Técnica

Como mudar a empunhadura do saque para ter melhor desempenho

Um tenista amador é capaz de apagar décadas de memória muscular para corrigir seu saque?


SE VOCÊ É COMO EU, HÁ PELO menos um golpe que é o seu "calcanhar de Aquiles", uma fraqueza técnica que segue com você desde que aprendeu a jogar. Você não tem dúvida e reconhece esse defeito, mas se sente sem poder para fazer algo a respeito disso por uma razão: quando jogar tênis não é seu trabalho, achar tempo - isso para não citar o treinamento, talento e desejo - para consertar um forehand ou remodelar um voleio é uma tarefa muito complicada. Ou não?

Meu jogo não tem fraqueza mais fiagrante que meu serviço, que é uma coisa feia e que foi motivo de muitas lástimas ao longo dos anos. A raiz do problema é a empunhadura: eu uso a mesma empunhadura Eastern que adotei quando aprendi sem aulas quando era criança - tenho que utilizá-la para ter um ritmo decente no primeiro saque, e isso não oferece uma variação real, tornando meu segundo serviço deficiente.

VALE A PENA PERDER PARA GANHAR?
Ao longo dos anos, diversos professores tentaram me convencer a mudar para uma empunhadura Continental, mas afastei todos com a mesma explicação: não tenho tempo para bater centenas de bolas para desenvolver uma nova memória muscular, e não estou disposto a perder partidas para fazer isto. Um instrutor se frustrou ao tentar argumentar que Pete Sampras mudou seu backhand de duas para uma mão já tarde em sua adolescência, e estava disposto a perder partidas e cair consideravelmente no ranking juvenil para fazer isso. Apreciei isso, mas Sampras estava tentando se tornar um campeão de Wimbledon; eu apenas estou tentando me divertir.

Com tudo que mencionei, recentemente tive uma crise após ter meu saque quebrado uma série de vezes durante uma partida: meu saque é familiar para mim, mas, por causa de suas deficiências, contra oponentes qualificados eu tenho que trabalhar duro para tentar defendê-lo. Quão desgastante seria, realmente, tentar desenvolver uma nova, mais imponente e mais variável empunhadura?

Para descobrir, procurei meu antigo técnico, o homem que, pela primeira vez, me aconselhou a jogar um tênis "real" (já com uma idade relativamente avançada, aos 30 anos), Al Johnson - a quem recentemente reencontrei no The Prospect Park Tennis Center, no Brooklyn. Quando tinha aulas semanais com Al, ele bravamente tentava me ensinar o valor de um saque sólido, me fazendo passar os 10 minutos finais de cada treino executando saques, mas, mesmo assim, não me convenceu a mudar minha empunhadura.

Liguei para Al e contei-lhe sobre minha mudança de mentalidade. Ele se sentiu surpreso e agradecido. Marcamos uma aula.

COMO MUDAR A MEMÓRIA MUSCULAR?
Quando nos encontramos, o formato foi o inverso de nossas antigas aulas: 10 minutos de bate-bola (para aquecer o corpo) e 50 minutos de saque - 50 minutos parado na linha de saque, executando um único golpe, repetidas vezes, com ninguém respondendo, sem troca de bolas, e nem mesmo a promessa de suar camisa. Esse é um ponto importante quando tenistas amadores começarem a considerar trocar algo em seu jogo: "desejamos apenas nos divertir ou queremos tornar o tênis um trabalho?"

Al me mostrou o jeito certo de segurar uma raquete com a empunhadura Continental e me explicou que isso "permite que você deixe seu pulso livre e não sobrecarregado" (basicamente, sua palma da mão fica no caminho até a ponta do cabo da raquete com a empunhadura Eastern). Ele também me alertou para deixar a raquete relaxada na mão, o mais solta possível, porém sem cair, obviamente. Eu apenas tinha mexido um pouquinho a empunhadura no cabo, mas, de repente, já sentia como se a raquete fosse um objeto estranho, e quando lancei a bola, e a golpeei, realmente não fazia a menor ideia de como direcioná-la, um desafio exorbitante de dobrar o pulso (pronação) pouco antes do contato para gerar o ângulo necessário. Isolei a bola inúmeras vezes.

Esses foram longos 50 minutos - focados na nova empunhadura, manter a raquete solta, "quebrar" o pulso e direcionar a bola na área de saque. Al me aconselhou a não errar o toss e também a manter minha cabeça erguida para enxergar o contato com a bola, coisas que deveriam ser naturais. O exercício me pareceu como uma benigna variação de como imagino ser ter de reaprender a andar após uma lesão ou uma doença.

"Isto é difícil", falei em um momento.

"É claro que é difícil", ele me respondeu me lançando uma bola.

"Isso é novo."

Mesmo assim, com esta aula interminável, comecei a encontrar um jeito de colocar a bola aos poucos no quadrado, e depois bater mais forte e mais forte, com resultados bons e ruins. E, com o final da aula se aproximando, Al me mandou executar 10 saques do lado do "iguais" - para meu espanto, oito deles foram dentro. Feito isso, ainda assim não estava muito otimista sobre como esses saques reagiram nas condições reais de uma partida. Ele me falou para tentar outros 10, desta vez acelerando a cabeça da raquete durante o saque; meu aproveitamento caiu 50% - não exatamente o ideal.

