Jelena Jankovic

Sólido jogo de fundo,incrível rapidez, defesas impossíveis,espacatos para pegar bolas inalcançáveis. Jelena Jankovic faztudo isso e ainda sorri


Ron C. Angle/BEIMages Sport

Tênis é um esporte duro. Viagem atrás de viagem. Jogos quase todos os dias. Vida extremamente regrada. Adversários querendo a sua cabeça. É possível se divertir? A sérvia Jelena Jankovic prova que sim. A moça vive sorrindo, dentro e fora da quadra. Mas do que ela ri tanto?

O estilo de jogo de Jankovic contrasta com sua personalidade. A alegria e vivacidade dão lugar a um sólido jogo de base, muitas vezes defensivo, mas seguramente tático. Para muitos, especialmente suas rivais, esse é um jogo chato, que rende à sérvia a pecha de "devolvedora". Outros ainda pensam que seus sorrisos são falsos. O que ela acha disso tudo? Ela ri. Mesmo antes de se tornar número um - pela primeira vez em agosto, devido mais aos altos e baixos do circuito feminino que a seus próprios méritos, e mais recentemente com todos os louros depois de conquistar três títulos seguidos (Pequim, Stuttgart e Moscou) -, ela já vivia sorrindo. "Agora, talvez esteja rindo um pouco mais", brinca.

A jovem de 23 anos é mais um fenômeno da Sérvia, como Novak Djokovic e Ana Ivanovic. Como seus compatriotas, Jankovic também precisou deixar o país para se tornar uma campeã. Assim, a garota seguiu os passos da tenista que venerava na infância, Monica Seles (retratada nesta edição), e foi treinar na academia de Nick Bollettieri. Aos 16, era número um juvenil. Dois anos depois, estava entre as 100 do mundo.

Desde então, a sérvia já era conhecida pela velocidade e resistência de suas pernas, fruto do trabalho com o gênio da preparação física Pat Etcheberry (com quem também conversamos neste mês). Sua condição atlética é invejável. Quem assiste a seus jogos vê defesas espetaculares e até mesmo alguns passos de ginástica para alcançar bolas impossíveis. Vencê-la no fundo de quadra é uma dura missão. No ano passado, Jankovic entrou definitivamente para o top 10 e seu sorriso ficou cada vez mais evidente. Em 2008, sem ser brilhante, mas sempre regular, foi premiada com o número um. No US Open, teve a chance de se consagrar, mas foi derrotada por Serena Williams na final. Porém, menos de um mês depois, a moça fez campanhas excepcionais (com três títulos em três semanas) que lhe devolveram a liderança do ranking e assegurou a posição até o fim desta temporada. Inabalável e incansável. Assim parece ser a natureza da sérvia. Mesmo em meio a esta formidável seqüência de jogos, ela ainda foi capaz de conceder esta entrevista. Ah, e sempre com um sorriso no rosto.

Você se diverte mesmo em todas as partidas?

Realmente desfruto do meu tênis. Considero um privilégio ter de fazer algo que amo todos os dias. Óbvio que, quando estou perdendo, você talvez não me veja sorrir, mas geralmente tenho uma perspectiva positiva da vida e algumas vezes expresso isso na quadra.

Você já pensou em fazer comercial para alguma companhia de creme dental?

Com certeza! O número de marcas que me patrocinam está aumentando. Amo relógios, moda, jóias, portanto, talvez no futuro você me veja promovendo outras marcas. Gosto de escolher marcas que reflitam o meu estilo, minha personalidade - elas têm que se encaixar bem com a minha imagem para fazer sentido.

O que acha que vai acontecer com o tênis sérvio de agora em diante? Vai continuar produzindo novos campeões?

Acho que é algo bem excepcional o que está acontecendo atualmente com o tênis sérvio. Não sei qual é a fórmula exata, mas definitivamente acredito que os jovens da Sérvia agora possuem algo em que se espelhar. Eles podem ver que seus sonhos podem se realizar e isso deveria motivá-los a treinar mais duro. Não há grandes estruturas de tênis lá, mas as coisas estão melhorando lentamente e espero que vejamos mais tenistas surgindo.

``O tênis feminino tem se tornado um jogo de força e acho que é difícil que apenas uma jogadora domine completamente``

Você acompanhava os jogos de Monica Seles quando criança? O que acha dela?

Assistia à Monica quando estava crescendo e sempre fui uma grande fã dela. Ela foi uma grande lutadora e levou o tênis a outro nível. É uma grande campeã e seguramente me inspirou a jogar tênis.

Qual o segredo do tênis sérvio? Por que Ivanovic, Djokovic e você alcançaram as primeiras posições quase ao mesmo tempo?

Isso é muito difícil de dizer. Não acho que tenha um grande segredo. Todos nós trabalhamos duro. Não damos nada como certo e isso é o nosso melhor. Acho que os sérvios produzem grandes atletas - temos bons times de futebol e handebol. Produzimos ainda bons jogadores de basquete, então, somos uma nação esportiva orgulhosa.

Como treinar com Nick Bollettieri ajudou o seu tênis? Quais ensinamentos você guarda ainda hoje?

Nick treinou vários dos melhores tenistas do mundo e sou grata pelo tempo que passei na academia dele. Lá havia muitas oportunidades de bons treinos para mim. Nick tem muita experiência e ele havia estado no topo antes, então, ele sabe o que é preciso para estar lá em cima. Ele sempre encorajou uma atitude positiva e mantenho isso ainda hoje.

Bollettieri disse que você poderia dominar o tênis feminino. Você acha que pode?

Bem, sou a número um hoje, então, acho que posso! Há muitas boas jogadoras e será difícil defender minha posição. O tênis feminino tem se tornado um jogo de força e acho que é difícil que apenas uma jogadora domine completamente. Vou apenas manter meu foco em jogar duro e esperar que isso continue valendo a pena.

Incomoda quando as pessoas dizem que você é uma "devolvedora"?

De maneira nenhuma. Minha velocidade dentro da quadra é uma grande vantagem. Isso me ajuda a sair de situações difíceis. Trabalho duro na minha agilidade, mas também me foco em outras coisas. Meu saque está melhorando e tenho acrescentado força aos meus golpes de base.

Você acha que sua velocidade e trabalho de pernas são a melhor parte do seu jogo?

Tenho um bom backhand paralelo. Meu timing é bom e sou consistente. Estou usando a quadra de uma melhor forma atualmente, mas, sim, meu trabalho de pernas é a minha maior força. Sempre fui muito rápida naturalmente, mas ainda trabalho na minha velocidade, pois, neste nível, pequenas diferenças fazem uma grande diferença.

Quais são suas metas após alcançar o número um?

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fotos: Ron C. Angle/BEImages Sports

Permanecer com ele! Óbvio, ganhar um Grand Slam é uma prioridade. Só quero continuar ganhando torneios e permanecer saudável.

Ser famosa incomoda?

Não, isso é apenas resultado do que você está fazendo. Algumas vezes, depois de um dia longo quando você esteve viajando ou jogando uma partida complicada, você quer apenas relaxar, mas há muitas coisas boas em ser famosa também e sou grata por isso.

Você se incomoda quando as pessoas lhe comparam com Ivanovic?

Acho que é normal que as pessoas nos comparem, mas não penso nisso tanto assim. Ela é quem é e eu sou quem sou. Nós nos respeitamos e pressionamos uma a outra para nos sairmos bem.

O que você pensa dela? Você a considera uma amiga?

Respeitamos uma a outra e viemos do mesmo país. Ambas queremos ser o melhor que pudermos. Nos vemos muito no circuito, mas, nos períodos de descanso, gosto de pensar em outras coisas que não o tênis.

