História Ranking 40 Anos

A saga dos números 1

Conheça a história dos tenistas que lideraram o ranking nos últimos 40 anos


A ASSOCIAÇÃO DOS TENISTAS Profissionais (ATP) nasceu em 1972 para defender os interesses dos jogadores, que não se sentiam representados pela Federação Internacional de Tênis (ITF) – que até pouco tempo atrás não reconhecia os profissionais – nas disputas com os organizadores dos torneios. A criação da ATP foi a revolução dos tenistas, já que, como estrelas do espetáculo, deveriam reger o esporte.

Uma das primeiras iniciativas da nova entidade foi a instituição de um ranking computadorizado. Até então, a principal referência usada era uma lista feita por cronistas do jornal inglês Daily Telegraph, criada no longínquo ano de 1914. Naquele ranking, o primeiro nome a figurar como número 1 foi o norte-americano Maurice McLoughlin, que havia sido campeão de simples e duplas do US Open no ano anterior.

Porém, no dia 23 de agosto de 1973, enfim uma lista oficial foi lançada. Ela computava os resultados das últimas 52 semanas (um ano) de cada tenista para definir sua colocação – sistema que é usado até hoje. Campeão do US Open e do Masters no ano anterior, além de Roland Garros na temporada de 73, o habilidoso romeno Ilie Nastase, de 27 anos, foi o primeiro a figurar no topo da tabela.

Quarenta anos se passaram e apenas mais 24 tenistas alcançaram a primeira posição, sendo que apenas 16 conseguiram terminar, ao menos, uma temporada no topo. Para homenagear esses 16 nomes e os 40 anos de criação do ranking, foi lançada uma campanha chamada “ATP Heritage” e um livro especial intitulado “n°1”. Então, nesse momento de celebração, nada melhor do que relembrar a história dos números 1.

Connors e Borg

Depois de 40 semanas na liderança, Nastase foi destituído da ponta pelo australiano John Newcombe. Em junho de 1974, o veterano sacador, de 30 anos, assumiu a liderança, mas, apenas dois meses depois, um garotão, de 21 anos, tomaria o número 1 para si e com ele ficaria por mais de três anos seguidos. Seria o auge de Jimmy Connors. Em 1974, por exemplo, ele venceu 15 torneios, alcançando nada menos que 96 vitórias e apenas três derrotas na temporada. Nos dois anos seguintes, perdeu menos de 10 partidas, portanto, não havia quem tirasse o primeiro posto de “Jimbo”.

Foi somente em agosto de 1977 que outro garoto de 21 anos se intrometeu nessa história. Bjorn Borg, que já tinha sido bicampeão de Roland Garros em 74 e 75 e agora se tornava bi também em Wimbledon em 76 e 77, roubou a liderança de Connors por uma única semana naquele ano. O norte-americano, porém, reassumiu a ponta e lá ficou por mais quase dois anos, até abril de 1979, quando, enfim, eles passaram a se alternar no topo. Se não fosse por essa mísera semaninha em que o sueco liderou, “Jimbo” teria ficado nada menos que 244 semanas seguidas como líder – quase dois meses a mais do que a marca recorde hoje de Roger Federer, que é de 237 semanas diretas.

Ilie Nastase

Ilie Nastase foi o primeiro a liderar o ranking e permaneceu na primeira posição por 40 semanas

Anos 1980

O começo da década de 1980 foi marcado pelo trio Borg, Connors e John McEnroe. No dia 3 de março de 1980, também com 21 anos, assim como seus dois antecessores, o canhoto nova-iorquino apareceu no topo da lista. Ele tinha sido campeão do US Open na temporada anterior.

Com Connors já perto dos 30 anos, Borg e McEnroe passaram a dominar o circuito. Em 1980, por exemplo, ambos conquistaram nove títulos. A disputa entre eles foi acirrada até agosto de 1981, quando o rebelde “Mac” interrompeu a série de cinco títulos seguidos de Borg em Wimbledon e ficou mais de um ano na liderança depois disso. Era o começo do fim da carreira do sueco.

Dessa forma, a disputa ficou entre o veterano Connors e McEnroe, que se alternaram na liderança até o fim de 1983, sendo interrompidos algumas semanas por um tcheco que quebraria inúmeros recordes em seus anos no ápice.

Finalista do US Open no ano anterior e também no Australian Open de 1983, Ivan Lendl apareceu como número 1 pela primeira vez em fevereiro daquela temporada. Mas só a partir do final de 83 sua concorrência com McEnroe foi acirrada de verdade. Eles duelaram arduamente pelo primeiro posto até 1985, quando, enfim, o tcheco – que se tornou um dos principais modelos de profissionalismo para as gerações futuras – simplesmente não deixou mais ninguém ameaçar seu domínio, permanecendo na ponta por 157 semanas consecutivas.

Pete Sampras

Pete Sampras dominou o tênis na década de 1990

A volta dos suecos

A marca de Lendl poderia ser ainda mais expressiva se não fosse por um sueco, um dos tenistas mais regulares que já existiram, bem ao estilo de seu antecessor Bjorn Borg. Em 1988, Mats Wilander, por muito pouco, não conseguiu repetir o feito de Rod Laver quase 20 anos antes: vencer os quatro torneios de Grand Slam no mesmo ano. O sueco, contudo, não passou das quartas em Wimbledon. Mas, com os títulos na Austrália, em Paris e Nova York naquela temporada, não havia dúvida de quem era o verdadeiro número 1 do mundo.

Ao vencer o Aberto da Austrália em 1989, Lendl retomou o topo, permanecendo mais 80 semanas lá, totalizando 270 em sua carreira, marca que só seria superada por Pete Sampras nos anos 2000. Em 1990, outro sueco tirou Lendl da liderança. Dessa vez, ele não era um tenista regular de fundo, mas um dos maiores expoentes do estilo saque-e-voleio. De meados daquele ano até quase o fim de 1992, Stefan Edberg foi o grande nome do circuito.

Seu reinado, todavia, teve algumas interrupções pelo jogo potente de Boris Becker e pelo estilo eficiente, mas pouco criativo, de Jim Courier. E seria o atual capitão dos Estados Unidos na Copa Davis que encerraria definitivamente o domínio de Edberg no fim de 1992, depois de ter conquistado o Australian Open e Roland Garros.

Domínio norte-americano

Daí em diante, o tênis ficou na mão dos tenistas dos Estados Unidos. Até 1996, quando o austríaco Thomas Muster, especialista nas quadras de saibro, intrometeu-se rapidamente na briga entre André Agassi, Courier e Sampras, esses três tiveram seus momentos no topo. Sampras, porém, foi quem tomou as rédeas do circuito para si. Em abril de 1993, pouco antes de vencer Wimbledon pela primeira vez, assumiu a liderança. Perdeu-a para Courier, por três semanas, mas a retomou após o bicampeonato no US Open e lá ficou por 82 semanas, até abril de 1995.

Campeão do US Open em 1994 e do Aberto da Austrália no começo do ano seguinte, Agassi tomou a liderança do compatriota, mas, quando se imaginava que os dois iriam disputar o posto acirradamente, a carreira de Agassi desandou. Foi ainda durante essa disputa Agassi versus Sampras que Muster encontrou espaço para figurar como número 1 em 1996 por seis semanas, mas, sem o principal rival na briga, logo Sampras mostrou quem mandava.

Somente em março de 1998, “Pistol Pete” começou a dar alguns “sinais de cansaço” e abriu uma pequena brecha para que novos nomes aparecessem no topo do ranking, mesmo que somente por algumas semanas. Foi o caso do habilidoso chileno Marcelo Ríos, do toureiro espanhol Carlos Moyá e do inabalável russo Yevgeny Kafelnikov. Até que, em julho de 1999, já separado da atriz Brooke Shields, Agassi ressurgiu nesse jogo pelo topo. Nessa época, ainda de disputas intensas, o australiano “boa pinta” Patrick Rafter ficou uma semana na liderança. Mas, Agassi, enfim, conseguiu uma boa sequência e ficou um ano na ponta, de setembro de 1999 a setembro de 2000.

Novak Djokovic
Em 2011, Novak Djokovic se tornou o 25º tenista a ocupar o posto de número 1

Transição no topo do século XXI

O final da temporada de 2000, aliás, foi repleta de emoção. Agassi perdeu o posto para Sampras, que, em seguida, foi superado pelo jovem Marat Safin, campeão do US Open daquele ano. E, por fim, logo depois da espetacular campanha na Masters Cup de Lisboa, com direito a vitórias seguidas sobre Sampras e Agassi, Gustavo Kuerten tomou a dianteira e é, até hoje, o único sul-americano a terminar uma temporada como número 1.

No ano seguinte, Guga e Safin se alternaram na ponta por quase toda a temporada até que o aguerrido contragolpeador australiano Lleyton Hewitt, campeão do Aberto dos Estados Unidos e depois da Masters Cup de Sydney, iniciou uma nova era de tênis baseado no físico e na regularidade dos golpes, que durou até 2003, último período de alternância de jogadores no cume da lista até o aparecimento de um dos maiores gênios do esporte.

Em 2003, aos 33 anos, Agassi apareceu como número 1 pela última vez, superando, de longe, o recorde anterior de Connors como o mais velho no topo. Em setembro, porém, o então campeão de Roland Garros, o versátil Juan Carlos Ferrero tomou o controle da lista, perdendo o posto para Andy Roddick, campeão do US Open naquela temporada e que seria o último norte-americano a sentir o gostinho da dianteira do ranking.

Recordes de 40 anos do ranking da ATP

 

Roger Federer
Mais tempo como número 1
Roger Federer totaliza 302 semanas e deixou para trás a marca de 285 de Sampras, que antes tinha batido os números de Lendl (270) e Connors (268). O suíço também é o tenista que mais semanas seguidas ficou no topo, com 237, quase dois anos a mais do que as outras duas melhores marcas anteriores de Connors (160) e Lendl (157).
Pete Sampas
Mais temporadas como número 1
Pete Sampras detém o recorde de ter terminado o maior número de temporadas como número 1. Foram seis, seguidas. Federer e Connors possuem cinco cada, já Lendl e McEnroe, quatro.

 

 

Agassi
Mais novo e mais velho no topo
Aos 33 anos e quatro meses, Agassi é ainda o tenista mais velho a liderar o ranking, em 2003. As marcas anteriores eram de Connors (com 30 anos e 10 meses em 1983), Lendl (com 30 anos e cinco meses em 1990) e Newcombe (com 30 anos e dois meses em 1974).
Por sua vez, Lleyton Hewitt é o mais jovem a ter alcançado a honra de ser número 1, com apenas 20 anos e nove meses em 2001. No ano anterior, Safin tinha 20 anos e 10 meses ao assumir a liderança.

Temporada mais disputada
Em 1983 Connors, McEnroe e Lendl se revezaram 10 vezes na liderança do ranking, com “Johnnie Mac” prevalecendo ao fim. Depois disso, a temporada 1999 contou com oito trocas na ponta entre cinco tenistas e, por fim, predomínio de Agassi.

 

A era Federer

Assim que venceu o Australian Open de 2004 (depois de já ter faturado Wimbledon no ano anterior), Roger Federer iniciou o maior reinado ininterrupto dos 40 anos de história do ranking. Foram quase cinco anos seguidos no primeiro lugar sem praticamente ser ameaçado, com mais de 10 títulos por ano de 2004 a 2006, por exemplo. Nesse período, esteve perto de fechar o Grand Slam, mas não conseguiu triunfar em Roland Garros.

Desde 2005, um jovem espanhol lhe barrou no saibro francês e logo se tornou seu principal rival. No entanto, foi somente quando Rafael Nadal ficou mais agressivo e passou a vencer também em quadras rápidas que, finalmente, desafiou a liderança do suíço. Em 2008, depois de repetir o feito de Borg e conquistar Roland Garros e Wimbledon em uma mesma temporada, enfim, atingiu o topo, com a conquista do ouro nas Olimpíadas de Pequim. Problemas no joelho, porém, fizeram com que não suportasse o ritmo e, no ano seguinte, Federer reassumiu a ponta após o troféu inédito em Paris e o hexa de Wimbledon.

Rafa voltou com tudo em 2010, venceu três Majors (Roland Garros, Wimbledon e US Open) e retomou a posição. Na temporada seguinte, também com três Grand Slams conquistados, Novak Djokovic, que até então tinha sido um mero coadjuvante na disputa entre Federer e Nadal, virou o protagonista do ranking. Mas, com a derrota na semifinal de Wimbledon de 2012, o sérvio abriu brecha para a volta de Federer (campeão do Slam londrino) ao topo. Foram mais 17 semanas, que somadas às 285 que o suíço já tinha, deram-lhe o ranking absoluto de 302 semanas como número 1, superando Sampras. Em novembro, porém, Djoko voltou ao topo, onde está até hoje.

Por Arnaldo Grizzo

Publicado em 23 de Agosto de 2013 às 00:00


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Artigo publicado nesta revista

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Revista TÊNIS 119 · Agosto/2013 · A história dos números 1

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