Drill

Quem tem medo de drill?

Exercícios repetitivos e chatos? Drills não são nada disso. Com eles, você pode manter a motivação dos treinos e melhorar muito seu jogo


AINDA HOJE ALGUNS PROFESSORES e alunos se assustam quando ouvem a palavra drill. Contudo, a tradução do termo significa nada mais do que exercício, prática ou treino. Ou seja, na verdade, drill é tudo que se faz para praticar, ou melhorar algo.

No entanto, no Brasil, o termo tomou a conotação de exercícios de repetição maçantes e nada prazerosos. Criar atrativos e motivação para o treinamento com drills depende de criatividade, boa vontade e inteligência por parte dos professores e treinadores. A simples proposta de acertar alguns tubos de bola (ou cones) pode fazer toda a diferença em um treino. Uma disputa de acertos de alvo pode transformar o treino em competição, motivar e trabalhar o emocional do tenista.

Os drills são ferramentas de grande sucesso, sejam em treinos normais, sejam específicos para correções de técnica e aperfeiçoamentos, pois são exercícios que visam intensificar a repetição de gestos, golpes e jogadas. Mais do que trabalhar a técnica, é uma arma no trabalho tático (e físico também).

Tecnicamente, a proposta é simples, repetição. Repetição de golpes bem executados. Quanto à parte tática, também é a melhor forma de repetir jogadas para a memorização de atitudes que serão usadas em determinadas situações e mecanização de golpes em situações específicas.

Drills de correção de golpes podem ser feitos voltados para o alambrado do fundo de quadra - assim o jogado se preocupa apenas com o movimento e não com os acertos

Divertidos, inteligentes e saudáveis
Treinamentos em grupo são mais alegres e motivadores, principalmente para crianças (mas também para adultos que realmente querem melhorar suas técnicas e não apenas "suar"). As "mal faladas" filas proporcionam intervalos física, mental e tecnicamente inteligentes. Essa espera transforma os treinos em "interval training" (treinos intervalados) e possibilita aos alunos recuperação física para execução de novas séries em condições plenas e aos professores tempo para correções e dicas para as próximas execuções.

Para que servem o drills?
Drills são ferramentas que possibilitam treinar e evoluir a técnica, o físico, a parte mental, o conhecimento tático e estratégico de forma intensiva e lúdica de uma forma eficiente. Sendo assim, vamos dar alguns exemplos de exercícios que podem ser usados para correção de movimentos, ajustes técnicos, aplicações táticas, trabalho físico e de movimentação e também um jogo envolvendo diversos desses aspectos.

"Para-brisas" é uma boa opção para fazer ajustes técnicos nos golpes

Correção
Se o objetivo é melhorar a técnica do aluno, coordenação de olhos, equilíbrio etc, uma ótima ferramenta é a execução do golpe sem a preocupação do acerto do alvo do outro lado da quadra, reduzindo assim a ansiedade. "Tire a quadra da frente do aluno" e faça-o pensar no movimento apenas. Esse exercício consegue induzir a prática do golpe (a mecânica) com atenção total na técnica. Basta que você posicione o aluno de frente para o alambrado (ou uma tela) da quadra e trabalhe a técnica dos golpes sem a preocupação de acertos e erros.



Dependendo da criatividade, número de drills pode ser infinito acrescentando apenas algumas simples variações

Técnica
Com a repetição do golpe em bolas iguais ou muito parecidas, com um grau de dificuldade programado, consegue-se um ótimo trabalho de precisão para cruzadas e paralelas, profundidade da bola e ajustes técnicos de gestos e movimentos. Acrescentando movimento, ajustamos e mecanizamos o complexo cálculo de distância correta para os golpes. Seguem dois exemplos de drills de ajustes técnicos:

Para-brisas
Um drill chamado "para-brisas" - devido à movimentação dos jogadores ser semelhante ao do limpador de para-brisas dos automóveis - é excelente para melhorar o cálculo de distância dos golpes de fundo (drives), movimento, precisão e potência das batidas.

Execução correta: Dois jogadores trabalham ao mesmo tempo batendo alternadamente bolas nas extremidades da quadra.

Importante: A repetição mecaniza todo o exercício. Os jogadores devem se manter em movimento durante toda a execução do drill (como se estivessem jogando) e devem iniciar os movimentos para a bola a ser golpeada depois de elas serem lançadas, e não antecipadamente. Eles devem executar os movimentos corretamente, indo para a bola pé ante pé e voltando para o centro com a movimentação de recobertura da quadra, ou seja, com movimento lateral.

Lado a lado
Como o próprio nome diz, os jogadores batem bolas nas duas extremidades da quadra. Um bom número de execuções é quatro golpes seguidos alternando direitas e esquerdas.

Importante: Como sempre, manter a movimentação correta - ir para a bola de frente e retornar até o momento do split step lateralmente. A movimentação pode ser mais ou menos aberta dependendo do nível técnico e físico dos jogadores.

Tática
Treinar situações estratégicas de jogo é mais simples do que se imagina. Basta mesclar bolas e sequências que podem acontecer em uma partida. Repetir situações de defesa, ataque, approach faz com que o aluno consiga reconhecer esses momentos mais facilmente durante uma partida e possa reagir mais rapidamente de acordo com o que está enfrentando. A seguir, exemplos de drills com variações táticas:

Drives e approaches
Mescla de drives (golpes de fundo) e approaches (golpes de aproximação para a rede). Esse drill tem como objetivo a mecanização de batidas com profundidades diferentes e identificação dos golpes de subida à rede.

Importante: Os jogadores não devem antecipar a movimentação sem visualizar a bola. A bola lançada pelo driller deve estar na altura desejada para caracterizar um approach e não um winner. Observe a correta movimentação após o approach o e o posicionamento do split step para o voleio.

Treinar bolas altas para winners ajuda o aluno a reconhecer momentos de ataque durante a parti da, além de aprimorar o golpe tecnicamente

Drives com winner
A mecânica do treino é similar a do treino anterior, a diferença está apenas na altura da bola de meio que deve ser mais alta para a identificação e reação para a oportunidade de definição dos pontos - ou seja, bater um winner.

Observação: Lembre-se de que a movimentação após a execução de um winner ou um overhead (smash) é semelhante à pós-approach, ou seja, indo em direção à rede e fechando o ângulo correto (paralela). Os golpes de approach e winner - com diferenças de efeitos, profundidade, movimento e altura em relação aos drives - devem ser treinados isoladamente, em primeira instância, para depois compor uma sequência.

Drill misto com bolas variadas
Este tipo de exercício pode misturar controle, movimentação, variação na escolha do golpe e potência. O professor se posiciona em um ponto da quadra onde o jogador possa conseguir golpear os alvos propostos. O jogador bate uma ou uma sequência de bolas (pré-determinadas) para o professor e, em seguida, o golpe ou os golpes que estão sendo treinados.

Exemplo: Uma bola de controle O professor lança a primeira bola e o aluno rebate de volta ao professor, que a devolve novamente. Aí, o aluno aproveita essa bola para treinar uma paralela, por exemplo.

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Drills servem para ajudar um aluno a melhorar as partes técnica, tática e física


Físico e movimentação
Os drills certamente ajudam a melhorar a técnica e tática, mas também podem servir para melhorar a parte física e de movimentação dos tenistas dependendo, nesse caso, muito mais da intensidade do exercício. Segue, então, um exemplo de drill técnico de controle que pode forçar o aluno a ter uma melhor movimentação:

Drill entre atletas
Exemplo: Quatro jogadores, dois em cada lado da quadra. Use um tubo de bolas ou um pequeno cone para marcar o ponto de movimentação dos jogadores. Dois jogadores alternarão os golpes de um dos lados da quadra. O professor lança a primeira bola para os jogadores do lado A, que praticarão uma bola funda cruzada que será rebatida pelos jogadores do lado B da mesma forma continuamente, até ocorrer o erro de um dos alunos. Detalhe: os jogadores se alternam rebatendo as bolas sempre dando a volta no cone.

