O verdadeiro talento dos gramados

Enquanto as atenções estavam voltadas para a Copa do Mundo, Federer e Mauresmo é que davam um show sobre a grama


A BOLA ROLAVA na A lemanha e a bolinha quicava na Inglaterra. Os olhos do mundo se dirigiam para as seleções que prometiam encantar. Até mesmo os ingleses, donos do mais tradicional Grand Slam, acabaram deixando o tênis de lado para se co ncentrarem no futebol. Com isso, a bilheteria de Wimbledon caiu (apesar de os organizadores jurarem que a Copa não teve influência). No Brasil, o canal Spor tv, que transmitia as partidas do All Engl and Lawn Tennis & Croqu et Club, interrompia sua programaç ão assim que começavam os imperdíveis e emocionantes treinos da Seleção Canarinho. Uma pena , pois, no fim das contas, quem optou por acompanhar o esporte com os pés acabou perdendo a demonstração de talento de Roger Federer e Amelie Mauresmo.

O suíço mais uma vez provou que na grama não existe ninguém melhor do que ele. Mesmo com uma chave complicada , avançou à final sem perder sets , sem ser ameaçado. Nem o jovem francês Richard Gasquet (de quem sempre se espera muito em Grand Slams , mas acaba fazendo pouco ), nem o inglês Tim Henman, nem a promessa tcheca Tomas Berdych, nem o experiente sueco Jonas B jorkman (que surpreendeu ao atingir a semifinal). Nenhum deles quebrou o serviço do número um do mundo. Gasquete Berdych tiveram apenas uma chance, Henman duas, Bjorkman nem chegou perto. Em sua campanha o suíço sacou 101 vezes, com apenas quatro quebras.

Antes da final, som ente o francês Nicol as Mahut – detentor de um saque poderoso, mas inconstante – e o croata Mario Ancic conseguiram a façanha de derrubar o serviço de Federer. Na decisão, o suíço se confrontou com um adversário, como ele mesmo disse, inesperado. O espanhol Rafael Nadal, rei do saibro, surpreendeu ao demonstrar que rapidamente se adaptou ao piso mais rápido do tênis . Tudo bem que o garoto levou um pouco de sorte no sorteio da chave e escapou de adversários perigosos na grama, mas, em Wimbledon, além de se defender como sempre, Nadal t ambém arriscou mais, principalmente no saque e nos drives de fundo. Em sua c aminhada rumo à decisão, o espanhol teve trabalho apenas na segunda rodada contra o norte -americano Robert Kendrick. Ele ainda foi o responsável pelo adeus de Andre Agassi (que prometeu se aposentar após o US Open ) da quadra central do All England Club e por parar o sempre alegre Marcos Baghdatis na semifinal.

RIVALIDADE
Na quinta final contra Federer em 2006, Nadal deixou claro que vai incomodar muito o suíço nas quadras rápidas. Apesar de tomar um “pneu” no primeiro set, o campeão de Roland Garros endureceu o jogo a partir do segundo e teve chance de levar a parcial após quebrar o saque de Federer logo no primeiro game. No entanto, quando sacava para fechar, vacilou. Na terceira série, não houve quebras e desta vez o garoto de Mallorca nã o titubeou e roubou um set do suíço no tiebreak. Mas a esperança de que Nadal pudesse repetir o feito de Manolo Santana – único espanhol a vencer Wimbledon (em 1966) – e o de Bjorn Borg – que em 1978, 79 e 80 ganhou Roland Garros e Wimbledon – acabou por aí.

Federer logo conseguiu duas quebras de saque, se precipitou na primeira chance de fechar a partida, porém na segunda foi ele quem se igualou a Borg, Agassi, Pete Sampras, Jimmy Connors e John McEnroe com quatro conquistas em um mesmo Grand Slam. Como Borge Sampras, o suíço agora é um dos três tenistas da Era Aberta a vencer Wimbledon quatro vezes seguidas. Porém, o sueco e o norte-americano ganharam cinco vezes consecutivas (Borg de 1976 a 198 0, Sampras de 1997 a 2000). O suíço agora soma 48 vitórias seguidas na grama, superando o recorde de Borg (41). A taça em Wimbledon é a oitava de Federer em Grand Slams. Assim e le se junta às marcas de Agassi, Conno rs, Ivan Lendl, Ken Rosewall e Fred Perry.

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Para chegar em Sampras , com 14 Grand Slams, ele precisa vencer mais seis. Se o tempo e o talento estão a favor de Federer, um grande obstáculo surge para afastá-lo desta façanha : Rafael Nadal.

Rapidamente o espanhol está se adaptando aos pisos mais velozes e o confronto entre ambos nas finais dos torneios parece inevitável. Reconhecendo o valor e o esforço do oponente, o número um do mundo chegou a levantar para aplaudir quando Nadal foi chamado para receber o prêmio pelo vice-campeonato.

NERVOS À FLOR DA PELE
No torneio masculino, o número um do ranking encantou a platéia, e no feminino também. A francesa Amelie Mauresmo conquistou seu segundo Grand Slam na carreira , desta vez de maneira mais convincente, sobre a mesma Justine Henin-Hardenne que havia abandonado a final do Australian Open em janeiro com problemas estomacais. Em Wimbledon, a belga não sentiu dor alguma e enfrentou uma adversária inspirada. A decisão foi emocionante, com as jogadoras sempre buscando a rede, sacando e voleando no melhor estilo clássico de grama.

RESULTADOS FINAIS SIMPLES
Roger Federer (SUI) v. Rafael Nadal ( ESP ) 6/ 0, 7/6( 5), 6/7(2) e 6/3
Amelie Mauresmo (FRA) v. Justine Henin-Hardenn e (BEL) 2/6, 6/3 e 6/4

DUPLAS
Bob Bryan e Mike Bryan (EUA) v. Fabrice Santoro (FRA) e Nenad Zimonjic (SCG) 6/3, 4/6, 6/4 e 6/2
Jie Zheng e Zi Yan (CHI) v. Virginia Ruan o Pascual (ESP) e Paola Suarez (ARG) 6/3, 3/6 e 6/2
Andy Ram (ISR) e Vera Zvonareva (RUS) v. Bob Bryan e Venus Williams (EUA) 6/3 e / 62

JUVENIL
Thiemo De Bakker (HOL) v. Marcin Gawro n (POL) 6/2 e 7/6(4)
Caroline Wozniacki (DIN ) v. Magdalena Rybarikova (SVK ) 3/6, 6/1 e 6/3
Kellen Damico e Nathaniel Schnugg (EUA) v. Martin K lizan e Andrei Martin (SVK) 7/6(7) e 6/2
Alisa Kleybanova e Anastasia Pavlyuchenkova (RUS ) v. Kristina Antoniyc huk (UKR) e A lexandra Dulgheru (ROM) 6/1 e 6/2

A francesa, sempre criticada por tremer em jogos importantes, desta vez soube controlar os nervos e virar um duelo que parecia perdido ao final do primeiro set. Sempre agressiva, Mauresmo sacou bem para se safar dos break points e atacou Henin quando pôde. Após receber o troféu, afirmou: “Não quero mais ninguém falando sobre os meus nervos” e, logo em seguida, apareceu na sala de imprensa vestindo uma camiseta com os dizeres: “Campeã de Wimbledon 2006: Sou o que sou”.

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Apesar de ter vencido o Australian Open no começo do ano, Mauresmo ainda continuava com a pecha de “amarelona”, principalmente após cair nas oitavas-de-final de Roland Garros. Na Austrália, sua conquista ficou um pouco manchada pelo abandono de Henin logo no começo do segundo set, apesar da grande campanha que fez até a final. Mas o título em Wimbledon – o primeiro de uma francesa desde a sexta e última vitória de Suzanne Lenglen em 1925 – serviu para que a moça extravasasse e mostrasse ao mundo o quão segura ela é de si e de seu jogo. Porém, a número um do mundo não pode dizer que seu problema emocional está de todo superado. Nas primeiras rodadas ela não teve dificultades e atropelou as adversárias. Contudo, quando enfrentou a russa Anastasia Myskina nas quartas-definal, sua instabilidade apareceu. Após um primeiro set arrasador, perdeu o segundo errando muito e só foi se reencontrar no terceiro. Na semifinal, voltou a oscilar diante de Maria Sharapova.

Na decisão, quem esteve impecável no primeiro set foi Henin, que neutralizou as subidas à rede de Mauresmo. A belga fazia sua terceira final de Grand Slam no ano e queria o título para se tornar a segunda jogadora em atividade a ganhar os quatro Majors na carreira (Serena Williams já triunfou em todos). Ela também se igualaria a Margaret Smith Court, Billie Jean King, Chris Evert e Steffi Graf como as únicas tenistas da Era Aberta a vencerem os quatro Slams. Porém, o sonho de Henin acabou assim que Mauresmo acordou. Como em 2001, na final contra Venus Williams, a belga teve de postergar este objetivo. Nesta partida, sim, a francesa teve muitos méritos e soube suportar a pressão.

Baghdatis
Sharapova Bjorkman

DUPLAS
Nas duplas, ao conquistarem Wimbledon, os irmãos norte-americanos Mike e Bob Bryan se tornaram a terceira dupla na Era Aberta a possuir títulos nos quatros Majors. Além deles, somente os holandeses Jacco Eltingh e Paul Haarhuis e os australianos Mark Woodforde e Todd Woodbridge venceram em todos. E as chinesas voltaram a surpreender o mundo. A dupla ZiYan e Jie Zheng faturou mais um Grand Slam em 2006. Elas já haviam conseguido um feito histórico para seu país ao vencer o Australian Open deste ano. Em Roland Garros não chegaram à final por pouco e agora confirmam a ascensão do tênis na China e são a segunda melhor parceria do mundo.

BRASILEIROS
Mais uma vez o Brasil ficou devendo em Wimbledon. Somente dois tenistas entraram na chave principal: Marcos Daniel e Flávio Saretta. Porém, ambos caíram na primeira rodada sem oferecer resistência. Daniel perdeu para o finlandês Jarkko Nieminen e Saretta para o sul-coreano Hyung Taik Lee. André Sá, Júlio Silva e Maria Fernanda Alves disputaram o quali e não se deram bem.

Mas, o melhor resultado brasileiro veio com Sá, que ao lado do paraguaio Ramon Delgado furou o qualide duplas e alcançou a terceira rodada, perdendo somente para os vice-campeões Fabrice Santoro e Nenad Zimonjic.

Da redação

Publicado em 11 de Outubro de 2006 às 11:08


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Artigo publicado nesta revista