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‘Raquete de estimação’ pode estar atrapalhando seu desempenho em quadra

Entenda, o problema de jogar com um equipamento velho não é apenas estético


Cuidado! Sem saber, o seu jogo pode estar sendo boicotado por sua raquete. Pare e faça um rápido exame. Abra sua mala de tênis. Pegue sua raquete. Olhe bem para ela. Em que estado ela se encontra? Limpinha, novinha em folha, com overgrip trocado, corda bem tensionada? Ou estaria já toda batida nos cantos, com encordoamento frouxo, overgrip todo rasgado? Se o cenário observado for o segundo, já passou da hora de se preocupar.

Os mais turrões dirão que uma raquete de tênis é um “bem durável”, sem prazo de validade, feita de um material capaz de suportar as piores intempéries. Realmente, elas são, sim, feitas para durar. No entanto, por acaso você ainda hoje vê alguém jogando com raquetes de madeira pelas quadras mundo afora? Não, né? E olhe que os aros de madeira tinham uma excelente durabilidade, desde que bem conservados. Os mais antigos lembrarão até que as raquetes de madeira vinham com um sistema para proteger a cabeça, evitando que elas entortassem.

Mas, há muito tempo elas caíram em desuso, superadas por novíssimos materiais, mais resistentes e, ao mesmo tempo, mais leves. Passou-se ao alumínio e outras ligas metálicas, depois a compostos de fibra de vidro e carbono, até chegar a composições cada vez mais elaboradas, usadas em equipamentos espaciais e de altíssima tecnologia.

Ou seja, assim como você precisa trocar de computador de tempos em tempos devido ao avanço tecnológico, as raquetes também evoluem. Atualmente, a evolução não ocorre apenas nos materiais, mas também em tudo o que envolve a raquete. Basta ver os modelos atuais em que há chips acoplados capazes de analisar os golpes do tenista.

Evolução constante

As marcas tendem a remodelar seus catálogos, em média, a cada dois anos. Em alguns casos, há apenas uma repaginação simples, uma pintura mais na moda, um detalhezinho aqui e outro acolá para não alterar a essência de um modelo campeão de vendas ou então que serve como referência. Todavia, sempre há mudanças interessantes ocorrendo. Mesmo nos casos de aros clássicos, as marcas tendem a criar variações.

Basta ver, por exemplo, a eterna Pro Staff, da Wilson, que possui oito modelos diferentes em linha. Muitos acreditam que há apenas a versão usada por Roger Federer, contudo, há variações que fazem com que os consumidores possam melhor se adaptar. Ou seja, se você testou, mas não gostou da raquete de Federer por ser muito pesada, por exemplo, pode experimentar uma mais leve. Ou então com menos cordas, para gerar mais topspin. Enfim, sutis mudanças para agradar um público que nem sempre é capaz de jogar como Federer, mas quer usar sua raquete.

Dessa forma, além de novos materiais, as marcas investem em outros aperfeiçoamentos, como aerodinâmica, absorção de impacto etc. Hoje, vivemos o começa da era das ditas “raquetes inteligentes”. Em pouco tempo, acredite, os equipamentos não apenas serão capazes de mostrar a quantidade e a qualidade dos seus golpes, como ainda sugerir mudanças na composição e tensão do encordoamento, e, quem sabe, na técnica de golpeio do jogador.

Não é apenas tecnologia

Mas, se a argumentação em torno da evolução tecnológica não lhe convenceu, é preciso lembrar que, por mais “durável” que uma seja, todo equipamento sofre desgaste. Pode até parecer inofensivo, mas o ato de encordoar a raquete regularmente vai, aos poucos, forçando o aro. Quanto mais você joga e mais cordas quebra, menos expectativa de vida tem o seu equipamento. Usar tensão alta nas cordas também ajuda a estressar o aro.

Portanto, se você joga cerca de cinco vezes por semana, usa tensão perto do limite máximo sugerido pelo fabricante e ainda costuma quebrar cordas com frequência talvez depois de dois ou três anos valha a pena pensar em trocar de raquete.

“Então, se eu jogar pouco, com corda frouxa e quase nunca encordoar, quer dizer que minha raquete vai durar para sempre?” Não é bem assim. Especialistas afirmam que, se esse for o caso, ainda assim, vale a pena trocar de raquete depois de seis anos de uso. Por quê?

O desgaste do material costuma ser observado, principalmente, na perda da rigidez da raquete. Com um aro mais flexível, seus golpes vão render menos. Outra parte que sofre com o tempo são os grommets, aqueles furinhos por onde o encordoamento passa. Eles são feitos de um material plástico mais sensível e tendem a comprometer um pouco o desempenho da raquete. Com isso, além de apresentar golpes menos potentes, você provavelmente vai perder sensibilidade.

Envelhecimento

Se ainda assim você não se convenceu em abandonar aquela velharia comprada há mais de 10 anos, toda ralada e remendada, devemos lembrar que não é somente o material da raquete que envelhece. Você também. Se, com o passar dos anos, seu equipamento vai ficando ultrapassado, você, de certa forma, também.

Se você já está beirando os 50 anos e ainda usa o mesmo modelo de raquete com que jogava na adolescência, há algo errado. Por mais cabeça dura que você seja, é preciso evoluir, admitir que o seu jogo não é o mesmo de sua juventude, mesmo que você ainda “se veja” disparando winners de forehand, sacando e voleando etc. Pare para pensar e admita que isso ficou cada vez mais raro. E, mais do que se esforçar mais nos treinos e nos jogos, uma atualização de equipamento (juntamente com uma de mentalidade) vai ajudar muito.

Dessa forma, é preciso que você saiba perceber quando está precisando de uma ajuda que vai além de passar mais tempo em quadra. Se até Federer reconheceu que já não é mais capaz de produzir os golpes que realizava tempos atrás e trocou de raquete para um modelo de cabeça maior, que lhe auxilia a gerar mais topspin e potência, você não precisa se envergonhar de dar passo semelhante. Acredite, isso vai melhorar o seu jogo, mesmo que você não perceba em curto prazo.

Aumentando a expectativa

Por fim, você ainda pode argumentar que os equipamentos de tênis são caros, especialmente as raquetes, o que inviabiliza trocas mais constantes. Sendo assim, vale seguir alguns conselhos para deixar sua raquete no melhor estado possível. Primeiramente, é preciso evitar expô-la ao calor extremo. Muita gente costuma deixá-las no porta-malas do carro sem saber o risco que correm. Lá, elas podem até entortar. Depois, tome cuidado na hora de encordoar. Evite tensionar mais do que o recomendado pelo fabricante e escolha um encordoador cuidadoso, que tenha expertise e saiba como minimizar esse estiramento do aro (quem sabe, com uma máquina de seis pontos de apoio). Em seguida, você pode também trocar periodicamente os grommets e outros apetrechos, comprar uma raqueteira com proteção térmica etc. Isso sem falar, obviamente, em evitar acessos de raiva em que a raquete é quem paga o pato.

Direto para o museu

Mas de nada adianta tentar dar uma recauchutada naquela relíquia dos anos 1990 ou começo deste século com que você insiste em jogar. Ela não poderá lhe ajudar da mesma forma que um equipamento novo e melhor adaptado ao seu jogo. Não é por ser um tenista “das antigas” que seu equipamento também precisa ser. Todo tenista quer melhorar, quer ganhar, portanto, faça um investimento no seu próprio jogo. Mas não compre algo novo apenas por ser novo. Pesquise. Teste. Analise. Aprenda a se renovar, assim como sua raquete, ou então, além dela, seu lugar também será no museu e não em uma quadra de tênis.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 9 de Novembro de 2016 às 15:49


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