Quer gelo?

Crioterapia ajuda na reabilitação e prevenção de lesões esportivas. Então, saiba como usar o famoso "gelinho"


 

QUANDO VOCÊ bate a canela em algum lugar, qual é uma das primeiras providências que toma? Colocar gelo? É provável. Você já deve ter ouvido dizer ou mesmo visto alguns tenistas, e outros tantos atletas, entrarem em banheiras com gelo para ajudar na recuperação após jogos desgastantes, não? Após vencer Roger Federer em uma semifinal duríssima no US Open deste ano, Novak Djokovic citou na entrevista pós-jogo que uma das coisas que faria para se recuperar seria entrar numa banheira com gelo. Podemos chamar isso de crioterapia.

Por ser um recurso de fácil acesso, de simples utilização, altamente e caz e de baixo custo, o uso da crioterapia se tornou amplamente divulgado e hoje é um importante aliado na reabilitação e prevenção de lesões esportivas e pode ser incluído em sua rotina de treino. A crioterapia consiste no uso terapêutico do frio com o objetivo de tratar, prevenir ou impedir a extensão das lesões agudas e crônicas como, por exemplo, torções, tendinites, contraturas e estiramentos musculares, traumas mecânicos e pós-operatórios.


A RESPOSTA DO CORPO
A crioterapia produz em nosso corpo uma variedade de efeitos fisiológicos que, em resposta a esses estímulos, trazem-nos benefícios como:
1) Auxiliar no processo inflamatório;
2) Retardar a formação ou impedir o aumento do edema;
3) Analgesia (apesar de sua aplicação ser um pouco dolorosa, o gelo é excepcional no controle da dor).

O efeito mais notório dessa técnica é a diminuição da temperatura local e todos os resultados produzidos pelo gelo são decorrentes dessa diminuição. É importante lembrar que o resfriamento do tecido acontece por troca de calor entre os corpos, ou seja, quanto maior a capacidade de troca de calor entre a região mais aquecida para a menos aquecida, maior vai ser o resfriamento do tecido. É por esse motivo que o resfriamento feito com bolsas de gelo é mais eficaz do que as compressas feitas com água gelada.

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O frio também faz com que o metabolismo da região em tratamento seja diminuído, aumentando as chances de o tecido sobreviver em casos de diminuição do suprimento de sangue e a falta de oxigênio. Assim, em resposta ao frio, os vasos sanguíneos fazem uma vasoconstrição (diminuição do diâmetro do seu calibre) que, como consequência, diminui o fluxo sanguíneo naquela região - o que significa menos hemorragia dos vasos danificados, edema de menor extensão e diminuição no acúmulo de células inflamatórias. Como a maioria das lesões musculares, ósseas ou de ligamentos dos atletas e dos praticantes de atividades físicas não envolvem infecções ou feridas, não há necessidade de ter células que destruam as bactérias ou outros agentes nocivos no local. E o gelo controla esses primeiros estágios do processo inflamatório.

Quem nunca usou uma compressa de gelo sobre uma região inflamada ou dolorida?

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A dor é controlada com o uso do frio, pois reduz a condução nervosa, ou seja, as informações de dor chegam ao nosso cérebro de forma mais lenta, pois o frio tem a capacidade de diminuir a transmissão nervosa das bras responsáveis pela condução da dor e minimizar a excitabilidade das terminações nervosas livres (que formam os receptores mais importantes da dor). A aplicação local de gelo também diminui a sensibilidade dos receptores de toque e de pressão espalhados pelo nosso corpo. Todos esses mecanismos são capazes de alterar a nossa percepção de dor.

 



MODALIDADES DE CRIOTERAPIA
A forma mais utilizada e popular de crioterapia é o gelo picado (ou em cubos) colocado dentro de sacos plásticos ou em bolsas apropriadas encontradas em lojas de materiais esportivos, farmácias ou produtos hospitalares, que são colocados diretamente sobre a região acometida pelo problema. Contudo, apresentamos outras técnicas:


COMPRESSA DE GELO: é realizada com gelo picado dentro de uma toalha molhada em água fria e depois dobrada em forma de compressa.


BANHO DE IMERSÃO FRIA: como o próprio nome diz, nesta modalidade a região a ser tratada (normalmente mão, antebraço, cotovelo e tornozelo) ca imersa dentro da água com cubos de gelos. Ela é utilizada quando se busca um tratamento mais uniforme de grandes regiões. Embora seja o método mais incômodo da crioterapia, a temperatura local e a dor diminuem rapidamente.


MASSAGEM COM GELO: consiste em uma massagem realizada com um bloco de gelo, produzindo movimento constante e suave de fricção na região afetada, resfriando, assim, o local. É comumente utilizada em áreas pequenas.


BOLSA TÉRMICA DE GEL: o conteúdo destas bolsas é um gel não tóxico que pode ser tanto aquecido quanto resfriado, basta colocá-lo no refrigerador ou na geladeira e usá-lo como uma bolsa de gelo convencional. Deve-se tomar cuidado especial com o gel que se encontra no interior, pois a temperatura atingida geralmente será inferior a 0° e poderá causar queimaduras na pele. Uma desvantagem desse tipo de bolsa é que elas não se mantém geladas por muito tempo.


AEROSSOL: é um gelo na forma de spray aplicado a uma distância de 30 cm da região acometida. Tem poder de resfriamento baixo e sua aplicação deve ser breve, respeitando as normas de segurança descritas pelo fabricante para não provocar queimaduras.


R.I.C.E OU P.R.I.C.E (sigla em inglês que significa Repouso, Gelo, Compressão e Elevação): o repouso relativo, a compressão e a elevação da região acometida associados ao gelo produzem bons resultados, uma vez que a compressão por meio de uma pressão externa (que pode ser feita por uma bandagem ou uma faixa elástica) exerce uma influência nas forças que movimentam os fluídos dentro dos vasos. A redução desses gradientes diminuem o extravasamento de líquidos do sistema vascular, retarda a formação do edema e produz uma redução maior da temperatura. A elevação do local da aplicação contará com a ajuda da gravidade para controlar a quantidade de sangue liberada para aquela região.


CRIOCINÉTICA: é uma modalidade de reabilitação em que se intercala a crioterapia com uma sequência de exercícios. É utilizada num sistema de reabilitação precoce com o objetivo de se iniciar um programa de exercícios o mais rápido possível. O frio atua na inibição da dor e na inibição neuromuscular, possibilitando que a pessoa execute os exercícios.


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Banho de imersão fria é o método mais doloroso da crioterapia, mas um dos mais eficazes


TEMPO DE APLICAÇÃO
Quem já experimentou ou já é adepto à crioterapia, sabe que, no começo, é um pouco desconfortável (para não dizer dolorido), mas é necessário um tempo mínimo de aplicação para que o gelo possa produzir os efeitos desejados. Para os iniciantes, logo no começo da terapia a dor pode ser intensa, mas diminui após alguns minutos. Portanto, resista. Conforme as aplicações se tornam mais frequentes, o desconforto tende a diminuir, pois o corpo se acostuma ao tratamento.

Fatores como área de contato (quanto maior a área de contato do gelo com a região, mais rápido é o seu resfriamento), espessura do tecido (particularmente quanto maior a camada de tecido adiposo - gordura -, maior é o tempo necessário para que ocorra o resfriamento) e diferença de temperatura entre o gelo e a região afetada são fatores importantes que determinarão o tempo de aplicação.

Estudos indicam um tempo médio de aplicação baseado na espessura do tecido que sobrepõe a região a ser resfriada, porém, a média de tempo para a maioria das pessoas é entre 20 a 40 minutos de aplicação para qualquer modalidade da crioterapia.


CUIDADOS
É possível que o uso do gelo, como em qualquer outra técnica má executada, cause algum tipo de lesão. Seguem três cuidados básicos para que isso não ocorra:
1) Ao realizar compressas com gelo, cuidado para não apertar demais a região, criando um efeito "torniquete". A compressão deve ser moderada e não deve interromper o uxo sanguíneo do local;
2) O frio pode produzir lesões na pele, que chamamos de ulcerações. Elas ocorrem quando o tecido é destruído pelo congelamento. Mas, para que isso ocorra, os tecidos devem ser resfriados numa temperatura abaixo de 0° e começar a ter formação de cristais de gelo;
3) Quando o gelo for aplicado em regiões onde se encontram porções super ciais de nervos (como na face interna do cotovelo e lateral da perna), o monitoramento da compressão e da aplicação deve ser cuidadosamente observado, pois o uso prolongado nessas regiões pode causar uma lesão nervosa.


FRIO OU CALOR?
É muito comum após um treino ou jogo sentir alguma dorzinha e eis que surge a grande dúvida: "devo usar gelo ou calor para aliviar os sintomas?" O uso do gelo é indicado para as dores ou incômodos que surgiram há menos de dois dias, como nos traumas agudos (como pancadas e tombos), nos hematomas, estiramentos musculares e quando há inchaço na região, muito comum nas torções articulares. Passado o período de dois dias e na ausência de inchaço, o calor pode ser utilizado para aliviar os sintomas. Contraturas, tensões musculares e torcicolos costumam responder muito bem ao calor.

Por fim, a crioterapia é um dos recursos utilizados no tratamento e na prevenção de lesões musculoesqueléticas, trazendo muitos benefícios, mas ela não substitui um tratamento adequado para a sua queixa e nem dispensa o acompanhamento profissional.

RICE - repouso, gelo, compressão e elevação - produz bons resultados

Ricardo Takahashi E Lior Milgrom

Publicado em 28 de Setembro de 2010 às 08:00


Preparação Física/Fisioterapia

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