Professores

O papel do professor no ensino do tênis

Capacitar professores e transformar o método de ensino parecem ser alguns dos fatores que podem mudar a realidade do tênis brasileiro


Como aumentar a base do tênis brasileiro? Como estimular as crianças a praticar o esporte? Como manter o interesse delas? Como formar um tenista profissional? Como reter o interesse dos alunos em geral? As questões que envolvem o mercado brasileiro de tênis são muitas, algumas respostas parecem não estar tão distantes assim e a maioria delas sempre passa por um denominador comum: o professor. Sem o trabalho dele, dificilmente a realidade em que estamos mudará. E essa discussão esteve presente durante o 3º Simpósio Internacional de Tênis – evento que debateu diversos pontos do tênis brasileiro e reuniu por volta de 400 pessoas no clube Paineiras do Morumby, em novembro.

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Façamos uma breve comparação. Segundo pesquisa da Federação Internacional de Tênis (ITF), o Brasil tem quase 1,5 milhão de tenistas, enquanto na França há por volta de 3 milhões. Aqui temos cerca de 4 mil técnicos cadastrados na CBT. Lá são 18 mil os filiados à Federação Francesa. Nosso país possui quase 100 tenistas ranqueados na ATP e WTA. Lá eles estão por volta dos 200. Mas, o número que melhor mostra a grande diferença que há entre a nossa realidade e a deles é o dos jogadores que competem regularmente nos torneios nacionais. Aqui temos cerca de 1.500 juvenis e mais alguns poucos adultos disputando competições organizadas pela CBT. Nossas federações estaduais também não ostentam quantias muito mais significativas que isso. Porém, na França, a soma é assustadora: 390 mil pessoas jogam competições com freqüência.

Fleurian (acima) falou sobre o projeto francês e Cesar Kist sobre o Play and Stay da ITF

O que faz os franceses gostarem tanto de tênis? Segundo Jean Fleurian, extenista francês que atualmente se dedica a projetos de popularização do tênis, a resposta está no método de ensino. “Desde que a França adotou um sistema de ensino mais atraente, a quantidade de praticantes cresce a cada temporada”, afirmou durante o Simpósio. Tal programa chama-se Tennis Evolutif (Tênis Evolutivo). Através dele, é possível inserir tenistas de qualquer idade, em qualquer nível, em aulas e competições que vão estimular a prática do esporte. “Com o método comum de ensino, há um percentual baixo de retorno das crianças (de 6 a 10 anos) após o primeiro ano, menos de 20%. Com a nova maneira, 80% dos garotos retornam no ano seguinte”, garante o francês.

Um dos pontos-chave deste projeto é o Le Petit Tennis (O Pequeno Tênis), sistema voltado para crianças de 3 a 6 anos. A meninada diverte-se, aprende o esporte, desenvolvendo habilidades motoras, intelectuais e sociais, por meio de atividades lúdicas. Para tanto, são usados processos e materiais apropriados para esta faixa etária, sempre direcionando os objetivos das aulas com as experiências das próprias crianças, através de relações com histórias, animais e coisas do cotidiano. Segundo Fleurian, nos Estados Unidos - onde ele está atuando - 75 mil crianças estão envolvidas com o Le Petit Tennis.

Fotos: Regina Lajes/Alpha ImagemNo Brasil
Tal preocupação com os métodos de ensino, no entanto, não é exclusividade do Brasil. A ITF vem divulgando sistematicamente o seu programa Play and Stay (Jogue e Permaneça), que, assim como o projeto francês, visa aumentar o número de praticantes, facilitando as aulas e o ingresso de novos adeptos ao esporte. Durante o Simpósio, o diretor do departamento de capacitação da CBT, Cesar Kist mostrou como funciona o sistema.

Nele, quadra, bolas e raquetes são adaptadas. Inicia-se com quadras e raquetes menores e bolas mais lentas, até que o praticante tenha completo domínio do jogo e passe para os materiais comuns. Além disso, dá-se prioridade ao jogo – já que o objetivo da maioria das pessoas quando inicia é jogar –, deixando as instruções técnicas como adendos no decorrer do processo de aprendizagem. Até agora, um dos principais empecilhos para o encorajamento do uso deste método era a falta de material adequado, já que ao Brasil raramente chegavam bolas de espuma e raquetes apropriadas, mas, recentemente as marcas esportivas começaram a comercializar por aqui.

Aula social também deve ser planejada, do contrário, o aluno perde o interesse

Pelo lado do tênis social, Patrícia Medrado falou sobre a importância do planejamento das atividades para este tipo de aluno. “Se não há um objetivo, uma estrutura, a pessoa se sente perdida, frustrada, e desiste”, afirma a ex-número um do Brasil. Já Eduardo Eche e o britânico Andrew Burgess palestraram sobre o desenvolvimento técnico e tático dos tenistas, assim como o caminho para o profissionalismo. Por fim, Leonardo Azevedo, ex-treinador de Flávio Saretta e Ricardo Mello, falou das dificuldades que um técnico pode enfrentar no circuito profissional. “No tênis, como no futebol, há esta busca por resultados imediatos e isso não oferece segurança ao treinador, que raramente trabalha com um contrato assinado”, lamenta.

Fotos: Regina Lages/Alpha Imagem
Novos métodos de ensino estimulam a prática desde a primeira aula

Ponta da linha
Enfim, durante o Simpósio, todos os aspectos da vida de um professor de tênis foram abordados. Cerca de 400 participantes ouviram e discutiram cada tópico levantado pelo evento. Algumas respostas para os problemas do nosso tênis parecem trazer as soluções de que precisamos. Entretanto, um dos principais pontos para as mudanças propostas é a figura do professor. Aqui, temos 4 mil cadastrados na CBT e estimamos que haja o dobro disso não filiado e que, talvez, nunca tenham feito um curso de especialização.

No entanto, somente por meio dos professores é possível que os métodos de ensino apresentados surtam efeito. Há algum tempo, Cesar Kist defende que as principais mudanças do tênis brasileiro passam pelas mãos dos treinadores e tal ponto de vista é defendido por muita gente. Mas, para que as transformações ocorram, é preciso que os técnicos estejam sempre dispostos a aprender e a introduzir as novas informações recebidas em suas aulas. Por outro lado, as instituições e os agentes do mercado também devem contribuir para que a teoria vire prática, pois nosso tênis não pode mais ficar na fase da discussão e deve passar à ação.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 13 de Dezembro de 2007 às 12:18


Juvenil/Capacitação

Artigo publicado nesta revista