O tênis dos "sem ranking"

O esporte não é só competição, é saúde e relacionamento


NUMA RECENTE pesquisa publicada pela Federação Internacional de Tênis (ITF), estima-se que o número de praticantes de tênis no Brasil beira um milhão e meio de pessoas. Sim, acreditem, temos essa vasta multidão de tenistas. A grande maioria destes fãs, consumidores, patrocinadores e colaboradores, que amam este esporte, conhecem muito bem os jogadores, acompanham os torneios pela televisão e os comentários de meu primo de primeiro grau, Dácio Campos.

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Grande parte deles também são bons “gastadores”. Andam com as roupas, tênis e raquetes dos jogadores que estão na mídia. Eles costumam treinar, fazer aulas e participar de eventos. Com isso que coloquei, vocês devem estar perguntando: “Quem são estes tenistas? Onde jogam? Em qual o ranking ou categoria jogam?”

Acreditem, eles não têm ranking, mas têm muita categoria. Os torneios de que participam são eventos sociais patrocinados por empresas que usam o tênis como “ferramenta de marketing”. Para essas firmas, esta é uma boa maneira de estreitar ligações com seus parceiros e fazer prospects. Há algum tempo, uma pesquisa com presidentes de empresas havia confirmado que eles vêem o esporte como um bom instrumento na estratégia para marketing de relacionamento e o tênis é a atividade mais praticada por eles.

Estes jogadores também não são filiados a nenhuma federação, não estão preocupados em defender pontos ou vencer grandes partidas. Este tipo de evento está crescendo muito. Várias academias e promotoras usam estas ações para ajudar seus clientes a conseguir seus objetivos comerciais.

Este conceito de torneio sempre oferece aos participantes um grande leque de serviços agregados ao tênis, como alimentação, massagistas, bolas novas, camisetas, arbitragem e, em alguns casos, vários ex-tenistas profissionais participam de um PRO-AM. Esta é a chance de estes empresários estarem lado a lado com tenistas que acompanhavam pela televisão ou já assistiram em algum torneio ao redor do mundo.

A premiação também é sempre de encher os olhos. Já organizei e participei de eventos em que o campeão recebeu como prêmio assistir a um Grand Slam, com passagem aérea na classe executiva, hotel, ingressos e passeios pela cidade totalmente pagos e com direito a levar acompanhante nessa mordomia. Outro bom prêmio foi oferecido em um torneio empresarial disputado por 20 grandes firmas. A equipe campeã, formada por cinco tenistas, foi assistir ao Brasil Open, na Costa do Sauípe, com todas as despesas pagas.

Várias empresas também alugam quadras para seus executivos ou clientes, formam grupos para terem aulas e prezam pela qualidade de vida. Por exemplo, uma multinacional, em parceria com uma grande empresa brasileira, patrocina uma noite chamada “confraria da raquete”. São 40 convidados por vez que, durante três horas, jogam tênis, fazem aulas, disputam animadas partidas e depois participam de uma degustação de vinhos com fartura de comida. Com isso, colocam o assunto em dia, conhecem novas pessoas e cuidam da saúde.

Uma amiga, que esteve no Masters Series de Miami nesta temporada, me falou sobre as atividades extraquadra que o torneio ofereceu. Havia desde shows musicais até exposição de carros. Absolutamente tudo para agradar o público. Neste pequeno mundo do tênis a regra é clara. O que interessa é competir, se divertir e manter a saúde.

Otávio Della, 37, ex-tenista profissional. Esteve entre os 300 do mundo em simples e os 125 em duplas. otavio@unisysarena.com.br
Otávio Della

Publicado em 28 de Maio de 2007 às 12:36


Coluna/Análise

Artigo publicado nesta revista