ou WTA. A proporção é pequena se comparada a países como França, Alemanha, Austrália e Espanha. Ou até mesmo ao Brasil, que possui cerca de 1,5 milhão de praticantes e mais de 100 profissionais.
E isso se estende também à colônia no Brasil. Dos nomes citados, poucos seguiram no profissionalismo. "Esporte e arte são considerados hobbies, não profissão. Em primeiro lugar vem o estudo. Tudo o que não é seguro - não tem começo, meio e fim bem definidos, como uma carreira no tênis -, fica complicado. Para ser tenista, precisa vencer as tradições da família", afirma Carlos Omaki, tentando explicar por que poucos se arriscam a ir fundo no esporte. Mas ele é um dos que incentiva os garotos a, no mínimo, jogar tênis.
"Meus pais queriam que me formasse", lembra Althea Abiko, que, por isso, ficou alguns anos longe das competições intercoloniais. Fernanda Tsucamoto e Francis Yoshimoto ganharam bolsa e foram estudar nos Estados Unidos. Rodrigo Yoshimoto foi fazer faculdade no Japão. Ciro Nishiyama, que atualmente é dentista, revela: "Faltou um pouco de insistência". Guilherme Ochiai também se formou no Japão, onde arrumou emprego, parando de jogar o circuito neste ano. Para Tássia Sono faltou apoio, mas ela continua no tênis, dando aulas, como Althea. Mas sabe-se que ter sucesso no tênis não é fácil, como bem lembra Cesar Kist. Ele aponta este como o principal fator para que muitos (não só os nikkeis) desistam.


Já Valter Sassaki recupera o problema cultural: "Na cultura japonesa há uma grande preocupação de encaminhar o filho e, até mesmo, preservar o nome da família. Como o esporte não é seguro, fica difícil." E continua: "Acho também que o oriental não é tão agressivo ou insinuante quanto os outros e isso, no esporte, talvez seja uma desvantagem". Sendo assim, a preocupação de Yutaka Kubota, apaixonado pelo tênis, é pertinente. Ele só quer que os garotos recebam apoio para ter uma chance de vencer as tradições e seguir carreira no esporte.
Os costumes nipônicos talvez cerceiem as carreiras dos jogadores, no entanto, não impedem a devoção dos nikkeis pelo tênis. Foi esse o modo que eles encontraram para se unir e assim continuará, independentemente de tenistas de sucesso. O sucesso, para muitos, resume-se a manter vivos os eventos da colônia. Diz-se que os japoneses são fechados. Sim, eles são. Que são sérios. Muito. Que são fieis às tradições. Bastante. Porém, mesmo quando "invadi" o território deles (ao ir ao Coopercotia durante o Intercolonial), não fui tratado como um estrangeiro, mas, como um amigo. Arigatou. Sayonara.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 30 de Julho de 2008 às 06:43


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Artigo publicado nesta revista