Lição de casa: tênis nas escolas

Levar a prática do tênis para as escolas é um bom começo para popularizar o esporte, mas é preciso pensar adiante


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O PRIMEIRO CONTATO DA CRIANÇA com o handebol, vôlei e basquete é na escola. O futebol, caso à parte: a grande maioria dos meninos brasileiros é incentivada a chutar bola desde que... Bem, desde que conseguem sustentar-se em duas pernas. Então, será que o fato de essas modalidades serem amplamente praticadas nas escolas ajuda em sua popularização?

Se pensarmos na quantidade de títulos mundiais, pan-americanos e sul-americanos que o Brasil já alcançou nessas modalidades coletivas, versus os títulos mundiais conquistados no tênis, e também em número de praticantes desses esportes em nosso país, podemos concluir que o fato de estarem presentes nos programas de Educação Física das escolas ajuda, sim, e muito.

O primeiro contato da criança com o tênis na escola é um sonho antigo de vários treinadores e professores brasileiros há mais de uma década. Patrícia Medrado, ex-tenista profissional e uma das pioneiras desse movimento no Brasil, iniciou um projeto por iniciativa própria em 1996. Na época, com o empurrão do ídolo Guga vencendo seu primeiro Roland Garros em 1997, o projeto ganhou bastante repercussão na mídia.

Na esteira dessa ação, muitos professores encamparam seus projetos Brasil afora, todos por iniciativa privada, com pouca ou nenhuma ajuda dos órgãos educacionais e esportivos do País. Professores mais engajados conseguiram apoios de prefeituras aqui e ali, mas ainda não com o apoio maciço do Ministério dos Esportes.

Há dois anos, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) deu um passo importante ao iniciar seu programa "Jogue Tênis nas Escolas", e tem, até o momento, dado um suporte principalmente informativo e de formação aos professores interessados. O projeto é ousado em sua concepção, mas ainda esbarra em questões de apoio financeiro e logístico.

Enfim, qual a lição de casa que precisa ser feita?

FILOSOFIA BEM COMPREENDIDA
O trabalho esportivo nas escolas deve ter caráter educativo e de formação, respeitando as características e necessidades das crianças, e estar alinhado com a orientação pedagógica da entidade. O professor que conduz o programa deve compreender sua responsabilidade de educador para a vida através do tênis. Valores caros à sociedade como respeito, disciplina, cooperação e autonomia devem ser estimulados no programa.

Ao mesmo tempo, o professor pode ter o olhar clínico para detectar talentos e encaminhá-los para centros de tênis que possam continuar a estimular o desenvolvimento da criança no esporte. De qualquer modo, a prática inicial deve ser inclusiva, com atividades progressivas que permitam que todas as crianças tenham sucesso em suas tarefas. Essa primeira experiência positiva da criança é muito importante para sua continuidade no tênis (e, aliás, em qualquer atividade física).

FORMAÇÃO AMPLIADA
No Brasil, a modalidade tênis está em poucas Faculdades de Educação Física e Esporte. Mas foram os professores com curso superior em Educação Física e Esporte ao redor do mundo que revolucionaram a maneira de ensiná-lo. Bolas mais lentas, quadras proporcionais, raquetes mais leves e exercícios progressivos com ênfase em tarefas cooperativas e desafiadoras fazem com que todos experimentem o jogo no primeiro dia de aula.

É preciso que se perca o medo de lidar com grupos grandes de alunos com raquetes na mão: aulas com dinâmicas cooperativas alternadas com competitivas fazem a festa das crianças. Agora, o professor precisa estar bem formado e preparado: além do curso superior endereçar com mais carinho e profundidade modalidades de raquete, é importante estar por dentro do que há de mais moderno em ensino de tênis pelo mundo, e a porta para isso no Brasil são os cursos de capacitação e de especialização. Mas ainda é pouco: queremos o tênis na graduação já.

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MATERIAL ESPORTIVO SEM IMPOSTO
Se as raquetes e bolinhas podem ser encontradas mais baratas do que nunca, inclusive em grandes cadeias de lojas esportivas e até em supermercados nas regiões Sudeste e Sul do país, sabemos que ainda há muita lição de casa a ser feita. A distribuição para os estados do Norte e Nordeste do Brasil é fraca.

Os impostos cobrados em material esportivo importado pretendem incentivar a produção local. Ok. Mas material esportivo, musical, artístico e educacional distribuído rapidamente a preços acessíveis deveria ser prioridade nacional.

CONTINUIDADE DO PROGRAMA NAS QUADRAS PÚBLICAS
A criança experimenta o tênis, gosta e quer jogar mais, em quadra de tamanho oficial. E agora? O Programa da CBT indica a participação de "Células Receptoras", que são academias de tênis no bairro das escolas que possuem tênis escolar, e que podem receber alunos interessados em seguir se desenvolvendo na modalidade a preços razoáveis.

Mas, quadras públicas em grande número são fundamentais para o processo. Nosso Centro de Treinamento parece ser um sonho menos distante com a mudança do Brasil Open para São Paulo. Podemos iniciar um movimento para riscarmos mais linhas de quadras de tênis nas poliesportivas já existentes. E nos estacionamentos de shoppings?

OPERACIONALIZAÇÃO
Marcadores de quadra, miniredes, bolas lentas, raquetes menores, planejamento aula por aula. Em uma quadra poliesportiva podemos atender até 24 crianças de uma vez, com, no mínimo, 12 raquetes, 12 bolas vermelhas (75% mais lentas) e 12 arcos. O professor pode ter ajuda de um professor estagiário assistente, auxiliando as orientações e cuidando da segurança das crianças.

Se a quadra tiver redes protetoras de contenção de bolas, melhor, mas usar poucas bolas em atividades cooperativas tem dado resultados animadores para o aprendizado e para a organização das atividades. Na falta de raquetes de tênis, podemos usar raquetes de madeira; na falta de redinhas, fitas plásticas ou elásticas presas na tela.

ORGANIZAÇÃO DE DISPUTAS
Um festival interno no final do bimestre ou semestre do curso é fundamental para manter a motivação de aprender. Ensinamos um jogo: é importante jogar. Agora, as crianças também amam representar a escola em torneios interescolares. Lá desenvolvem seu espírito de equipe, conhecem mais crianças para praticar fora das aulas, enfim, uma festa de tênis. Para organizar o tênis escolar é preciso, antes de qualquer coisa, de boa vontade. Professores de Educação Física que não foram tenistas no passado têm dado grande contribuição ao processo, capacitando-se para a iniciação da modalidade. O que estamos esperando?

Suzana Silva

Publicado em 16 de Novembro de 2011 às 13:57


Juvenil/Capacitação

Artigo publicado nesta revista