Mentalize

Técnicas de treino mental facilitam a aprendizagem de habilidades motoras e sua correta aplicação nas horas importantes


Ron C. Angle

"Treino Mental" ou "Mentalização" refere-se à criação de uma experiência na mente. O processo envolve recuperar na memória informações armazenadas de experiências passadas e moldá-las em imagens significativas. Mentalização é, na verdade, uma forma de simulação, ou seja, ver, sentir, ouvir, usando a imaginação. Provavelmente essa é a técnica mais utilizada por atletas de diferentes modalidades.

Inúmeras pesquisas científicas comprovam a efetividade da mentalização na melhora do desempenho esportivo, durante os treinos e nas competições. O treino mental facilita a aprendizagem de habilidades motoras devido à natureza dos padrões de atividades neuromusculares ativados durante o processo de imaginação. Eventos nitidamente visualizados ativam os músculos, assim como o faz a prática física do movimento, porém a intensidade dessa ativação é diferente, por isso não conseguimos senti-las conscientemente.

Por meio do treino mental, seu corpo acredita que você está realmente praticando o movimento; contudo, você está programando seus músculos e preparando seu corpo para atuar posteriormente. Os indivíduos aprendem e desenvolvem habilidades familiarizando- se com o que precisa ser feito para realizá-las com sucesso. Ao criarse um programa motor no sistema nervoso central, forma-se uma espécie de "fotocópia mental" para completar com sucesso o movimento.

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Exemplos

Os atletas russos utilizam treino mental há décadas. Nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, enquanto outras atletas tentavam alcançar a marca mínima para poder passar à final do salto com vara, Yelena Isinbayeva já tinha atingido a altura necessária. Assim, ela estava deitada no gramado com seu uniforme escondendo o rosto, concentrando- se e provavelmente utilizando treino mental para pode executar com precisão seus movimentos na decisão. Ao ver a cena, um narrador de tevê comentou que a russa já sabia que iria ganhar a prova e, por isso, estava tirando um cochilo. Na verdade, a atleta estava se preparando psicologicamente para o salto que lhe daria a medalha olímpica e quebraria o recorde mundial da modalidade.

Outro atleta russo, o ex-nadador Alexander Popov, campeão olímpico e mundial nos anos 90, ganhador de quatro medalhas do ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona e Atlanta, dizia que seu treino era 50% feito na piscina e na sala de musculação e os outros 50% eram de treino mental. Mais recentemente, o técnico do nadador brasileiro César Cielo, Brett Hawke, comentou que, em seu método de treinamento, ele utiliza técnicas de psicologia do esporte, entre elas, o treino mental.

Autoconfiança

O treino mental é utilizado para evitar as distrações nos treinamentos e, principalmente, nas competições, onde é mais provável que os atletas sintam ansiedade, nervosismo e insegurança. Realizar uma mentalização facilita a concentração e atenção, e é fundamental para a adquirir autoconfiança. Os pensamentos positivos são os elementos fundamentais para desenvolver a autoconfiança e para um bom treino mental, pois se imaginar executando suas habilidades corretamente e positivamente faz com que os erros diminuam e os sentimentos negativos sejam minimizados com o tempo.

É claro que todas essa habilidades não são desenvolvidas de uma hora para outra, mas necessitam de treinamento, repetição de rotina e execução constante para que funcione durante os treinos e durante as competições.

"Será que qualquer pensamento vai me ajudar a melhorar a performance?" Aí é que está o erro de muitas pessoas. Não é uma receita de bolo. Alguns métodos servem para uns e não para outros, pois cada pessoa é singular. O que para mim pode ser um pensamento positivo, para outro pode ser irrelevante; cada indivíduo sente, sofre e imagina de uma determinada maneira. Consequentemente, cada atleta deve ter seu modo e seu jeito de apreender o treinamento das habilidades psicológicas no esporte.

Rodrigo S. Falcão

Publicado em 23 de Março de 2010 às 08:32


Instrução - Mental

Artigo publicado nesta revista