Análise WTA

Quem jogará o WTA brasileiro?

A Revista TÊNIS fez um levantamento do número de torneios e de jogadores(homens e mulheres) no ranking desde 2000 para entender como o torneio WTA - que ocorrerá em 2013 - pode ajudar a mudar a perspectiva do tênis feminino brasileiro


Marcelo Ruschel/Poapress

Ok, nossa última tenista top 100 foi Andrea Vieira. Em abril de 1990, foi a última vez que Dadá apareceu entre as 100 melhores do mundo. Desde então, nenhuma jogadora brasileira chegou sequer perto dessa posição. No entanto, não adianta ficar "chorando as pitangas".

A Revista TÊNIS já fez e refez artigos sobre o tênis feminino brasileiro, seus problemas e suas soluções. Sempre que conversamos com atletas, treinadores, dirigentes etc, caímos nos mesmos pontos: falta de torneios, falta de apoio, falta de competitividade aliada à falta de incentivo para as meninas quererem seguir carreira no tênis. Enfim, os anos passam, o panorama não muda (ou muda pouco) e as queixas continuam as mesmas.

De dois anos para cá, contudo, se o ranking das meninas não subiu, a realidade em termos de estrutura já apresentou melhoras, pois houve um vertiginoso aumento do número de torneios femininos realizados no Brasil, assim como também houve continuidade do apoio financeiro por parte da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) para as melhores do país. Agora, com a vinda de um torneio da série WTA para o Brasil, o que podemos esperar?

fotos: Marcelo Ruschel/Poapress

WTA NO BRASIL

Recentemente, a CBT comprou a data do evento de Marbella e, assim, depois de 11 anos o país sediará novamente uma competição feminina de grande porte. A última vez havia sido em 2002, na Costa do Sauípe, em conjunto com o torneio masculino do Brasil Open.

Durante dois anos, 2001 e 2002, os eventos de homens e mulheres ocorreram em paralelo na Bahia. Mas, depois, com a falta de patrocinadores, o feminino foi descontinuado. Na época, tenistas de renome como Monica Seles, Jelena Dokic, Patty Schnyder e Anastasia Myskina vieram ao Brasil para a disputa.

Em 2000, um ano antes, o Brasil, realizou um WTA em São Paulo. Com premiação menor (US$ 140 mil), uma tenista nacional conseguiu entrar direto na chave: Joana Cortez, que perdeu na estreia. Vanessa Menga recebeu um convite e venceu uma rodada. Na época, terminamos a temporada com 18 tenistas ranqueadas, sendo apenas quatro entre as top 500.

No ano seguinte, somente Joana Cortez estava na chave do Brasil Open (que dava US$ 625 mil em premiação), dessa vez devido a um convite, e conseguiu ganhar uma partida. No fim do ano, só quatro meninas brasileiras estavam no top 500, contudo, 29 apareciam no ranking da WTA. Em 2002, Carla Tiene e Maria Fernanda Alves ganharam wild card para participar da competição no Sauípe e perderam na estreia. Na temporada, 19 jovens apareceram ranqueadas. Seis entre as top 500.

Na época, além do Brasil Open, pouquíssimos outros eventos femininos estavam no calendário de competições do país. De 2000 até 2009, tínhamos uma média seis torneios por ano. Nos últimos dois anos, porém, tivemos 19. Até 2009, tivemos 21,5 tenistas em média figurando no ranking da WTA, sendo que em 2003, nosso pior ano, foram apenas 16. Em 2010 e 2011, esse número saltou para 28 e 34 respectivamente, certamente reflexo da maior quantidade de competições. Nada mal se considerarmos que desde 2007 somente tenistas com no mínimo três pontos aparecem no ranking de fim de ano.

DA QUANTIDADE VEM A QUALIDADE?

Em nossa análise de evolução dos rankings das tenistas brasileiras, podemos perceber que, mesmo em anos em que houve maior volume de torneios, não houve uma melhora no ranking. Se considerarmos apenas tenistas entre as 500 primeiras do mundo, de 2000 para cá, tivemos, em média, apenas seis tenistas. Sendo que desde 2005 não tivemos nenhuma top 200. Considerando o top 300, nossos melhores anos foram 2006 e 2007, com três jogadoras.

Essa fato, infelizmente, demonstra que, quando o WTA for realizado em 2013, provavelmente ainda não teremos nenhuma brasileira capaz de ingressar diretamente na chave sem precisar de convite. A boa notícia, contudo, é que, com um base consideravelmente maior (mais de 30 meninas com pontos no ranking), a chance de alguma delas despontar aumenta. Ao menos é o que se espera.

Foi esse aumento da base, por exemplo, uma das coisas que possibilitou termos 17 jogadores homens no top 500 e 85 com pontos no ranking da ATP atualmente. Números que se sustentam há alguns anos, especialmente depois de o calendário masculino de Futures chegar a casa dos 30 por ano no Brasil. No caso do tênis masculino, é notório que o aumento do número de torneios alargou a base do esporte. Mais do que isso, trouxe ferramentas para que seus rankings evoluíssem.

Com o advento do WTA, há uma grande chance de novos apoiadores se interessarem pelo tênis feminino, criando oportunidades de novas competições, além de novas meninas se interessarem pelo esporte já que poderemos ter aqui algumas das melhores do mundo. Com torneios mais fortes, também podemos sonhar com uma evolução qualitativa do ranking, já que os parâmetros serão mais altos e as brasileiras não poderão se acomodar.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 24 de Abril de 2012 às 08:12


Torneio

Artigo publicado nesta revista