``Minha velocidade dentro da quadra é uma grande vantagem. Isso me ajuda a sair de situações difíceis``

Ivanovic disse que há muita inveja no circuito feminino. Você também sente isso às vezes?

Algumas vezes há ciúmes, mas não perco muito meu tempo com isso. Apenas faço meu trabalho o melhor que posso. Nem sempre você pode controlar o que as pessoas pensam ou dizem, mas tento me representar da melhor maneira possível.

Você acha que a beleza é importante?

Não é tudo, mas certamente ajuda! Acho que todas as garotas gostam de se sentir bonitas, isso é normal.

Você é vaidosa?

Não diria que sou vaidosa, mas gosto de cuidar de mim mesma. Acho que é importante. Não vou passar horas na frente do espelho e quando você joga uma partida de três horas, nem sempre estará preocupada com sua aparência!

Você se considera um símbolo sexual?

Para algumas pessoas, talvez. Algumas vezes, as pessoas da plateia me pedem em casamento e penso: "Mas não te conheço", então apenas rio!

Você parece muito espontânea durante as entrevistas. Você é assim mesmo?

Sou amigável. Gosto de me expressar. Você deveria ver nossos jantares em família - eles são muito animados! Nunca tentei ser algo que não sou. Tento e permaneço verdadeira e faço as pessoas rirem - como eu.

Você sempre viaja com sua mãe?

Nem sempre, mas várias vezes. Somos uma família unida e ela sempre me apoiou muito durante toda a vida. Sem minha família, não estaria onde estou hoje.

Você ainda está solteira?

Agora isso é um segredo! (Semanas antes ela teria admitido o namoro com o jogador de pólo aquático de Montenegro, Mladjan Janovic)

Como seu "príncipe encantado" deve ser?

Alguém que goste de esportes, legal e inteligente. Não é isso que todas as garotas querem?

Não é difícil sair com alguém com sua mãe sempre do seu lado?

De maneira alguma. Difícil é quando você viaja tanto durante o ano. É duro ter uma vida normal. Com viagens constantes, o que faz para relaxar? Algumas vezes as viagens são muitas, mas acho que tenho que aceitar isso. Pode ser difícil lidar com o jet-lag, especialmente quando você tem que jogar em seguida. Estou tentando chegar ao final desta temporada e, então, espero ter algumas semanas de folga. Não há muito tempo para relaxar, mas geralmente me escondo no quarto do hotel quando preciso descansar.

Você ainda toca piano? (ela tocava na infância)

Não tenho mais tempo para isso, mas talvez, depois que me aposentar, volte a tocar.

Jelena Jankovic

Nascimento
28 de fevereiro de 1985,
em Belgrado, Sérvia
Altura e peso
1,77m e 59kg
Melhor ranking
1 º em simples (11/08/08)
43º em duplas (06/11/06)
Família
l Snezana, mãe
l Veselin, pai
l Marco e Stefan, irmãos
Apelido
J.J ou Jeca

Como você se descreveria dentro e fora da quadra?

Ron C Angle Productions/BEImages Sports

Da mesma maneira que você me vê na quadra. Gosto de me divertir. Gosto de boas conversas.

Qual a melhor viagem da sua vida?

Amo conhecer novos lugares. É muito divertido viajar para todos os Grand Slams. Particularmente, gosto da Austrália, por causa das pessoas. Fazer compras em Nova York e Los Angeles também é muito divertido.

Qual a coisa mais estranha que um fã já fez?

Pedir para que me casasse com ele na quadra!

Você é jovem e já ganhou muito dinheiro. O que o dinheiro significa para você?

Não jogo por dinheiro. Jogo porque amo o esporte. É claro que ganhar dinheiro é legal. Ser capaz de comprar coisas legais é algo que gosto, mas isso não é o mais importante. Através de ações de caridade, também gosto de devolver dinheiro para quem precisa.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 6 de Novembro de 2008 às 13:48


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista