Partida antológica

Nadal 'coração de leão' está na decisão do Australian Open contra Federer

Espanhol passa por Dimitrov depois de uma batalha de quase cinco horas e enfrenta o suíço em final histórica




Os cabelos já não são longos. A roupa já não é curta. Mas o coração de Rafael Nadal continua enorme dentro das quadras. O “Homem sem Joelhos” provou mais uma vez que esse jogo não é só sobre bater a raquete na bolinha amarela. Rafa não tem o melhor saque, o melhor forehand não é dele, nem possui o backhand mais impressionante do circuito. Agora, se os quesitos forem coração, raça, entrega, disposição, luta, aí o maiorquino é imbatível. Para ganhar de Nadal, o adversário tem que matar um leão a cada ponto.
 
A grande maioria dos fãs do tênis certamente torcia para que Rafael Nadal vencesse o búlgaro Grigor Dimitrov na segunda semifinal do Australian Open. Muitos imaginavam que seria um jogo difícil, afinal Dimitrov é um jogador extremamente talentoso, discípulo da EFQE (Escola Federer de Qualidade Estética), backhand limpo de uma mão, mecânica de saque parecida com a do suíço, um tenista à moda antiga, um jogador clássico. 
 

Uma partida inesquecível 

Os jogadores entraram na quadra com o retrospecto pesando para o lado de Nadal. Nas oito partidas anteriores, foram sete triunfos do espanhol. No entanto, o último encontro havia acontecido em “Indoor Hard” e o búlgaro levara a melhor em sets diretos, no Aberto de Pequim. Nesse tipo de condições de jogo (quadra dura e sem cobertura), Nadal havia saído com a vitória em duas oportunidades, inclusive no único duelo entre os dois em Grand Slams, no próprio Australian Open. Nas quartas de finais de 2014, vitória de Rafael Nadal por 3-1, de virada (3-6, 7-6(3), 7-6(7),6-2), em três horas e trinta e sete minutos de jogo. 
 
O favoritismo, nos números, para o lado de Rafa se confirmou no primeiro set. Dimitrov teve o seu serviço quebrado logo no quarto game, só conseguindo fazer um ponto nos três serviços seguintes de Nadal. O espanhol sacou no nono game com autoridade e fechou a primeira parcial em 6-3. 

Dimitrov: só perdeu porque era o Nadal  

 
No segundo set, o búlgaro deu o troco, quebrando Nadal também no quarto game. Porém, a história do set foi bem diferente, com mais quatro quebras de saque, sendo três em sequência (do sétimo ao nono game). Nadal então sacava no décimo-segundo game da parcial para levar a partida ao tie break, mas o espanhol fez um péssimo game de saque, sendo quebrado por Dimitrov sem oferecer grande resistência, que empatou o jogo com o 7-5 em seu favor.
 
No terceiro set, os jogadores já começaram a sentir um pouco do desgaste, e Dimitrov teve seu serviço quebrado no quinto game, mas devolveu a quebra logo no game seguinte. Nos seis games seguintes, nenhuma oportunidade de break para qualquer tenista e a decisão do set foi para o tie break. O saque de ambos não entrou da maneira desejada no desempate do terceiro set, e após três mini-breaks de cada lado, o placar marcava 6-5 para Nadal, que confirmou o seu saque, colocando-se em vantagem uma vez mais na partida. 
 
O saque deu as cartas no quarto set. Depois de doze games sem nenhuma oportunidade de break para Nadal e Dimitrov, lá foram os guerreiros resolverem a questão mais uma vez no tie break. Dessa vez, foi Nadal quem abriu os trabalhos no desempate, mas o espanhol cedeu mini-breaks no quinto e no nono pontos. Dimitrov ainda devolveu uma das gentilezas no ponto seguinte, mas fechou o game especial em 7-4 no ponto seguinte. O espetacular público que compareceu à Rod Laver Arena certamente não estava arrependido de um dólar australiano gasto para comprar o ingresso. A segunda semifinal masculina também seria decidida no quinto set.
 

Dimitrov quase vence 

Depois de quase quatro horas de uma batalha tanto física como mental, àquela altura pouco restava de estratégia para os sobreviventes. Quem conseguisse tomar as rédeas de sua condição mental levaria vantagem. Nesse ponto, poucos na história do tênis chegaram perto de Rafael Nadal. O espanhol começou a “beliscar” o saque de Dimitrov já no primeiro game da quinta parcial, levando o game para cinco igualdades, antes da confirmação do búlgaro. Foram três os break points desperdiçados pelo “Toro Miúra”. 
 
O jogo se desenhou para Dimitrov no oitavo game. Nadal sacando em 3-4 e o búlgaro teve dois break points. Nessa hora, todo o nível mental do maiorquino foi testado, e mais uma vez aprovado. Nadal fez quatro pontos seguidos, sobreviveu no jogo e, não satisfeito, ainda quebrou Dimitrov no game seguinte, com apenas um break point. Ali, todos sabiam que a vitória seria do atual número nove do planeta. 

Quase cinco horas de jogo 

 
O décimo game, que deveria ser uma mera formalidade, acabou sendo ainda mais valorizado pela determinação de Dimitrov, que salvou dois match points, antes do inevitável desenlace. Quando o triunfo finalmente tornou-se real, Rafael Nadal se jogou ao chão da quadra central do Melbourne Park, como nos bons e velhos tempos. E quem duvida que esses bons e velhos tempos voltaram ? Nadal é a prova viva que o impossível é somente para aqueles que acreditam que ele existe. Agora, resta-nos contar as horas para o incomparável duelo Nadal x Federer. Obrigado, tênis, por nos proporcionar esse presente de domingo.

 

Por Rodrigo Soares

Publicado em 27 de Janeiro de 2017 às 13:12


Notícias