Mais respeito com meu ícone e ídolo

Fico extremamente irritado quando leio notícias negativasa respeito de Gustavo Kuerten


PESSIMISMO. Segundo a enciclopédia virtual Wikipedia, "sinônimo de pensamento negativo". Seja no futebol, basquete, atletismo, vôlei, a imprensa brasileira parece sempre encontrar uma forma de desvalorizar as conquistas dos nossos atletas e/ou seleções. Se estão no topo são os deuses, mas quando passam por momentos difíceis em suas carreiras, viram sinônimo de fracasso. Quando o assunto é tênis, só escuto falar de trapalhadas da CBT, falta de patrocínio e incentivo aos jovens talentos ou crise no time da Copa Davis. Como podemos levantar nosso esporte em um ambiente tão pessimista?

Nós, brasileiros, alimentamos essa insaciável fome de fabricar novos ídolos, mas quando aparece um, teimamos em encontrar defeitos nele e fazemos questão de jogá-lo ao fundo do poço. Quer exemplos? Que tal Ronaldo, o maior goleador de todos os tempos em Copas do Mundo, sendo chamado de gordo às vésperas da estréia da Seleção na Alemanha? Ou o então "aposentado" Fernando Meligeni quando viajou a Santo Domingo para disputar seu último Pan- Americano?

Os melhores tenistas de todos os tempos não viveram só de conquistas e momentos de glória. O australiano Rod Laver, o sueco Bjorn Borg, Pete Sampras e Andre Agassi passaram por momentos difíceis ao longo de suas carreiras. Por ser um eterno amante do tênis, pelo fato de que esse magnífico esporte me proporcionou tudo o que tenho na vida, fico extremamente irritado quando leio notícias negativas em relação ao nosso grande ídolo Gustavo Kuerten.

Poucos parecem notar que o nosso esporte tem o atleta que indiscutivelmente é um dos maiores ícones do esporte brasileiro de todos os tempos. Guga, que completou 30 anos em 2006, continua sua luta para voltar a apresentar o seu melhor jogo e trazer alegrias pra esse povo tão carente de ídolos.

UM BRASILEIRO EXEMPLAR São pouquíssimas as modalidades esportivas que tiveram um atleta brasileiro melhor do mundo (não eleito o melhor, mas de fato o melhor, o número um do ranking). Não existe ninguém que possa dizer se Guga voltará ou não ao grupo do 50 melhores até o fim de 2007; nem ele mesmo. Em contrapartida, sua força de vontade e amor ao esporte jamais devem ser colocados em questão.

Guga não só venceu muitos dos mais importantes torneios do planeta, mas também cativou platéias das mais diversas culturas e até hoje segue sendo um dos atletas mais queridos do circuito. Suas façanhas dão inveja a outros países com mais tradição no esporte: Guga ocupou o primeiro lugar do ranking durante 36 semanas, façanha jamais igualada por outro tenista sul-americano; ele também venceu mais títulos de ATP do que todos os outros brasileiros juntos.

Um exemplo dentro e fora da quadra, Guga ajudou a levantar a imagem dos brasileiros no exterior, hoje e sempre machada pela corrupção política e falta de competência das autoridades. Guga será para sempre um eterno vencedor, um exemplo a ser seguido.

Os grandes campeões são aqueles que têm a humildade de começar do zero mesmo quando já não precisam provar mais nada para ninguém. Guga certamente se enquadra no seleto grupo dos atletas que continuam competindo simplesmente por amor.

Luiz Fernando Procópio de Carvalho é gerente de operações de marketing da ATP. lcarvalho@atptennis.com
Luiz Fernando Procópio De Carvalho

Publicado em 6 de Fevereiro de 2007 às 06:56


Coluna/Análise

Artigo publicado nesta revista