COLOCANDO EM PRÁTICA E PERDENDO
Ficaria muito feliz em ter muitas outras aulas de saque com Al, mas que resultado de fato eu conseguiria mostrar em uma partida? Decidi descobrir isso alguns dias depois ao marcar um jogo com meu amigo Marc e prometi a mim mesmo que não trocaria para minha antiga empunhadura de jeito nenhum no meio do jogo. Se me encontrasse sobre pressão, me manteria com a nova e iria até o final com ela, em nome do progresso.

Cometi o erro de contar a Marc o que estava disposto a fazer. Na noite em que nos encontramos, ele ganhou o sorteio e disse: "Você saca primeiro."

Chequei e deixei solta a minha empunhadura, lancei a bola e saquei. Misericordiosamente, ela entrou. Mas a partir do primeiro ponto, deu para perceber que a partida estava apenas começando. Na maioria dos pontos, eu coloquei o saque dentro, mas com tão pouca força que ficava fácil para Marc atacar a devolução, me colocando sobre constante pressão. Mesmo assim, me controlei para manter, assim como ele, o saque nos primeiros games.

#Q#

No 4 a 4, o momento da verdade chegou. Marc venceu alguns pontos, e me deparei com um break-point contra. Se isso fosse em qualquer outro momento da minha vida, teria, com certeza, voltado à minha velha empunhadura, apenas pela força que eu sei que conseguiria gerar com ela, e pela chance de um saque sólido, talvez vencedor. No entanto, continuei com a Continental, quiquei a bola, chequei e soltei a empunhadura, realizei o toss e bati nela para longe.

Após uma profunda respirada, quiquei a bola mais algumas vezes, realizei outra vez o toss e joguei ela na fita. Dupla-falta. Cinco minutos depois, Marc confirmou o serviço e venceu a partida.

O jogo me deu muito sobre o que pensar. É claro que essa não era a estreia que eu queria para minha nova "arma" em meu primeiro "test drive". Mas reconheci que, para melhorar meu saque, teria de estar disposto a perder uma série de partidas até que a empunhadura nova se fizesse confortável, como um sapato velho.

Trocar de empunhadura do saque de Eastern (foto à direita) para Continental (foto à esquerda) dá trabalho... ...mas pode trazer grandes benefícios para o seu jogo, mesmo quando você acha que está velho demais para mudar

NÃO SE ABALE
Também teria que continuar trabalhando bastante entre as partidas. Para isso, marquei outra aula com Al. Falamos sobre o jogo e depois começamos a treinar mais saque. Ele sentiu, corretamente, que eu estava colocando muita emoção na nova empreitada. Para me focar na mecânica, ele me fez fazer duas coisas: tirar o meu dedo mínimo do cabo para reforçar a empunhadura mais solta e bater levemente na bola, me preocupando apenas em mandá-la para onde eupretendesse mandar, sem me concentrar no ritmo. Depois que peguei o jeito, ele me fez bater na bola mais alto, fazendo o movimento apenas para bater sem força novamente, para depois, num segundo momento, acelerar a cabeça da raquete durante o serviço.

Essencialmente, eu estava me tranquilizando e relaxando a minha mente, e isso funcionou. Antes que eu conseguisse perceber, estava batendo com mais e mais ritmo. Ainda tinha coisas a fazer antes de me tornar apto a gerar a força que conseguiria com meu antigo saque, mas começava a sentir o quão mais natural essa empunhadura era, e o quão mais fácil seria no longo prazo conseguir mais coisas com ela.

Marquei uma nova partida, com um cara contra quem jogaria pela primeira vez, chamado Stone. Dessa vez, marquei uma aula de saque um pouco antes. Al e eu trabalhamos os saques usando os mesmos exercícios e técnicas, depois ele foi para o outro lado da rede e devolveu saques por 15 minutos, dando-me algumas simulações de partida um pouco antes do jogo marcado.

O PRAZER DEPOIS DO ESFORÇO É SEMPRE MELHOR
Me senti muito melhor durante o jogo. Embora tenha sido quebrado algumas vezes no primeiro set, foi mais difícil para o adversário conquistar os pontos e apresentei muito menos falhas em meu saque. Tentei me manter firme no jogo, depois consegui uma quebra crucial no 5 a 4, fechando o primeiro set. Após uma hora de partida, vencia por 5 a 2 no segundo set, e me sentia muito melhor com meu empenho. Essa não foi uma vitória tão divertida para mim como outras -tive que ter muito foco para desfrutar da partida -, mas esse foi um marco de evolução na minha caminhada.

A razão para a minha inicial resistência em mudar persistia: eu tornei o tênis uma válvula de escape para as pressões do dia-a-dia, e não queria adicionar mais uma pressão a ele. Mas essa segunda partida me deu esperança e, ao mesmo tempo, motivação para continuar com esse projeto, trabalhar para desenvolver uma melhor versatilidade com o primeiro saque e, quando precisar, sacar com spin no segundo.

Vou manter isso e colocar em minha mente que as coisas que são mais difíceis de conseguir são também as mais satisfatórias. Nesse contexto, o novo saque promete tornar meus jogos mais fáceis, e fazer com que eu me considere um jogador mais completo. O que poderia ser mais divertido do que isso?

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Andrew Friedman

Publicado em 13 de Janeiro de 2017 às 12:00


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