Observação: Esses tipos de drills funcionam melhor com jogadores de nível avançado e só devem ser utilizados com jogadores Intermediários se o professor tiver certeza de que pode controlar os alunos em relação à potência dos golpes.

 


Como trabalhar o emocional de um atleta com um drill?

Separe a mesma quantidade de bolas para dois ou mais alunos e cada um executará um segundo saque. Em caso de erro, o aluno pega uma bola e devolve ao seu monte. Ganha quem terminar suas bolas primeiro. Essa é uma forma de fazer com que o aluno se concentre e não cometa duplas-faltas.


Ao colocar alvos e objetivos a serem atingidos em cada exercício, cria-se uma competição e isso estimula os alunos

Jogo
Promover alguns jogos baseados em exercícios específicos e situações táticas é uma boa forma de motivar os alunos. São diversos as opções, indo desde saques em alvos com penalidade para os que erram e prêmio para os que acertam até minipartidas com jogadas programadas. Segue um exemplo clássico:

Rei da quadra
Um jogador é escolhido como o rei, os demais posicionamse do outro lado da quadra e o professor fica do mesmo lado da quadra que o rei. O treinador lança a primeira bola para um jogador do lado oposto do "rei", e este inicia o ponto disputado na linha de base. Se o rei vencer, o jogador está eliminado e volta para o fim da fila de desafiantes, dando chance ao próximo. Em caso de vitória de algum dos desafiantes no primeiro ponto (de fundo), ele corre para a rede e o professor lança uma nova bola para que o desafiante jogue com voleios. Novamente, a vitória do rei elimina o desafiante e inicia-se novo ponto na linha de base contra outro adversário. Caso o desafiante vença também na rede, o professor inicia um terceiro ponto lançando uma bola para ser batida com smash. Se o rei vencer, elimina o desafiante. Mas, no caso de nova vitória do desafiante, ele assume passa a ser o novo rei, indo para o outro lado da quadra.

Importante: Os jogadores em fila devem ser posicionados de forma segura e que não atrapalhe a atuação do parceiro em disputa. As trocas de jogadores devem ser feitas de forma rápida e dinâmica. O professor deve zelar pela segurança de todos, principalmente em relação a bolas deixadas em quadra após os pontos. O professor deve lançar bolas com graus de dificuldade de acordo com o nível do tenistas que estão na disputa.

Observação: Esse jogo induz os jogadores a treinarem fundamentos de fundo de quadra, voleios e smashes em situações de jogo

 

Como melhorar o controle
Você comete muitos erros não forçados? Os drills podem lhe ajudar. Os jogadores mais agressivos, muitas vezes, trabalham com um esforço acentuado, levando para um nível que fatalmente o obrigará a buscar a definição do ponto rapidamente. Mas há ainda outros dois fatores que levam o jogador ao excesso de erros: a falta de preparo físico e a ansiedade.

Nesses três casos, uma ótima opção de treino é aumentar a quantidade de bolas por exercício. Comece com bolas nos cantos da quadra, em um ritmo lento. Primeiro quatro bolas (direita, esquerda, direita e esquerda). Depois, aumente gradativamente esse número, podendo chegar a oito, 10, 12 ou mais dependendo do nível do jogador. Em seguida, vá aumentando a velocidade da movimentação, com bolas lançadas em um intervalo menor. A medida certa para cada jogador é quando ele começa a perder o controle, seja dos movimentos seja da técnica. Esses exercícios educarão o aluno a manter o controle da respiração durante pontos longos (em forma de exercício aeróbio), melhorarão o preparo físico e naturalmente vão incutir no repertório de jogadas pontos mais longos.

Carlos Omaki

Publicado em 21 de Outubro de 2011 às 12:45


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Artigo publicado nesta revista