Guga para sempre

Guga para sempre

Foto: Gabriel Biancini

NA ERA DA MÍDIA GLOBALIZADA, quando alguém se torna um ídolo, vira ídolo no mundo todo. Foi o que aconteceu com Guga. O carisma do catarinense é tão grande que ele não é unanimidade somente no Brasil. Em sua despedida de Roland Garros em 2008, por exemplo, tivemos a oportunidade de entender o fenômeno Guga no mundo.

No primeiro dia em que pisou no complexo de tênis parisiense, foi treinar na Philippe Chatrier - prestígio concedido somente aos principais tenistas do mundo na­ época, como Federer, Nadal e outros poucos "escolhidos". Assim que seus longos gemidos eram ouvidos do lado de fora da quadra, um grupo de fãs se aglomerava nas portas vazias do estádio para ver um pouco do último treino do tricampeão. Ele treinou, distribuiu autógrafos, falou com jornalistas, rotina normal de um vencedor.

No dia do jogo derradeiro contra o francês Paul Henri Mathieu, em uma primeira rodada sonsa, sem grandes nomes em quadra, ainda assim a casa estava cheia. Bandeiras do Brasil espalhadas, o nome Guga escrito em cartazes, roupas e até no corpo das pessoas. Ovação na entrada do brasileiro. Durante a partida, os ­gritos de "Gugá" emergiam do meio da plateia. Somente algumas poucas crianças francesas - que certamente não tiveram tempo de compreender a grandeza do brasileiro - soltavam um "Allez Paulo" (que é como eles chamam Mathieu).

Antes do último game, uma ola quase interminável. Antes do último ponto, uma ovação de arrepiar até os mais insensíveis. Chegava ao fim a carreira de um­ ídolo com o qual todos os brasileiros e outros milhares cidadãos do mundo, em­ algum momento, se identificaram. Todo mundo tem uma história com Guga. Todos lembram de suas principais vitórias, dos principais acontecimentos de sua vida tenística. Cada um guarda um pouco dele na memória. "Lembra daquele jogo?" "E aquele ponto, você viu?"

Agora, a memória de Guga dá mais um passo rumo à eternidade, com seu ingresso (precoce, pode-se dizer) no Hall da Fama. Seu nome se junta ao da muitas vezes esquecida Maria Esther Bueno - única outra representante nacional numa lista extremamente restrita -, mas também de mais gente que só lembramos ao consultar os livros de história. Enfim, esse foi mais um atestado de que o nome "Kuerten, Gustavo" estará sempre na lista dos maiores de todos os tempos.

Bom jogo!
Arnaldo Grizzo e Christian Burgos


Editorial

Artigo publicado nesta revista