Gabriel dias

Menino de sorte

O juvenil Gabriel Dias viveu momentos de sonho no Australian Open e chegou a ser disputado por Federer e Nadal


O tênis se encontra dividido por dois atletas especiais que simbolizam o sucesso no esporte a partir de estilos quase opostos dentro das quadras. Rafael Nadal é uma representação rara da união entre força física, mental e gana de vitória. Roger Federer representa o talento natural e o requinte técnico. Quem ama o tênis, invariavelmente, se encanta por um destes gênios, ou até mesmo por ambos.

Imagine acompanhar de perto a preparação deles para a fase decisiva de um Grand Slam. Mais, pense que você pode participar dos treinamentos e bater bola com eles. Para completar, os dois vão disputar para fazer um novo treino com você no dia seguinte. Um sonho, não?

Arnaldo Grizzo

Sonho que virou realidade para o brasileiro Gabriel Dias, 17 anos. Pente, como é conhecido no circuito, viajou para Melbourne na última hora, quando soube que teria o dinheiro do patrocinador para participar do Australian Open juvenil. No torneio, conseguiu passar pela estreia, mas foi derrotado na segunda rodada pelo australiano James Duckworth. No entanto, a melhor parte de sua temporada na Austrália ainda estava por vir.

"Estava assistindo ao Nadal treinando com alguém da comissão técnica dele, mas o cara não estava dando muito ritmo para ele. Aí, ele viu que eu era juvenil e me chamou. Mas estava muito quente e o Toni (tio e treinador) falou que ele não ia mais treinar naquele dia, só ia fazer alguns drills. Ele ia jogar com o Verdasco e o meu treinador falou que eu era canhoto. Então, ele marcou para o dia seguinte. Chegamos às quatro da tarde, ele ia entrar na quadra às 7h30. Foi o aquecimento antes do jogo.

Mas o aquecimento do Nadal... (risos) é muito forte", conta Gabriel. "É impressionante o tanto que a bola gira. Fica desconfortável. Tive que ir um pouco mais para o fundo porque senão ia atrasar as bolas".

Enquanto Nadal foi para quadra encarar a maratona de mais de cinco horas contra Verdasco, o brasileiro, ainda deslumbrado com o que tinha vivido, recebeu um novo convite: treinar com Federer. Topou sem pestanejar. "Umas três rodadas antes da final, meu técnico, Hugo Daibert, falou com o técnico do Federer que, se precisasse de um canhoto, a gente estaria à disposição", explicou Pente. "Quando fui conhecêlo, ele chegou e falou "Hi! Nice to meet you, I'm Roger" (Oi! Prazer em conhecê-lo, eu sou Roger), como se eu não o conhecesse. E deu uma risadinha meio irônica. Aí comecei a rir também".

No treino, a facilidade do suíço em colocar a bola onde queria foi o que mais impressionou o juvenil. "Ele dava uns winners que passavam muito perto da linha, no canto da quadra. Impossível de chegar na bola. Ele bate muito fácil e é muito gente boa".

No dia seguinte, para confirmar o sucesso no treinamento dos ídolos, os assessores dos tenistas tiveram que negociar quem ia bater bola com o juvenil. "O tio do Nadal falou que, se ele vencesse o Verdasco, a gente ia treinar novamente. Mas, depois que treinei com o Federer, ele marcou um horário no outro dia e o Nadal estava jogando.

Aí, treino marcado com o Federer e chega o Nadal no clube, na hora. Aí ficou o assessor de um conversando com o do outro e no fim treinei com o Federer que precisava mais de um canhoto".

Admirador dos dois tenistas, a simpatia de Federer rendeu a torcida do brasileiro por uma vitória do suíço na final do Aberto da Austrália 2009.

Rodrigo Linhares

Publicado em 3 de Março de 2009 às 07:13


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista