Copa Davis

O futuro além da Rússia

Se preparando para o difícil duelo contra os russos, Brasil renova a equipe com vistas ao Grupo Mundial


O CLIMA ERA DE EXPECTATIVA na manhã do dia 13 de julho. Após uma vitória arrasadora contra o Uruguai no fim de semana anterior, a equipe brasileira aguardava com ansiedade o sorteio do Play-off da Copa Davis, que será disputado em setembro e terá 16 equipes lutando por oito vagas no seleto Grupo Mundial da competição.

Com os números ao seu lado – leia-se 87,5% de chances de jogar o confronto decisivo em casa, diante de sua torcida –, o Brasil já voltava suas atenções para tentar, pelo sexto ano consecutivo, uma vaga na elite do tênis mundial. Porém, se em 2010 a sorte havia sorrido para Thomaz Bellucci & Cia – que foram sorteados para enfrentar a Índia, teoricamente o adversário mais fraco –, desta vez as “bolinhas” não nos ajudaram.

Num leque de opções que contava com República Tcheca, Croácia, Índia, Chile, Áustria e Suíça – adversários que o Brasil receberia em sua casa –, além de Israel e Rússia, confrontos em que haveria sorteio para definir o mandante, coube à equipe do capitão João Zwetsch a missão de viajar ao gélido e gigantesco país russo, bicampeão da competição. Os russos, mesmo longe de seus melhores momentos no tênis, possuem hoje cinco tenistas dentro do top 100.

CONFIANÇA, PELO MENOS NO DISCURSO
Embora as condições sejam completamente desfavoráveis, o capitão João Zwetsch adota um discurso de otimismo e confiança para o importante duelo. “O confronto vai ser muito duro, provavelmente eles vão escolher uma quadra coberta de carpete muito rápida e a viagem será longa e desgastante. Mas, apesar disso, tenho confiança de que a nossa equipe pode lutar por uma vitória”, afirma.

Embora nosso melhor tenista hoje (Bellucci) esteja pior colocado no ranking do que os dois principais nomes do rival, Mikhail Youzhny e Nikolay Davydenko, Zwetsch aposta no espírito de luta para desbancar esse favoritismo. “Estão todos muito comprometidos e com muita vontade de voltar ao Grupo Mundial”.

Se o discurso do comandante é de otimismo, a estrela da equipe segue a mesma linha e, confiante, acredita que chegou a hora de o Brasil se misturar às grandes potências do tênis mundial. “Vai ser um confronto complicado, já que provavelmente eles irão escolher um piso bem rápido. De qualquer maneira, temos chances de ganhar. É lógico que havia confrontos melhores, mas, se quisermos jogar o Grupo Mundial, precisamos ganhar de times como esse”, ressaltou Bellucci, que já chegou a ocupar a 21ª posição no ranking mundial, a segunda melhor de um tenista masculino brasileiro em toda a história.

“Se quisermos jogar o Grupo Mundial, precisamos ganhar de times como esse (contra a Rússia)”
João Zwetsch

RENOVAÇÃO
O Brasil segue fora da elite do tênis desde 2003, quando perdeu um equilibrado duelo contra os suecos. Após amargar anos de ostracismo no cenário mundial, disputando as esvaziadas zonas americanas da competição, voltamos a lutar por uma vaga na “primeira divisão” da modalidade em 2006, perdendo, desde então, cinco chances seguidas de figurar entre os grandes.

Após algumas convocações de mescla entre juventude e experiência nos últimos anos, parece que enfim chegou a hora dos “garotos” assumirem o papel de destaque em uma equipe que sonha em brilhar no cenário internacional.

Contra o Uruguai, João Zwetsch apostou em João “Feijão” Souza, de 23 anos, mesma idade de Thomaz Bellucci, figura unânime entre os convocados. E deu também a primeira chance a Rogério Dutra da Silva, de 27 anos, que entrou de titular e não decepcionou. Completou o time o duplista Bruno Soares, de 29 anos e o mais experiente do grupo, que compôs parceria com o próprio Bellucci. A presença de Soares sem seu parceiro habitual, Marcelo Melo, foi a grande surpresa da lista para os jogos de Montevidéu, já que, nos confrontos anteriores, sempre havia uma dupla fixa. Com isso, o capitão ganhou três opções para os jogos de simples, já precavido para possíveis lesões e desgastes, como aconteceu com Bellucci contra a Índia, no ano passado.

Responsável por comandar este momento de transição na equipe, Zwetsch adota um discurso de esperança e, ao mesmo tempo, pés no chão. “Penso que é necessário o Brasil ter outras opções para a formação da equipe, mas isso tem que ser feito com critério, pois acima de tudo a minha responsabilidade é convocar a equipe mais forte possível, sempre”, ponderou o capitão.

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“Temos uma boa geração chegando por aí, com Thiago Monteiro, Guilherme Clezar, Tiago Fernandes, Bruno Sant’anna entre outros”
João Zwetsch

PAPEL DE LIDERANÇA
Antes apenas mais uma das inúmeras promessas do tênis brasileiro, convivendo com o perigoso rótulo de “novo Guga”, Thomaz Bellucci é hoje a referência da equipe. Uma realidade no circuito, o canhoto de Tietê é visto como um rival de respeito pelos adversários. Na Davis, porém, o jovem ainda convive com críticas e desconfiança. No entanto, para Zwetsch, a condição de líder e principal jogador da equipe é incontestável. “A importância do Thomaz é muito grande. Ele é o segundo melhor tenista brasileiro de todos os tempos e só isso já bastaria para entendermos o seu papel”, elogia o comandante. “Além disso, é um exemplo como atleta profissional. Trabalhador, determinado e um grande jogador. Tomara que os nossos garotos possam cada vez mais se espelhar nele”.

Consciente de seu papel, o número um do Brasil faz uma autoanálise: “Nos últimos dois anos, sempre tive que entrar como número um e isso tem me feito jogar até um pouco pressionado. Tanto as pessoas quanto a própria equipe têm uma confiança grande em mim e preciso saber lidar com isso. No meu posto, o pessoal sempre conta com a vitória se jogo contra um jogador de ranking inferior. Aprendi muito este ano e sou um jogador mais preparado hoje do que na última Davis".

FUTURO ALÉM DA RÚSSIA
Passar ou não pela Rússia em setembro, tem a sua importância, mas o resultado final mudará pouco o que se espera para o Brasil nos próximos anos. O bom momento dos jovens tenistas do país, em especial aqueles que ainda nem sequer completaram 18 anos, enche de esperança quem acompanha e torce pela modalidade no país.

Entre tantos outros bons talentos que despontam, quatro em especial ganham destaque e já começam a ser fortes candidatos a figurar em um futuro não tão distante na equipe da Davis. Pelo menos é o que garante João Zwetsch, que enxerga muito além do duelo contra os russos. “Temos uma boa geração chegando por aí. Temos o Thiago Monteiro, Guilherme Clezar, Tiago Fernandes, Bruno Sant’anna entre outros, que estão despontando muito bem”, garante o capitão. “Acho que está nova geração está chegando com uma consciência profissional ainda maior do que a anterior e, com o apoio que vêm recebendo hoje, acredito que temos um horizonte muito positivo pela frente”.

Se teremos novamente uma equipe tão forte como a que tinha Guga, não podemos afirmar. Porém, voltar ao Grupo Mundial parece ser questão de tempo – e de um pouquinho mais de “sorte” nas bolinhas da Copa Davis.

Bruno Sant’Anna
Olho neles!
TIAGO FERNANDES
Destro
29/01/1993 - Maceió, AL
Melhor Ranking:
ATP Simples - 380 (11/04/2011)
ATP Duplas - 583 (17/01/2011)
ITF Juvenil - 1 (26/04/2010)
Principais momentos na carreira: Título do Australian Open Juvenil
(2009) e Vice-campeonato do Challenger de Recife (2011)
GUILHERME CLEZAR
Destro
31/12/1992 - Porto Alegre, RS
Melhor Ranking::
ATP Simples - 386 (18/07/2011)
ATP Duplas – 551 (04/07/2011)
ITF Juvenil - 13 (08/02/2010)
Principais momentos na carreira: Quartas do Challenger de Recife
(2011) e convocação para a equipe da Copa Davis no confronto contra o
Uruguai (2011)
THIAGO MONTEIRO
Canhoto
31/05/1994 - Fortaleza, CE
Melhor Ranking:
ATP Simples - 1081 (16/05/2011)
ATP Duplas - 1243 (30/01/2011)
ITF Juvenil - 3 (13/06/2011)
Principais momentos na carreira:Campeão de 18 anos da Copa
Gerdau (2011)
BRUNO SANT’ANNA
Destro
31/05/1994 – São José dos Campos, SP
Melhor Ranking:
ATP Simples - 1081 (16/05/2011)
ATP Duplas - 1243 (31/01/2011)
ITF Juvenil - 14 (21/03/2011)
Principais momentos na carreira: Título do Internati onal Casablanca
Junior Cup (2011)
José Eduardo Aguiar

Publicado em 12 de Agosto de 2011 às 11:22


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Artigo publicado nesta revista