Nas duplas, vá à rede

Uma das chaves do jogo de duplas é fechar a rede. Nem sempre é possível, como se vê nesta partida de profissionais (ao lado), mas o bom duplista não tem medo de avançar e fechar o ângulo dos adversários. Então, coragem e um passo à frente!


HÁ TENISTAS que sentem tanto medo de ir à rede, que deveriam fazer terapia. Como sei disso? Bem, eu era um deles. Meu remédio se resumiu a uma frase do maior voleador do Brasil, o destemido Carlos Alberto Kirmayr: "Vai ficar no fundo com o seu parceiro sacando? Não, não, não, não... Pode ir pra rede!". E assim, numa clínica de jornalistas há mais de 20 anos, em Serra Negra, arrastei-me para a zona onde se mata ou morre e onde é impossível praticar o confortável varejo. Hoje reconheço a importância deste gesto corajoso e aconselho: "Nas duplas, vá à rede".

Admito que não é fácil abandonar uma região onde você se defende bem, com forehands e backhands, para ir à outra onde a noção de espaço e tempo é diferente, exige-se mais agilidade e reflexo, e erros grosseiros, a princípio, são inevitáveis. Porém, quando se percebe que o jogo de rede é imprescindível não só para uma boa partida de duplas, mas também para o desenvolvimento técnico e tático do tenista, a experiência passa a ser bem prazerosa.

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Se você é do tipo racional, então será mais fácil convencer-se de que é preciso ir à rede nos jogos de duplas. Os grandes jogadores recomendam isso. O sueco Mats Wilander é um deles. Ele diz: "Raramente você pode sacar e ficar atrás, dupla é dupla, você tem que ir para a rede. É loucura deixar as crianças jogarem dupla da linha de fundo. O mesmo ocorre com as mulheres".

OS ARGUMENTOS DE KIRMAYR

Bem, pergun taria você, mas porque eu devo sair da segurança da minha linha de base para me aventurar em terre no desconhecido e hostil? Para responder a esta pergunta, passo a palavra ao mestre Kirmayr:

"Você tem mais chances de ganhar o ponto quando vai à rede. O adversário pode jogar a bola fora, jogar na rede ou na sua mão. Se ele acertar uma bela passada, parabéns, mas ele não vai acertar todas".

Kirmayr obviamente se esquece de que jogadores de fim de semana têm mais uma possibilidade de erro: quando a bola vem na mão e mesmo assim a gente consegue isolar ou jogar no pé da rede. De qualquer forma, ficariam três chances a dois a favor do voleador.

O GOLEIRO NO PÊNALTI

Uma grande vantagem de ir à rede nos jogos de duplas, é que você, como um goleiro que se adianta na cobrança do pênalti, fecha o ângulo do adversário. Ele precisará de uma bola mais precisa e rápida para passá-lo, pois o golpe fundo e regular, que busca apenas tirar a bola do seu parceiro que permaneceu à rede, já não servirá. Em outras palavras, você o estará pressionando e isso o fará cometer mais erros.

A maneira como se joga dupla nos clubes brasileiros, com um jogador à frente e um no fundo, abre muitos buracos para o adversário. Mesmo que você jogue desta maneira há anos, crie coragem para mudar, ou seu jogo ficará estagnado e você continuará ganhando e perdendo de quem sempre ganhou e perdeu. Crie algo novo. Vire o jogo.

Dizem que a dupla ideal é aquela que joga como se estivesse ligada por um barbante. Quando um recua, o outro faz o mesmo; quando um avança, o outro o segue. A maneira imutável como se joga dupla nos clubes brasileiros - um jogador à frente e outro no fundo - abre muitas brechas para o ataque adversário.

Em algumas situações, os parceiros podem se defender bem do fundo. Os argentinos David Nalbandian e Agustin Calleri não se acanharam de apelar para esta formação para vencer a dupla australiana pela Copa Davis . Mas a opção que dá a iniciativa do ponto e pressiona o adversário é ambos avançarem.

UM TENISTA MELHOR

Posso garantir que o hábito de ir à rede nos jogos de duplas vai torná-lo um tenis ta melhor (e um parceiro mais requisitado). Seus voleios, smashes e bate prontos aflorarão, você dominará com mais se gurança o espaço da quadra e o tempo da bola.

Não há o que pensar: na sua próxima partida de duplas, encaixe o primeiro serviço e suba atrás dele. Faça o mesmo ao conseguir uma boa resposta ao saque adversário. Mas antes de se tornar um fanático pelo estilo saque e voleio, há alguns cuidados a tomar.

Se o seu jogo de rede é tão incipiente, mas tão incipiente, que você mal consegue acertar um voleio ou smash , então será preciso aprimorar um pouco a técnica. Para começar, pegue algumas aulas. Nada que eu diga aqui substituirá o ensino prático de um bom professor.

Posso adiantar que um voleio requer uma preparação mínima, pois a bola vem rápida e dificilmente dá tempo de levara raquete para trás. É como um tapa de gato, ou como o jab no boxe. A empunhadura aconselhada é a Continental ( para visualizá-la, imagine o cabo da raquete como uma mão que você est á comprimentando. O "V " entre o seu polegar e indica dor ficará no meio do cabo). O golpe deve ser executado à frente do corpo, mas notáveis voleadores pegavam a bola atrasados. Enfim, tudo vai depender de como você se sentir mais confortável. Como diz Kirmayr, " tem hora que o importante é jogar a bola do outro lado, do jeito que der".

Por fim, proponha-se a não perder mais ne nhuma oportunidade de praticar o jogo de rede, a começar pelo bate-bola antes das partidas. Não aqueça apenas direita e esquerda . Vá para a frente volear, dar bate prontos e smashes. Aos poucos voc ê deixará de ser apenas "um jogador de f undo" e se sentirá um tenista mais completo. Com isso, o prazer de praticar o t ênis também será muito maior.

Odir Cunha | Fotos Ron C Angle

Publicado em 30 de Outubro de 2006 às 13:55


Instrução - Tática

Artigo publicado nesta revista