Irmãzinha?

Aos 23 anos, Dinara Safina está no auge. Apesar de muitos falarem da "sombra de Marat", a russa, na verdade, fugiu é da sombra da mãe


"Existem alguns momentos", diz Dinara Safina, "em que você quer quebrar todas as raquetes e mandar tudo para o inferno". Às 4h da manhã do dia 16 de agosto de 2008 , em Pequim, Safina teve um desses momentos. Ela tinha perdido o jogo de duplas nas Olimpíadas para Yan Zi e Zheng Jie, a dupla querida dos chineses, e em 12 horas, depois estaria na mesma quadra, enfrentando outra chinesa, Li Na, e tentando ignorar outros 10 mil fãs que não se importariam se a russa perdesse um ponto na semifinal de simples.

Com essa pequena reviravolta, Safina ficou com medo de não estar em seu melhor e imaginou se os organizadores do torneio estariam favorecendo o time da casa. Este pensamento a deixou irritada. "Estava chorando e disse: 'Eles querem tirar a medalha de mim'," relembrou durante um dia de folga no Australian Open, em janeiro. "Sabia que poderia vencer essa garota se estivesse descansada.

No dia seguinte, fui para a quadra tão brava, estava tipo 'Você não vai tirar essa medalha de mim', porque se chegasse à final; seria, pelo menos, medalha de prata. Quando estava na quadra, estava tipo 'Você não vai me tirar isso'". Dinara venceu Li em dois difíceis sets, mas perdeu a medalha de ouro numa dolorosa final para a compatriota Elena Dementieva (Safina fez 17 duplas-faltas em três sets).

O ouro teria sido melhor, mas muito mais importante que a medalha foi a confiança que Safina, com 23 anos, levou de Pequim. Ela disse para si mesma que não ia perder - ela não poderia perder - aquela semifinal, e não perdeu. Foi a prova maior de que a esguia tenista de 1,80 m - agora duas vezes finalista de Grand Slam (Roland Garros 2008 e Australian Open 2009) - tinha se encontrado, tanto dentro quanto fora da quadra.

Vamos fazer uma pausa para deixar uma coisa clara: essa não é outra história "Dinara sai da sombra de Marat", sobre a irmãzinha do complicado e belo Safin. Esse tema já é bem batido - apesar da imprecisão -, já que o irmão mais velho tem feito cada vez menos sombra nos últimos quatro anos.

fotos: Ron C. Angle/TPL
"Você não vai tirar essa medalha de mim"


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"Esse é o jeito dela. Ela pode ser teimosa e, às vezes, leva cinco horas para terminar alguma coisa"

Longe da mãe

Quando a russa tirou alguns meses de folga no começo de 2008 - "só para ver o que queria", diz - não precisava escapar do irmão, ou da reputação dele. Pelo contrário, ela precisava ser mais como ele e seguir seu próprio caminho. Para Safina, isso significou tempo longe de sua mãe - famosa por ser durona - a técnica Raouza Islanova, que costumava viajar com ela e aconselhá-la, e, parece, dirigir sua fúria. Como Safin, Safina teve que tomar suas próprias decisões e aceitar a glória ou a derrota, independentemente do que acontecesse. Aos 21, era a hora de parar de ser criança.

A primeira, e melhor, coisa que a russa fez foi contratar Zeljko Krajan, um extenista croata recomendado por Ivan Ljubicic, para ser seu técnico em tempo integral. Krajan, que se aposentou da turnê aos 24 anos depois de uma lesão no ombro, estava treinando adolescentes na Alemanha. Ljubicic descreve Krajan como alguém "por quem colocaria a minha mão no fogo", um cara gente boa com muita paciência. Krajan nunca tinha treinado um profissional antes e também nunca treinou uma mulher. Ele certamente nunca tinha treinado ninguém como Safina.

"Ela sempre precisa ir pelo menor espaço", diz Krajan, apertando seus dedos bem juntos para enfatizar o que diz. "Esse é o jeito dela. Ela pode ser teimosa e, às vezes, leva cinco horas para terminar alguma coisa, mas acho que essa é uma coisa em que sou bom."

Safina e Krajan se conheceram no outono de 2007 e começaram a trabalhar juntos depois do Australian Open do ano passado, em que Safina perdeu na primeira rodada para Sabine Lisicki, então 194a do mundo. A russa estava no top 20, mas o treinador diz que, quando eles iniciaram o trabalho, ela começou do zero, tanto física quanto - e mais importante - mentalmente. "Ela não acreditava em mais nada", diz Krajan.

O treinador trouxe Dejan Vojnovic, um corredor olímpico aposentado, como preparador. Safina também consultou um médico em Moscou, que melhorou sua dieta. O progresso foi gradual. Só em abril, quando venceu Lindsay Davenport no Masters de Miami, ela começou a jogar com convicção. Em maio, ela conseguiu um título no saibro de Berlim, ao vencer Justine Henin, Serena Williams e Elena Dementieva.

Um mês depois, jogou sua primeira final de Grand Slam, em Paris, e então ganhou dois torneios em quadra rápida - em Los Angeles e Montreal - antes das Olimpíadas. Safina manteve a boa performance com uma semifinal no US Open e sua segunda final de Major, no começo deste ano, no Australian Open, quando escapou de alguns apuros na primeira rodada antes de ser destruída por Serena Williams na final. Apesar dessa derrota vexatória, a russa acredita que Krajan pode ajudá-la a atravessar os problemas que vêm pela frente.

Longe da mãe mesmo

fotos: Ella Ling/RCA Productions

"Só quero deixar claro que a minha mãe não tem mais nada a ver com o meu tênis", diz Safina. "Krajan é o meu técnico e não tem mais ninguém autorizado a me falar qualquer coisa. Se alguém mais se envolver, só vai bagunçar as coisas."

Safina diz que ainda é chegada à sua mãe - ela até mora com os pais durante as raras semanas em que está em Moscou. Mas ela não podia aceitar sua mãe sendo "mãe e técnica", e não só porque sua progenitora lhe causava estresse, ou porque ambas dividem as mesmas características (as duas são sensíveis às críticas, tímidas e propensas a explosões de raiva). Safina descreve isso como um problema comum entre mãe e filha, não um problema Raouza-Dinara.

"Com um pai, você pode conversar mais facilmente, você pode dizer algo como: 'Pai, por favor, fica quieto, não me fala nada,'" diz Safina. "Se você fala isso para uma mãe depois que o jogo terminou, é: 'Ah, você não pode me falar isso!' Hoje é muito mais fácil porque não tenho mais essa pressão."

Existem outras pressões, claro, e a maior é aquela que cresce - com velocidade alarmante - em sua cabeça e tortura sua expressiva mente, e que parece ser um prérequisito dos membros do clã Safin. Krajan diz que quando a russa treina, ele normalmente tem pouco a dizer, porque ela bate bem na bola e com força, e saca bem.

Durante os jogos, quando ela não faz nenhuma dessas coisas direito, Krajan assiste desacreditado. Como Safina disse em Melbourne, ela, às vezes, deseja que alguém "bata muito forte na minha cabeça para que finalmente alguma coisa se mexa lá dentro e os fios voltem para o lugar." Mas este não é o estilo de seu treinador. Em vez disso, ele apenas a ouve.

"Ela realmente precisa de alguém que conheça todos os seus problemas e que possa ouvi-la o tempo todo", diz Krajan. "É o único jeito que as coisas funcionam para ela."

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ron C. angle/tpL
"tento não copiar ninguém. Eu sou eu mesma"

Apesar de ser alta e forte como seu irmão, safina não tem o mesmo talento com a raquete. Ela precisa de mais tempo para ajustar seu golpe de direita e o saque (com seu toss muito alto e desenvolvimento lento), que não são tão confiáveis (poucos saques na história do tênis foram tão confiáveis quanto o do seu irmão). Ela também não tem a presunção de Marat. tão frequente quanto as emoções de safin causavam-lhe derrota, quando ele estava no auge, você raramente não sentia que ele acreditava totalmente que era o jogador mais talentoso, não importava o oponente. safina não tem essa atitude.

Isso a prejudica em quadra, especialmente contra jogadoras mais confiantes como venus e serena williams, mas, fora da quadra, isso a torna mais atraente que a maioria das atletas. sua inteligência, destreza e comportamento agradável apareceu muito mais no ano passado. safina não bebe, não fuma e não vai a festas. quando alguém perguntou, durante o australian open, se ela planejava encher o seu camarote com namorados algum dia - como Marat fez uma vez em Melbourne com mulheres mais tarde apelidadas de "safinettes" -, ela respondeu: "não, não sou esse tipo de pessoa." "tento não copiar ninguém. Eu sou eu mesma", ela diz. "nunca vou tentar ser falsa. sou verdadeira, sou uma garota verdadeira."

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Tom Perrota

Publicado em 28 de Maio de 2009 às 12:45


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Artigo publicado nesta revista